Por Memória Globo

Renato Velasco/Memória Globo

Debora Bloch estreou na Globo em 1981, aos 18 anos, com a personagem Lívia na novela 'Jogo da Vida', com a qual ganhou o prêmio de atriz revelação da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). O contato com as artes cênicas, no entanto, começou em casa. Ainda pequena, acompanhava o pai, o ator Jonas Bloch, a ensaios e montagens de peças teatrais no Rio de Janeiro e em São Paulo. Enquanto dava os primeiros passos na TV, fazia também cinema e teatro. Sua versatilidade foi confirmada com a estreia do humorístico 'TV Pirata' (1988), quando provou o talento para o humor ao interpretar diferentes personagens em uma série de esquetes e quadros fixos. A partir de então, atuou em programas de sucesso, entre novelas, minisséries, especiais e humorísticos.

Depoimento de Debora Bloch ao Memória Globo em 14/06/2017 — Foto: Frame de vídeo/Globo

Sou uma atriz inquieta, estou sempre buscando, tentando me reinventar. A Fernanda Montenegro tem uma frase que eu adoro: ‘Os primeiros 20 anos são fáceis, depois é que são elas…'

Início da carreira

O contato inicial com as artes cênicas começou em casa. Ainda pequena, Debora Bloch e a irmã acompanhavam o pai, o ator Jonas Bloch, a ensaios e montagens de peças teatrais no Rio de Janeiro e em São Paulo. Na lembrança, ela guarda muitas imagens de coxia. Aos sete anos, viu o pai lutar esgrima com Walmor Chagas no quintal de sua casa, em São Paulo, durante um ensaio de Hamlet. A peça 'Sonho de Uma Noite de Verão', também de William Shakespeare, assistiu “umas 800 vezes”. Cresceu fascinada com a profissão.

A paixão da filha de Jonas e Rebeca Bloch, nascida em 29 de maio de 1963, em Belo Horizonte, virou certeza por volta dos 17 anos, após fazer o curso de Ivan Albuquerque, Rubens Corrêa e Amir Haddad no teatro Ipanema, no Rio. Embora tenha passado para duas opções no vestibular – História e Comunicação –, Debora escolheu os palcos. Sua estreia profissional foi em 1980 na peça 'Rasga Coração', de Oduvaldo Viana Filho, substituindo Lucélia Santos: “Eu era muito garota, muito verde, mas tinha o espírito do personagem que era uma estudante contestadora e revolucionária. Foi um desafio e acho que fui picada, eu falei ‘Ah, é isso que eu quero fazer'”, lembra Debora. A partir daí, a atriz passou a integrar o grupo teatral Manhas e Manias, dirigido por José Lavigne, sendo contemporânea dos atores Andréa Beltrão, Chico Diaz e Pedro Cardoso, com quem encenou peças como 'Brincando com Fogo' (1982) e 'Recordações do Futuro' (1983), criações coletivas do grupo, que ganhou 13 prêmios por seus espetáculos infantis.

Ao todo, Debora Bloch atuou em dez peças, entre elas 'Fica Comigo Esta Noite' (1990), de Flávio de Souza, com a qual foi premiada com o Shell de melhor atriz; 'Cinco Vezes Comédia' (1996), de Mauro Rasi; 'Duas Mulheres e um Cadáver' (2000), de Aderbal Freire-Filho, em que dividiu o palco com Fernanda Torres; e 'Tio Vanya' (2003), também dirigida por Aderbal, em que contracenou com Diogo Vilela. Por esta, que produziu, ganhou o prêmio Qualidade Brasil de melhor atriz teatral na categoria Drama.

Estreia na Globo

A estreia na Globo aconteceu em 1981, aos 18 anos, quando Debora Bloch foi escalada para fazer a personagem Lívia na novela 'Jogo da Vida', de Silvio de Abreu, dirigida por Roberto Talma, Jorge Fernando e Guel Arraes, personagem com o qual ganhou o prêmio de atriz revelação da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). Em 1982, ela emendou com a personagem Clara de 'Sol de Verão', novela de Manoel Carlos, dirigida pelo mesmo trio, em que contracenou com Tony Ramos, Jardel Filho (que faleceu durante a novela) e Irene Ravache. “Eu fazia par com o Tony, que interpretava um surdo-mudo, e era engraçado porque eu tinha que decorar o meu texto e o dele.”

Fazendo cinema e teatro ao mesmo tempo em que dava os primeiros passos na TV, Debora Bloch participou de dois episódios da Quarta Nobre antes de trabalhar em sua terceira novela, em 1986, quando adotou uma postura masculinizada para viver Ana Machadão em 'Cambalacho', de Silvio de Abreu: “Era uma mecânica que estava sempre suja de graxa, de macacão, mas que era apaixonada por um bailarino interpretado pelo Edson Celulari”.

Humor na TV

Pedro Paulo Rangel e Debora Bloch em TV Pirata — Foto: Acervo/Globo

Com a estreia do humorístico 'TV Pirata' (1988), os telespectadores puderam confirmar sua versatilidade e o talento para o humor ao interpretar diferentes personagens em uma série de esquetes e quadros fixos. Adelaide Catarina, a repórter de TV cheia de tiques, foi uma das que entraram para a galeria de tipos inesquecíveis do programa, coordenado por Cláudio Paiva e dirigido por Guel Arraes. Debora Bloch se identificou com a irreverência do texto – parecido com o que se acostumara a fazer nos palcos – e trabalhou com antigos ídolos de teatro, como Marco Nanini, Regina Casé e Luiz Fernando Guimarães. Debora recorda que era a primeira vez que a TV debochava dela mesma.

“Antes ninguém fazia piada com o jornalismo, com os jornalistas, com as repórteres ou com a própria novela. O Chico Anysio, que era um gênio, fez o ator e galã Alberto Roberto, que vivia de toca. Mas assim, fazer um deboche tão direto da própria programação da TV, por isso chamava 'TV Pirata'. Na novela 'Fogo no Rabo', na época no ar era 'Roda de Fogo', eu fazia o estereótipo que seria a mocinha da novela, que tinha um bordão: ‘Reginaldo, você é tão bom para mim…’”.

Em 1990, o 'TV Pirata' saiu do ar, para voltar a ser exibido dois anos depois. Nesse intervalo, Debora Bloch foi escalada para a minissérie 'A, E, I, O… Urca', obra escrita por Doc Comparato e Antonio Calmon, sob argumento de Carlos Manga. Ela interpretava Sílvia, uma corista judia que chegava ao Rio para trabalhar no Cassino da Urca. Uma das situações especiais, que marcaram a trajetória profissional, da atriz foi ter gravado no próprio prédio do extinto Cassino da Urca e ter contracenado com Grande Otelo. Ela voltaria a fazer uma minissérie em 2000, nas comemorações pelos 500 anos da chegada dos portugueses ao território onde hoje é o país: 'A Invenção do Brasil', de Guel Arraes e Jorge Furtado, ganhou uma versão para o cinema. Na minissérie, interpreta Isabelle, francesa que disputa o amor de Caramuru (Selton Mello) com a índia Paraguaçú (Camila Pitanga).

Debora voltou a fazer novelas com o término de 'TV Pirata', em 1992. Fez uma participação em 'Deus nos Acuda', de Silvio de Abreu, Alcides Nogueira e Maria Adelaide Amaral, e depois aceitou um papel em 'As Pupilas do Senhor Reitor' (1994), no SBT. Morou por dois anos em São Paulo com o marido, o francês Olivier Anquier, e a filha Julia, até voltar para a Globo, em 1996, no papel da sofisticada e irônica Teodora de 'Salsa e Merengue', novela de Miguel Falabella e Maria Carmem Barbosa. Em 1999, protagonizou 'Andando nas Nuvens', de Euclydes Marinho, no papel de uma jornalista que se envolve com um colega de profissão, interpretado por Marcos Palmeira. Debora lembra que ela lançou moda do usar uma mochila transpassada no corpo.

Seis anos depois, retomou as novelas com 'A Lua me Disse' (2005), outra produção assinada pela dupla Miguel Falabella e Maria Carmem Barbosa. Na história, Debora caiu nas graças do público ao interpretar a politicamente incorreta Madô, dondoca consumista e inescrupulosa. Em 2009, foi Silvia Cadore, uma mulher honesta traída pelo marido e pela melhor amiga em 'Caminho das Índias', novela da Gloria Perez. Em 2011, Debora viveu a vilã Úrsula, uma duquesa bonita, sofisticada e vingativa em 'Cordel Encantado', novela de Thelma Guedes e Duca Rachid. A novela foi indicada ao Emmy. “Gravamos na França, no castelo Chambord, um frio louco. Depois a gente fez os takes fechados aqui nos Estúdios Globo no verão de 40 graus, com o mesmo figurino. Uma loucura”. Em março de 2012, a atriz estreou como Verônica, uma perua que faz parte do núcleo cômico da novela 'Avenida Brasil', de João Emanuel de Carneiro. A atriz lembra que viajou para Portugal quando a novela terminou. E o que mais ela recorda: “Eu lembro de ter entrado no avião, a primeira coisa que o comissário português falou: “Cadê o Cadinho?”. Todo mundo só falava no Cadinho, interpretado por Alexandre Borges, um marido adúltero que tinha mais duas mulheres além de Verônica.

Especiais

Especiais e outros programas e quadros de humor também fazem parte da carreira de Debora Bloch. Na relação de trabalhos, destacam-se o embrião da série 'A Comédia da Vida Privada – um Brasil Especial' (1994) que levou o título do futuro programa – e três episódios da série em si, todos coordenados por Guel Arraes. Também é memorável sua atuação na série 'A Vida como Ela é…' (1996), adaptações de crônicas de Nelson Rodrigues feitas por Euclydes Marinho e dirigidas por Denise Saraceni e Daniel Filho. Desta época até a década de 2000, Debora trabalhou no humorístico 'Vida ao Vivo Show', protagonizado por Pedro Cardoso e Luiz Fernando Guimarães; em episódios de 'A Grande Família' e 'Os Normais'; e nos quadros 'As 50 Leis do Amor' e 'Damas e Cavalheiros', exibidos no 'Fantástico'. No primeiro, escrito por Alexandre Machado e Fernanda Young, formou com Andréa Beltrão e Diogo Vilela um trio de atores que discutia a relação nos bastidores.

Em 2005, participou do especial de fim de ano 'Toma Lá Dá Cá', escrito por Miguel Falabella e Maria Carmem Barbosa. No ano seguinte, na minissérie 'JK', de Maria Adelaide Amaral, Alcides Nogueira e Geraldinho Carneiro, interpretou a corista Dora Amar. Em seguida, fez mais duas minisséries, 'Amazônia – De Galvez a Chico Mendes' (2007), de Gloria Perez – no papel de Beatriz, amante de Galvez (José Wilker) – e 'Queridos Amigos' (2008), de Maria Adelaide Amaral, onde viveu a artista plástica Lena. Em 2010, interpretou a personagem Karin, na série 'Separação?!', escrita por Alexandre Machado e Fernanda Young, com direção-geral de José Alvarenga Jr. Na segunda versão de 'Saramandaia' (2013), Debora interpretou Risoleta. Em 2015, Bloch ganha o papel de Lígia, jornalista bem-sucedida, na novela 'Sete Vidas'. “Lígia é essa mulher contemporânea, independente, que trabalha, tem vida própria e quer ter como companheiro o Domingos Montagner, que infelizmente não está mais com a gente, um homem que não queria criar laços. Era uma novela apoiada no diálogo, tinha muito texto, não era uma novela de ação. Teve uma coisa muito legal do Jayme Monjardim: a gente ensaiava bastante as cenas”.

Séries impactantes

Em 2017, Debora Bloch interpretou um dos personagens mais interessantes que fez na televisão, segundo ela. Na minissérie 'Justiça', dirigida por José Luiz Villamarim, ela faz o papel de um a mãe que vê a filha (Marina Ruy Barbosa) ser assassinada pelo namorado (Jesuíta Barbosa) e planeja matar o rapaz quando ele sair da cadeia. “Tem tanta cena forte… tem a cena que eu vejo ele matando a minha filha, uma cena dura de fazer e tem a cena que ele volta na minha casa, que eu pego ele entrando no quarto dela também e que eu começo a bater nele, a expulsar ele e depois ainda tem a cena que eles começam brigando e acabam se beijando… ah, é uma história bonita, forte complexa como somos todos nós”, analisa.

Em 2019 estreou a série 'Segunda Chamada', em que vive a professora Lúcia, de língua portuguesa. A atriz comenta que essa é uma das personagens mais especiais da sua carreira. A série teve uma segunda temporada em 2021, que estreou primeiro no Globoplay.

Cinema

O cinema está presente na trajetória de Debora Bloch desde 1984, quando estreou em 'Noites do Sertão', de Carlos Alberto Prates Correia, filme inspirado no original de Guimarães Rosa que lhe valeu os prêmios de melhor atriz no 17º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, no 17º Festival Brasileiro de Cinema de Gramado, no 24º Festival de Cinema de Cartagena e no Air France. Foi o início de uma carreira cinematográfica que inclui dez filmes, como 'Bete Balanço' (1984), de Lael Rodrigues, com o qual ganhou novamente o prêmio Air France de melhor atriz; Veja esta canção (1994), de Cacá Diegues – prêmio de melhor atriz no Festival Latino-Americano de Rhode Island (EUA) e da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte); 'Bossa Nova' (2000), de Bruno Barreto; 'Caramuru – A Invenção do Brasil' (2001), de Guel Arraes e Jorge Furtado e 'À Deriva' (2009), de Heitor Dhalia.

Débora Bloch em A, E, I, O...Urca, 1990 — Foto: Acervo/Globo

Fonte

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