Por Memória Globo

Renato Velasco/Globo
Na época, era muito difícil, você fazia jornalismo em televisão com filme: editava matéria com moviola, cortando e emendando. O sujeito usava uma luvinha branca, emendava com fita durex e montava a matéria. Às vezes, tinha que gravar uma banda sonora e pregar ali. Era um horror!”

Esse era o cotidiano de produção que Chico Pinheiro encontrou, no final dos anos 1970, ao deixar o emprego no jornal para trabalhar no veículo que faria dele um jornalista nacionalmente conhecido e um dos principais apresentadores da Globo. Filho do topógrafo Antônio Oscar Pinheiro e da professora Ester Gontijo Melo Pinheiro, Francisco de Assis Pinheiro foi criado em Minas Gerais, chegou a estudar engenharia na Pontifícia Universidade Católica (PUC-MG), mas abandonou o curso no quarto ano. Formou-se em jornalismo pela mesma universidade em 1976.

Chico Pinheiro na bancada do Bom Dia São Paulo — Foto: Acervo/Globo

Início da carreira

Chico Pinheiro começou a trabalhar no Diário de Minas, como estagiário, em 1971, primeiro na editoria Geral, depois na de Esportes. Ainda não havia se formado quando conseguiu uma vaga na sucursal mineira do Jornal do Brasil. “Quando cheguei à redação, Eduardo Simbalista me deu uma lauda em branco, uma matéria escrita e me mandou sentar e copiar, para aprender como distribuir uma matéria, o que era importante, como se compunha um lead, o corpo da matéria. Bem arrogante e topetudo, falei: ‘Não vim aqui para isso, não. Se você tiver uma pauta para me dar, me dê. E você avalia se eu sirvo ou não. Não vou ficar aqui copiando matéria’. Ele me achou meio atrevido e me mandou fazer uma reportagem sobre uma briga política em Contagem. No dia seguinte, a matéria saiu publicada”, lembra. Eduardo Simbalista, que então chefiava a redação do JB, mais tarde assumiria a direção regional da Globo Minas. E convidaria o jovem repórter a trabalhar na televisão.

Primeira experiência na Globo

Chico Pinheiro começou a trabalhar na Globo no final de 1977, no cargo de chefe de reportagem. "Naquela época o chefe de reportagem fazia tudo. Você tinha que armar a pauta do dia seguinte, fazer a escala das equipes, distribuir os equipamentos, marcar as entrevistas, apurar as notícias”, conta. Em 1980, obteve uma bolsa de estudos na Universidade de Navarra e, em seguida, mudou-se para a Espanha. De volta à Globo no ano seguinte, foi repórter do 'Jornal Nacional' em Belo Horizonte. Dois anos depois, voltou a deixar a emissora, dessa vez para ser professor de jornalismo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

De sua primeira passagem pela Globo, o jornalista se lembra de duas entrevistas marcantes: a primeira foi com Ulysses Guimarães, então líder do MDB, e a outra, com o então ministro da Justiça, Ibrahim Abi-Ackel. Na ocasião, perguntou ao ministro quem eram os responsáveis pelo atentado ocorrido naquele dia no Riocentro, e não esquece o que ouviu dele: “Os responsáveis por esse atentado são os bolsões sinceros, mas radicais; são os pescadores de águas turvas”. No entanto, era época de vigência da Censura Federal, e essa declaração nunca foi para o ar.

Passagem por outras emissoras

Ainda na década de 1980, Chico Pinheiro trabalhou na Quilombo, produtora que cuidava da carreira artística do compositor Milton Nascimento, prestando serviços de assessoria de imprensa, e editou o jornal Trem Azul. Também foi chefe de gabinete do secretário de Saúde do Governo de Minas Gerais e comandou um programa de debates na TV Minas, chamado 'Alta Tensão'.

No final de 1989, transferiu-se para São Paulo, contratado pela TV Bandeirantes. Inicialmente, editou e apresentou diariamente o programa 'Canal Livre', então de perfil comunitário, além de fazer comentários políticos no telejornal local noturno da emissora. Em 1992, coordenou a cobertura da segunda visita do Papa João Paulo II ao Brasil e foi premiado pela cobertura do impeachment de Fernando Collor. Ainda na Bandeirantes, foi âncora do 'Jornal da Noite '(1992-1993), do 'Jornal de Domingo' (1993) e do 'Jornal da Bandeirantes' (1993-1995).

Em 1995, Chico Pinheiro assumiu o cargo de diretor de jornalismo da TV Record e âncora do 'Jornal da Record', principal telejornal da emissora. No dia 12 de outubro, o pastor da Igreja Universal Sergio von Helde chutou uma imagem de Nossa Senhora da Aparecida durante um programa da Record. O episódio levou Chico Pinheiro a entrar em desacordo com a direção da rede, o que resultou na sua demissão.

De volta à Globo

Em 1996, Chico Pinheiro foi para a Rádio CBN, ocupando o cargo de apresentador do 'Jornal da CBN'. Permaneceu na rádio até 1997. Ainda em 1996, foi convidado a retornar à TV Globo, agora nos postos de apresentador do 'Bom Dia São Paulo' e editor do 'Bom Dia Brasil'. E passou a apresentar também, eventualmente, o 'Jornal Nacional' e o 'Jornal da Globo'.

Fui participar do projeto de criação e implantação do 'Bom Dia Brasil', ancorado pelo Renato Machado, editor-chefe, e do novo 'Bom Dia São Paulo'. E encontrei uma emissora completamente diferente, tanto do ponto de vista de qualidade técnica quanto de conteúdo editorial. E fui descobrir a extrema importância que o jornalismo tem na Globo para a mudança substancial e necessária do país, das comunidades, da sociedade.

Chico Pinheiro como âncora do Jornal da CBN 2ª edição — Foto: Acervo Sistema Globo de Rádio

'SPTV' e 'Espaço Aberto'

Chico Pinheiro começou a apresentar o telejornal local 'SPTV', na Globo, e o programa 'Espaço Aberto', na GloboNews, em 1998. No 'Espaço Aberto', entrevistou grandes nomes da música popular brasileira, como Paulinho da Viola, Beth Carvalho, Dona Ivone Lara e Milton Nascimento, além de atores como Walmor Chagas e Nathalia Timberg. Em 2007, o programa foi reformulado e ganhou novo nome, 'Sarau'. Em 2013, o programa ganhou uma nova versão, o 'Sarau Itinerante', quando o apresentador percorre diferentes cidades brasileiras para mostrar o trabalho de artistas locais. Na estreia, o 'Sarau Itinerante' homenageou o manguebeat, ritmo desenvolvido em Pernambuco.

Entrevista com Nicéia Pitta

Em março de 2000, durante a cobertura dos escândalos da prefeitura de São Paulo, conseguiu uma entrevista exclusiva com Nicéia Pitta, na qual a ex-mulher do então prefeito Celso Pitta relatava os principais detalhes do sistema de corrupção da administração paulista. “Quando acabou essa entrevista, eu sabia que tínhamos um material extremamente importante para a cidade de São Paulo. Eu já tinha vivenciado o compromisso do jornalismo comunitário que fazíamos em São Paulo, já tinha sentido na minha prática diária que o compromisso da Central Globo de Jornalismo era com essa isenção, com essa seriedade. Mas percebia que tocava em questões muito delicadas. E qual não foi minha surpresa quando, depois de uma reunião da direção, eu soube que daríamos, sim, a história na íntegra e, dada sua relevância dentro do processo de revitalização de valores éticos do país, que seria tratada não no âmbito do telejornalismo comunitário, iria se tornar um programa inteiro, um 'Globo Repórter', em horário de grande audiência da Globo. E assim aconteceu”, conta.

Globo Repórter: Chico Pinheiro entrevista Nicéia Pitta sobre os escândalos de corrupção envolvendo o ex-marido Celso Pitta, 10/03/2000.

Globo Repórter: Chico Pinheiro entrevista Nicéia Pitta sobre os escândalos de corrupção envolvendo o ex-marido Celso Pitta, 10/03/2000.

'Bom Dia Brasil'

Chico Pinheiro permaneceu durante 13 anos no 'SPTV – 1ª Edição'. Em setembro de 2011, passou a dividir a bancada do 'Bom Dia Brasil' com Renata Vasconcellos. O jornalista entrou no lugar de Renato Machado, que, depois de apresentar o telejornal durante 15 anos, assumiu o posto de comentarista de notícias internacionais em Londres.

Bom Dia Brasil: Estreia de Chico Pinheiro na bancada (2011)

Bom Dia Brasil: Estreia de Chico Pinheiro na bancada (2011)

Nesses anos à frente do 'Bom Dia Brasil', Chico Pinheiro noticiou momentos marcantes da história do país e do mundo. Quando a notícia mobilizava a sociedade, o apresentador deixava a bancada para ancorar o telejornal no local do acontecimento. Assim foi na semana de ocupação da favela da Rocinha pelas forças policiais do estado do Rio de Janeiro. No dia 18 de novembro de 2011, o apresentador foi à favela e de lá mostrou como estava a situação após a ocupação e dias antes da implantação da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). O mesmo aconteceu no desabamento de dois prédios no centro do Rio em janeiro de 2012, deixando 17 mortos e cinco feridos. No dia seguinte à tragédia, Chico Pinheiro deixou a bancada do 'Bom Dia Brasil', e apresentou o telejornal diretamente do local.

Chico Pinheiro e Renata Vasconcellos também fizeram reportagens sobre cultura, comportamento, educação e meio ambiente. Como a matéria “Quintal do Zeca Pagodinho” feita com o cantor e compositor na casa dele em Xerém, no município de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.

Carnaval

De 2003 a 2009, Chico Pinheiro narrou, ao lado de Renata Ceribelli, o desfile das escolas de samba de São Paulo. Em 2010 e em 2011, participou da transmissão dos desfiles do Rio de Janeiro e de São Paulo, recebendo convidados e interagindo com os comentaristas da Rede Globo. Em 2012, comandou em São Paulo o 'Estúdio Globeleza', mostrando os melhores momentos, os destaques de cada escola e a participação dos telespectadores, também com a ajuda de comentaristas.

Chico Pinheiro também fez parte da equipe que escolhia os “Parceiros do RJ”, projeto do jornalismo que selecionava jovens moradores de comunidades para contarem histórias das regiões onde viviam, usando suas próprias linguagens. Eram duplas de jovens que usavam câmera e microfone para mostrar as realidades vividas, levando seus pontos de vista para todos os cariocas. Cada dupla era supervisionada por um jornalista da Globo.

Pandemia

Em março de 2020, quando a pandemia de Covid-19 chegou ao Brasil, Chico Pinheiro foi afastado da bancada do jornal por fazer parte do grupo de risco. Retornou em 5 de julho de 2021, após ter tomado as duas doses da vacina contra a doença.

Chico Pinheiro volta a apresentar o Bom Dia Brasil: 'Muito bom estar de volta'

Chico Pinheiro volta a apresentar o Bom Dia Brasil: 'Muito bom estar de volta'

Chico Pinheiro deixou a emissora no final de abril de 2022.

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Prêmios

Chico Pinheiro foi premiado duas vezes pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA): em 1992, pela cobertura do impeachment de Fernando Collor, e em 1997, por seu trabalho como apresentador do 'Bom Dia São Paulo'.

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O jornalista faz parte do conselho do Instituto São Paulo contra a Violência, do Instituto Ayrton Senna e do Centro de Voluntariado de São Paulo. Por sua atuação social, recebeu o Prêmio PNBE Cidadania 2000, distinção normalmente concedida a instituições e não a pessoas físicas. Em 2001, por sua atuação no 'SPTV', recebeu o título de Jornalista Amigo da Criança, concedido pela Agência de Notícias dos Direitos da Criança (Andi).

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