Por Memória Globo

Nelson Di Rago/Globo

Ator, diretor, escritor, dublador, produtor teatral, radialista, cantor e, finalmente, político. Pode parecer muito, mas não para Cláudio Cavalcanti, que esteve sob as luzes dos holofotes desde os seus 16 anos, quando começou sua trajetória profissional. Em sua carreira, foram mais de 50 novelas, minisséries e especiais, dublagens, 22 longas-metragens e dezenas de peças teatrais, sem falar em um disco e cinco livros publicados. Como vereador, cumpriu dois mandatos na Câmara Municipal do Rio de Janeiro.Na Globo, interpretou mocinhos e bandidos. Seu principal papel foi na novela Irmãos Coragem, de Janete Clair, onde interpretou o Jerônimo, que se apaixonou pela índia Potira (Lúcia Alves), cujo final emocionou milhares de brasileiros.

Na televisão, eu me sinto inteiramente à vontade. Eu relaxo, estou no meu elemento.
— Cláudio Cavalcanti
Entrevista exclusiva do ator Cláudio Cavalcanti ao Memória Globo, em 16/01/2006, sobre o início da sua carreira.

Entrevista exclusiva do ator Cláudio Cavalcanti ao Memória Globo, em 16/01/2006, sobre o início da sua carreira.

Início da carreira

Filho de um professor e contador e de uma dona de casa. Cláudio Murillo Cavalcanti sempre soube o que queria da vida: “Meu interesse pelo teatro veio através do rádio. Quando eu era criança, ouvia muito rádio, radioteatro, com aqueles atores fantásticos. Quando fiz 13 anos, a tia do meu pai me deu um ingresso para uma matinê da peça Obrigado Pelo Amor de Vocês, na qual trabalhavam atores de rádio. Foi a primeira vez que fui a um teatro e fiquei absolutamente encantado. Era uma peça de três atos, em que pessoas envelheciam 50 anos, ali, na minha cara. Meu encantamento foi tamanho que, ao completar 35 anos de carreira, montei essa peça; eu me dei de presente fazer essa peça”

Cláudio Cavalcanti fazia teatro amador na escola, em 1956, quando foi convidado por um amigo para participar de um teste no TBC – Teatro Brasileiro de Comédia –, que iria montar a peça Nossa Vida com Papai e precisava de um ator jovem, na faixa dos 16 anos. Era a idade de Cláudio, que foi escolhido, ensaiou e estreou exatamente no dia 13 de dezembro de 1956. Foi nessa época que conheceu e conviveu com jovens atores, que anos depois seriam admirados nacionalmente, como Fernanda Montenegro, Sérgio Britto e Nathalia Timberg. Na mesma época, começou sua carreira também na televisão, ao ser convidado para atuar no programa João e Maria, na TV Tupi. O ator perdeu a conta do número de novelas que fez na emissora: “Era tudo ao vivo, segundas, quartas e sextas-feiras. Trabalhávamos muito”.

Galã de novela

Foram nove anos de TV Tupi e, ainda rapaz, com 25 anos, mas com uma ótima experiência nas costas, transferiu-se para a Globo, para atuar em 22-200: Cidade Aberta, roteirizado por Domingos de Oliveira. “Foi o primeiro seriado da Globo feito em película, filmado. Não era gravado. Era filmado com uma Arriflex pequena, que levávamos para todas as locações. Fiz coisas que até Deus duvida: pulei do alto da barca da Cantareira e do alto da ponte do Cais dos Minérios, numa rede de bombeiros”, lembra.

Em seguida, em 1967, foi escalado para a sua primeira novela das oito, a quarta da emissora: Anastácia, a Mulher sem Destino, de Emiliano Queiroz. Era o horário nobre, e as novelas começavam a cair no gosto popular, com audiências cada vez maiores. O ator viveu Jean Paul, um mau-caráter, que disputava com o irmão o amor da personagem vivida por Leila Diniz. “Ganhei todos os prêmios do ano com essa novela”, destaca. Nesta época, também estreou no cinema, com História de um Crápula, de Jece Valadão, e Um Ramo para Luiza, de J. B. Tanko, ambos em 1965.

Depoimento - Cláudio Cavalcanti: Anastácia, a Mulher Sem Destino (1967)

Depoimento - Cláudio Cavalcanti: Anastácia, a Mulher Sem Destino (1967)

Ainda na Globo, atuou em O Homem Proibido e A Gata de Vison, de Glória Magadan, em 1968. Transferiu-se para a TV Tupi, onde participou de O Retrato de Laura, de Ciro Bassini, e Enquanto Houver Estrelas, de Mário Brasini, ambos em 1969. De volta à Globo, integrou o elenco de Rosa Rebelde e Véu de Noiva, ambas de Janete Clair. Ainda naquele ano, também podia ser visto na tela grande, em A Cama ao Alcance de Todos, de Daniel Filho (1969).

Depoimento - Cláudio Cavalcanti: O Homem Proibido (1967)

Depoimento - Cláudio Cavalcanti: O Homem Proibido (1967)

Antes de depois de Irmãos Coragem

Na trama, Cláudio Cavalcanti fez aquele que certamente é o mais lembrado de todos os seus personagens, ainda que tanto tempo tenha se passado: Jerônimo, um dos três irmãos Coragem. Na ocasião, a novela fez tanto sucesso – e o ator idem – que Janete Clair o estimulou a gravar a música Menina, de Paulinho Nogueira, um sucesso nas rádios e nas vitrolas de todo o país.

Até hoje, quando entro em um táxi, o motorista olha e diz: ‘Cara, eu vou dizer uma coisa, vocês podem fazer o que vocês fizerem, mas igual a Irmãos Coragem, nunca mais’. Estávamos fazendo a história da televisão brasileira com Irmãos Coragem
— Cláudio Cavalcanti
Webdoc novela - Irmãos Coragem - 1ª versão (1970)

Webdoc novela - Irmãos Coragem - 1ª versão (1970)

Famoso, querido pelo grande público, Cláudio Cavalcanti atravessou os anos 1970 em cena, atuando em mais de dez novelas da Globo – às vezes, emendando duas novelas no mesmo ano. Foi assim em Vejo a Lua no Céu, de Sylvan Paezzo (1976), e O Feijão e o Sonho, de Benedito Ruy Barbosa (1976). “O poeta Campos Lara, de O Feijão e o Sonho, foi o personagem que mais amei fazer, mais do que o Jerônimo Coragem. Primeiro porque era um personagem maravilhoso. Segundo, era exatamente a história dos meus pais: minha mãe era o ‘feijão’ e meu pai, o ‘sonho’. Na novela, eu era obrigado a trabalhar nas Empresas Elétricas Brasileiras, ou dar aula de Matemática à noite. Da mesma maneira, a poesia do meu pai foi sendo soterrada pela realidade, pelo filho que nasceu, depois a filha. Fiquei muito emocionado com essa novela”.

Webdoc novela - O Feijão e o Sonho (1976)

Webdoc novela - O Feijão e o Sonho (1976)

Antes disso, porém, atuara em O Homem que Deve Morrer, de Janete Clair (1971), O Bofe, de Bráulio Pedroso (1972), Cavalo de Aço, de Walther Negrão (1973), Carinhoso, de Lauro César Muniz (1973), Bravo!, de Janete Clair (1975), na qual viveu um jovem pianista que tinha pavor dos palcos.

A lista de trabalhos da época inclui, ainda, participação nas novelas Dona Xepa, de Gilberto Braga (1977), Nina, de Walter George Durst (1977), Maria, Maria, de Manoel Carlos (1978), Pecado Rasgado, de Silvio de Abreu (1978), Pai Herói, de Janete Clair (1979) e, finalmente, Água Viva, de Gilberto Braga (1980). Mais quatro novelas no início dos anos 1980 mostram como Cláudio Cavalcanti era requisitado: Baila Comigo, de Manoel Carlos (1981), Terras do Sem Fim, de Walter George Durst (1981), Sétimo Sentido, de Janete Clair (1982), e Transas e Caretas, de Daniel Más e Lauro César Muniz (1984).

Roque Santeiro

O Padre Albano, da novela Roque Santeiro, de Dias Gomes e Aguinaldo Silva (1985), foi outro personagem marcante na carreira de Cláudio Cavalcanti. Com ele, a novela – que teve uma das maiores audiências da televisão brasileira – promoveu importantes discussões sobre celibato e a política fundiária: “Minha personagem começou a fazer muito sucesso. Até que um dia eu li o capítulo e falei: ‘Pronto, danou-se’. Eles resolveram fazer o Padre Albano se apaixonar, ou pelo menos achar que estava apaixonado, pela personagem da Lídia Brondi, que se chamava Tânia. Comecei a sair na capa de tudo quanto era revista. Quer dizer, discutimos o celibato dos padres, e isso foi muito bom. A Igreja foi contra, claro, tanto que, no final, ele não se casou com a Tânia”.

Cláudio continuou sua maratona de novelas e minisséries, e a lista é extensa: Padre Cícero, minissérie de Aguinaldo Silva e Doc Comparato (1984), Hipertensão, de Ivani Ribeiro (1986), O Salvador da Pátria, de Lauro César Muniz (1989), República, de Wilson Aguiar Filho (1989), Rainha da Sucata, de Silvio de Abreu (1990), Lua Cheia de Amor, de Ana Maria Moretszohn, Ricardo Linhares e Maria Carmem Barbosa, com supervisão de Gilberto Braga (1990), Mulheres de Areia, de Ivani Ribeiro (1993), A Viagem, de Ivani Ribeiro (1994), Explode Coração, de Glória Perez (1995), Salsa e Merengue, de Miguel Falabella e Maria Carmem Barbosa (1996), as minisséries Labirinto, de Gilberto Braga (1998), e Chiquinha Gonzaga, de Lauro César Muniz e Marcílio Moraes (1999).

Webdoc novela - A Viagem (1994)

Webdoc novela - A Viagem (1994)

Em 2000, ele se transferiu para a TV Record, onde participou de Marcas da Paixão (2000) e Roda da Vida (2001), ambas de Solange Castro Neves. Para completar, em 2011, assinou contrato com o SBT e fez parte do elenco de Amor e Revolução, de Tiago Santiago.

Diretor de TV

Ainda na década de 1980, na Globo, ele dirigiu dez episódios do programa Caso Verdade, além da novela Despedida de Solteiro, de Walther Negrão, em 1992. “Foi maravilhoso. Eu sabia de cor, e tinha estudado cronologicamente tudo. Eu estudava o texto de cada ator, estudava a cena, escrevia, botava recado para ator. Foi muito bom”, lembra.

Ao longo de todos esses anos, também fez cinema e teatro, muito teatro: “Na televisão, eu me sinto inteiramente à vontade. Eu relaxo, estou no meu elemento. Teatro é uma coisa legal. No teatro, você sente a reação da plateia. E você pode mexer nessa reação. Cinema, como disse Fernanda Montenegro, é a arte de espera: você vai e espera”. Ele também teve publicados dois livros de contos, poesias e crônicas e três antologias.

Não bastassem os mais de 50 anos dedicados às artes, Cláudio Cavalcanti ainda enveredou pelos caminhos da política. Foi eleito vereador em 2000, e reeleito em 2004, na Rio de Janeiro. Em oito anos de atividades legislativas, criou e conseguiu aprovar 29 leis. Por sua atuação destacada na defesa dos animais, foi homenageado pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro com a medalha Tiradentes.

No dia 29 de setembro de 2013, o ator morreu aos 73 anos, após complicações durante uma cirurgia na coluna realizada no Rio de Janeiro. Cláudio Cavalcanti estava gravando a participação na série Sessão de Terapia, dirigida por Selton Mello e exibida no canal GNT. Seu personagem era um empresário com síndrome do pânico. O ator era secretário municipal de Defesa dos Animais do Rio de Janeiro.

FONTES

Depoimento concedido ao Memória Globo por Cláudio Cavalcanti em 16/01/2006.
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