Por Memória Globo

Reprodução de internet

Francisco José de Santa Rita Behr – mais conhecido como Chico Santa Rita,  começou sua carreira profissional no Banco do Brasil, em Santos, para onde se mudou. Na época, já tinha interesse pelo jornalismo, embora nunca tivesse trabalhado na área. A primeira oportunidade surgiu por acaso, em 1963, quando inscreveu uma peça de sua autoria num concurso da Prefeitura de São Paulo, e foi premiado. Entrevistado pela 'Tribuna de Santos' para uma matéria sobre a premiação, acabou conhecendo o diretor de redação do jornal, que lhe convidou a trabalhar na empresa.

Chico Santa Rita, 2001 — Foto: Cacalos Garrastazu/Agência Globo

Passou seis meses na 'Tribuna de Santos' antes de se transferir para o 'Jornal da Tarde'. Posteriormente, em 1968, foi para a Editora Abril, inicialmente para trabalhar na revista 'Realidade'. Entre idas e vindas, passou 10 anos na editora, trabalhando em várias revistas e, depois, dirigindo o departamento de criação e produção, responsável pela comunicação das revistas da Editora Abril. No fim dos anos 1970, chegou a conciliar o trabalho na Editora Abril com a função de editor do 'Bom Dia São Paulo', para a qual fora convidado pelo então diretor da Globo de São Paulo, Luiz Fernando Mercadante, porém por poucos meses. Sua jornada de trabalho na Globo começava diariamente às 4h e terminava às 9h, quando seguia para a editora. O jornalista optou, então, por manter somente o emprego na Abril.

Chico Santa Rita voltou a trabalhar na Globo em 1981, agora no cargo de editor-chefe do 'Jornal Hoje'. Na época, estagiou durante uma semana na CNN, em Atlanta, e um mês na ABC, em Nova York e em Washington. No comando do 'Jornal Hoje', foi um dos responsáveis pela mudança no perfil do telejornal, que, desde 1979, investia em sua audiência majoritária, buscando temas de interesse do público jovem feminino. A partir de 1980, com a estreia do 'TV Mulher', programa de variedades voltado para as donas de casa, a emissora começou a pensar em uma reformulação do 'Hoje'. A ideia era torná-lo “um 'Jornal Nacional' da hora do almoço”, mas com espaço para comportamento, artes e espetáculos. Houve, também, a introdução de novos quadros e a criação de um novo cenário e uma nova abertura. Chico Santa Rita participou ativamente da implantação desse projeto.

Durante seu período como editor-chefe do 'Jornal Hoje', uma cobertura marcante foi a do atentado ocorrido no Riocentro, em 1º de maio de 1981. Naquele dia, um show de música popular reuniu cerca de 20 mil pessoas no local. O evento teve a participação de artistas que se destacavam na oposição ao regime militar. Durante o espetáculo, uma bomba explodiu dentro de um carro no estacionamento, matando o sargento Guilherme Ferreira do Rosário e ferindo gravemente o capitão Wilson Luís Chaves Machado, ambos ligados ao DOI-Codi. A jornalista Leila Cordeiro, que cobria o show para o 'Jornal Hoje', deu a notícia da explosão com flashes ao vivo, e a equipe do telejornal foi a primeira a noticiar o atentado.

Depois de uma breve experiência como editor no 'Jornal da Globo', Chico Santa Rita foi editar o 'Sem Censura', que estreou sob seu comando em março de 1982. Apresentado ao vivo e com uma hora de duração, o programa apostava na investigação mais aprofundada do fato jornalístico, por meio de entrevistas e reportagens. Tendo ocupado o espaço aberto pelo 'Globo Revista', que durou de 1981 a 1982, o 'Sem Censura' apresentava duas grandes diferenças em relação a seu antecessor: não havia reportagens culturais ou de entretenimento, e todo o tempo disponível era dedicado às entrevistas e mesas-redondas; além disso, enquanto o 'Globo Revista' dava ênfase a assuntos de teor político e econômico, o 'Sem Censura' abordava uma gama mais variada de temas, da polêmica questão do carro a álcool à convocação para a seleção brasileira.

O 'Sem Censura' estreou em meio à mobilização em torno das eleições de 1982 para governador do Estado, as primeiras eleições livres desde o final dos anos 1960. O primeiro programa apresentou uma entrevista com Paulo Maluf, então governador de São Paulo, realizada pelos jornalistas Marco Antônio Rocha, Antônio Britto e Augusto Nunes. O senador Franco Montoro, que também foi convidado, não compareceu. Além disso, o 'Sem Censura' promoveu um debate entre os candidatos ao governo do Estado do Rio, Sandra Cavalcanti, do PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), e Miro Teixeira, do PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro). Realizado em 20 de abril, o debate foi mediado por Antônio Britto e obteve recorde de audiência para o programa.

Paralelamente, Chico Santa Rita foi uma espécie de chefe de coberturas especiais da Globo, trabalhando para todos os jornais da emissora. No início dos anos 1980, comandou, entre outras, a cobertura da primeira visita do papa João Paulo II ao Brasil, a do assassinato do presidente do Egito Anuar Sadat e a dos exames que o então presidente João Baptista Figueiredo fez antes de submeter-se a uma cirurgia no coração, nos Estados Unidos. Também foi o editor no Brasil da cobertura da Copa do Mundo da Espanha, em 1982. Deixou a Globo no final de 1982. De volta a São Paulo, trabalhou ao lado de Luiz Fernando Mercadante na criação da Abril Vídeo, produtora de programas independentes ligada ao Grupo Abril. Em 1984, fundou a TVT Produções, produtora de vídeos e programas de televisão.

Dedicou-se, ainda, a alguns empreendimentos comerciais. Chico Santa Rita é consultor de marketing político, atividade na qual trabalhou desde 1976. No primeiro semestre de 2010, apresentou o programa semanal Bastidores do Poder na AllTV. É autor dos livros 'Batalhas Eleitorais – 25 Anos de Marketing Político', publicado em 2001 pela Geração Editorial, e 'Novas Batalhas Eleitorais – O Que o Público Não Vê nas Campanhas Políticas', publicado pela Ediouro em 2008.

Chico morreu em 8 de maio de 2023.

FONTE:

Depoimento concedido ao Memória Globo por Chico Santa Rita em 28/01/2004.
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