O início da carreira de Camila Bomfim coincide com o advento do jornalismo online, mas foi do trabalho em rádio que desenvolveu uma de suas principais habilidades de repórter televisiva: a capacidade de falar espontaneamente, ao vivo, por longos minutos. Nascida e criada em Brasília, no coração do governo federal, a proximidade da jornalista com a política poderia ser vista como algo natural, mas o reconhecimento que rapidamente adquiriu foi resultado de uma combinação particular: o cuidadoso trabalho de apuração nos bastidores e a clareza em frente às câmeras. Tendo começado na Globo no jornalismo local, na capital federal, Camila passou pela GloboNews e pelo 'Jornal da Globo' antes de tornar-se repórter especial do 'Jornal Nacional', destacando-se na cobertura de pautas investigativas. Desde então, testemunhou e levou a público informações sobre os principais episódios políticos da última década no Brasil. A partir de julho de 2021, passou a apresentar o 'Conexão GloboNews'.
Início da carreira
Filha de um economista e uma pedagoga, a brasiliense Camila Bomfim de Almeida Araújo entrou na faculdade de comunicação ainda aos 17 anos. Em 2003, no final da faculdade, começou sua carreira no jornalismo impresso, no jornal Correio Braziliense. Nessa época, a internet ganhava força como grande meio de acesso à informação no país, e logo a jovem repórter passou a atuar no Correio Web, agência de notícias online do mesmo veículo. Na capital federal, aproximar-se da pauta política foi um movimento quase natural. “Comecei a ter mais acesso ao Congresso, às fontes lá, entender um pouquinho mais a dinâmica dos parlamentares e, principalmente, uma coisa que eu achava muito difícil no início da profissão: esse tal Regimento do Congresso para, a partir daí, me aprofundar na parte de bastidor e articulação política”, conta a jornalista. Se no jornal impresso Camila pôde dar os primeiros passos na cobertura política – durante o primeiro governo Lula, cobriu as discussões em torno das reformas previdenciária e tributária – foi no rádio que desenvolveu a habilidade de sustentar uma cobertura ao vivo, pela qual ficaria também marcada. “O rádio me trouxe algo essencial em televisão, que é improvisar”, comenta. Ao mesmo tempo em que dava as principais notícias locais de Brasília na Rádio Nacional, trabalhava também como repórter e apresentadora na TV Brasília – o que lhe rendeu um convite para entrar na Globo.
Entrada na Globo
Em 2006, Camila Bomfim entra na Globo Brasília como repórter local, em uma rotina que começava bem cedo, com entradas no 'Bom Dia DF' e se estendia até a segunda edição do 'DFTV'. “Como o jornalismo local envolve cidades que não são tão próximas, eu basicamente fazia as coisas no carro”, lembra ela, que, entre os longos trajetos e links ao vivo, sempre encontrava tempo para sugerir novas pautas.
Seu talento e enorme energia foram notados, e, no ano seguinte, foi chamada para integrar o time da GloboNews. Voltou à pauta política. A jornalista se dividia entre a cobertura do Palácio do Planalto, de onde entrava de hora em hora com atualizações sobre a intensa agenda do então presidente Lula, e do Congresso. Em suas palavras, “uma arena de notícias de todos os tipos”. O que poderia parecer muito trabalho, ela lembra com paixão: “Eu gostava muito dessa dinâmica de conseguir lidar com tantos assuntos com habilidade, ao mesmo tempo de olho no que vai acontecer a qualquer momento”.
Jornalismo político
Não se faz bom jornalismo político sem investigação, e Camila dedicou-se ao trabalho de reunir fontes e dados para ter informações precisas e em primeira mão sobre os acontecimentos que movimentavam o país. A vida na capital federal permite viver no centro do poder. Conforme os escândalos de corrupção foram ocupando espaço no noticiário, os olhos do país foram se voltando para Brasília, e Camila Bomfim estava lá para relatar os bastidores do governo, com entradas ao vivo em todos os jornais da GloboNews.
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Em 2007, depois de participar de uma intensa cobertura da greve dos controladores de voo, a jornalista acompanhou a CPI do apagão aéreo, no que foi seu primeiro de muitos eventos deste tipo. Dois anos depois, cobriu o escândalo que ficou conhecido como Mensalão do DEM, em que o então governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, foi flagrado recebendo propina em maços de dinheiro. Em 2011, a repórter foi responsável por revelar funcionários que recebiam por horas não trabalhadas ao bater o ponto eletrônico do Congresso Nacional nos mais diferentes horários.
Neste mesmo ano de 2011, Camila passou a noticiar o dia a dia do poder em rede nacional. Como repórter do Jornal da Globo, sua rotina mudou drasticamente. Acostumada ao ritmo do hardnews e à dinâmica de sucessivas entradas ao vivo, teve que se adaptar ao horário do telejornal, que vai ao ar às 23h, e à nova relação com o tempo. Pôde fazer reportagens mais aprofundadas e transitar por outros temas, como economia – sem abrir mão de estar presente no calor de acontecimentos históricos como as manifestações que tomaram conta do país em 2013.
Em 2013, passou a integrar o time do 'Jornal Nacional'. O convite se deu depois de seu trabalho na cobertura do julgamento do Mensalão, no ano anterior, quando começou a entrar regularmente no telejornal. Como repórter especial do 'JN', Camila Bomfim destacou-se na cobertura de um dos mais importantes capítulos da história recente do país: a Operação Lava-Jato. A jornalista foi responsável por revelar documentos que punham em xeque a narrativa oficial sobre a construção de uma refinaria da Petrobras em Pasadena, nos Estados Unidos, em abril de 2014, e acompanhou o desenrolar da operação – que se estendeu por anos e governos, tanto em Curitiba, onde as investigações tiveram início, quanto em Brasília, palco das mais importantes decisões relativas aos processos. Seu trabalho de apuração e investigação resultou em vários furos de reportagem e lhe rendeu o Prêmio Engenho de Comunicação, em 2017.
De lá para cá, Camila Bomfim testemunhou os principais episódios políticos do Brasil e ainda encontrou tempo de fazer uma pós-graduação em ciência política na Universidade de Brasília. “O que gosto muito de fazer não é só relatar os fatos, é buscar conteúdo. É dar esse passo à frente: primeiro, chegar na notícia antes e, segundo, detalhar, desnudar o acontecimento”, comenta a jornalista, que zela pela clareza de suas matérias. Sempre que possível, busca o apoio da Arte para tornar suas reportagens mais fáceis e explicativas.
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Manifestações
Em junho de 2013, manifestações populares tomaram conta das principais capitais do país. O que começou como um apelo contra o aumento das passagens de ônibus, logo tomou outras proporções, clamando pela melhoria dos serviços públicos e criticando a política brasileira. Ao lado de protestos pacíficos, movimentos violentos ganharam corpo, provocando depredação e quebra-quebra. Ataques à imprensa e a jornalistas fizeram a Globo criar um esquema de segurança para seus profissionais. Devido a isso, Camila Bomfim, assim como outros repórteres da emissora, cobriram alguns dos eventos que marcaram o período do alto de prédios públicos da capital federal, de onde podiam ter uma visão ampla da situação e conseguir boas imagens, em segurança. Alguns desses momentos foram marcantes, tanto pela importância da cobertura, quanto pelos bastidores. Em uma dessas manifestações, que a jornalista acompanhou do terraço do Ministério da Saúde, ela conta que teve que entrar no ar descalça. “Cheguei lá, o salto quebrou, e eu fiquei com o pé no chão cobrindo a manifestação. Ainda bem que o link não mostra o nosso pé! Foram coberturas memoráveis por causa desse esquema de segurança diferente”.
De volta à GloboNews
A partir de 2019, Camila Bomfim voltou a ser vista na GloboNews. Além de fazer parte do rodízio de apresentadores do 'Jornal das Dez', passou a assumir a bancada do canal aos fins de semana, onde põe à prova seu talento para manter-se no ar com espontaneidade e carisma. A jornalista sustentou extensas transmissões no canal, como o sábado, 9 de novembro de 2019, em que o ex-presidente Lula discursou, em São Bernardo do Campo, um dia após deixar a prisão, onde passara mais de um ano, em decorrência de condenação no âmbito da Operação Lava Jato. Só neste dia, passou mais de 3 horas no ar. Também na morte do jogador de basquete norte-americano Kobe Bryant, que sofreu um acidente de helicóptero com a filha de 13 anos, no domingo, 26 de janeiro de 2020, Camila conduziu a cobertura da bancada por cerca de 3h30. No início deste mesmo ano, ela se destacou ao ancorar o 'Jornal das Dez' durante o ataque do Irã a bases americanas no Iraque.
No início de 2020, Camila estreou o primeiro plantão da GloboNews ancorado de Brasília. Em julho de 2021, ela passou a apresentar o 'Conexão GloboNews' direto de Brasília. O programa é exibido diariamente, das 9h às 13h, de três capitais do país. Além de Camila, conta com Leilane Neubarth, do Rio de Janeiro, e Daniela Lima, de São Paulo.
Na linha de frente da pandemia
O jornalismo profissional foi um dos serviços essenciais que continuaram ativos durante a pandemia de Covid-19. A crise mundial provocada pelo vírus teve várias feições e, no Brasil, veio acompanhada de uma crise política, com denúncias contra ministros, o então presidente Jair Bolsonaro e pessoas próximas de sua família, além de trocas no comando de pastas fundamentais, como saúde e justiça. A busca de informação confiável nunca foi tão importante, e Camila – com o rosto coberto por máscara, como todos os jornalistas que seguiram trabalhando nas ruas – foi uma das repórteres que se manteve na linha de frente da cobertura das movimentações e reflexos políticos do período.
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