Nelson Di Rago/Globo.

Augusto César Vannucci nasceu em 11 de janeiro de 1935, em Uberaba, interior de Minas Gerais. Ainda menino, começou no mundo artístico. Na rádio local, trabalhava como discotecário, locutor e imitava o cantor Vicente Celestino – grande sucesso da época, com quem chegou a cantar em cassinos da cidade.

Ainda adolescente, foi para o Rio de Janeiro com a mãe e venceu um concurso no programa de calouros Hora do Pato, da Rádio Nacional. Trabalhou em programas de rádio, mas acabou voltando para Uberaba. Novamente em sua cidade natal, seguiu na carreira artística, cantando, até que, aos 18 anos, decidiu tentar a sorte outra vez no Rio.

Teatro de revista

Na capital carioca, munido de uma carta de referência, fez testes com o teatrólogo Paschoal Carlos Magno, para o Teatro Duse. Imitando artistas como Charles Trenet, Jorge Goulart e Frankie Laine, além de locutores como Luiz Jatobá e Heron Domingues, e recitando um texto de Catulo da Paixão Cearense, passou no teste. Ingressou no teatro de revista, onde teve carreira produtiva e diversa, na frente e atrás dos palcos. Como ator ou diretor, trabalhou em mais de 50 peças ao longo da vida – principalmente comédias musicais, como Como Vencer na Vida Sem Fazer Força (1964), adaptação de Carlos Lacerda para a peça de Abe Burrows, Jack Wienstock e Willie Gilbert, e Alô, Dolly! (1966), adaptação de Haroldo Barbosa, Victor Berbara e Max Nunes para o espetáculo de Michael Stewart e Jerry Herman.

Enquanto no teatro, sua formação foi com o teatro de revista e as comédias musicais, no cinema se formou com as chanchadas – fez filmes com Oscarito (além de Colégio de Brotos, esteve em Esse Milhão É Meu, de 1959, também de Carlos Manga) e Mazzaropi (Zé do Periquito, de 1960, do próprio Mazzaropi e Ismar Porto). Desde a estreia, em Colégio de Brotos, dirigido por Carlos Manga, em 1955, atuou em 15 filmes entre os anos 1950 e 1970. Na TV, teve passagens pelas extintas TV Rio e TV Excelsior, antes de entrar na Globo.

Entrada na Globo

Augusto César Vannucci entrou TV Globo poucos meses depois da inauguração da emissora, em abril de 1965. Seu primeiro trabalho foi como apresentador do programa Câmara Indiscreta (1965). Inspirada no programa Candid Camera, famoso nos Estados Unidos, a atração apresentava flagrantes divertidos colhidos na rua – um antecessor das “pegadinhas”.

Contratado como ator, logo pediu uma chance a Boni e Walter Clark na direção, e conseguiu: em 1966, estreava o humorístico Canal 0, dirigido por ele, com apresentação de Paulo Silvino. O programa teve este nome até dezembro daquele ano. Em janeiro de 1967, passou a chamar-se TV0-Canal 0. Em abril de 1967, surgiu o TV1-Canal ½, programa similar comandado por Agildo Ribeiro, com a mesma equipe de realização. Em julho, os dois programas se uniram no TV0-TV1, que fazia paródias de outras atrações da televisão – e permaneceu com direção de Augusto César Vannucci.

Em 1967, dirigiu o programa Oh, que Delícia de Show, criado por Max Nunes e Haroldo Barbosa e apresentado pela atriz Célia Biar e pelo lutador de luta livre Ted Boy Marino. O programa exibia brincadeiras, números musicais e circenses. Na direção, Augusto César Vannucci foi um dos precursores dos clipes musicais, tendo gravado um número com o músico Pedro Mattar ao piano em diversos pontos do Rio de Janeiro.

No ano seguinte, integrou o elenco de um dos grandes sucessos da televisão brasileira, o humorístico Balança mas Não Cai. Nos primeiros anos, o programa era feito ao vivo. Uma estrutura giratória com quatro cenários diferentes garantia a agilidade da atração. Enquanto uma cena era exibida, as demais eram preparadas. Cabia ao diretor a passagem de uma cena para outra.

Em 1969, dirigiu Mister Show, programa de auditório apresentado por Agildo Ribeiro, que mostrava calouros-mirins, quadros humorísticos, entrevistas, imitações, conversas com artistas famosos e números musicais. O grande destaque, porém, era o boneco de pano Topo Gigio, um ratinho falante criado na Itália, que ganhou fama internacional. O quadro de 15 minutos em que Topo Gigio aparecia fez tanto sucesso que, quando o Mister Show acabou, em 1970, foi criado o programa infantil Topo Gigio Especial, também com direção de Augusto César Vannucci.

Augusto César Vannucci — Foto: Acervo/Globo.

Humorísticos

Na década de 1970, Augusto César Vannucci participou de alguns dos humorísticos mais famosos da TV Globo. Faça Humor, Não Faça Guerra (1970), programa de sátiras e esquetes protagonizado por Jô Soares e Renato Corte Real, teve a sua supervisão e foi considerado o primeiro humorístico a explorar uma linguagem própria de TV. Isto porque, se até o final da década de 1960, os programas do gênero eram basicamente adaptações de formatos inventados no rádio e no teatro de revista. Faça Humor, Não Faça Guerra começou a usar quadros de no máximo quatro minutos, alinhavados por piadas rápidas e cortes secos.

Em 1972, foi um dos diretores de UAU, a Companhia, que apresentava uma companhia teatral, com uma sequência de quadros que abordavam um tema específico por semana. O humorístico foi influenciado pelo Balança mas Não Cai, por seu dinamismo e velocidade, com perguntas e repostas curtas e muita dança. No ano seguinte, atuou em Chico City, com quadros e esquetes com os mais variados tipos criados por Chico Anysio, e Satiricom, uma sátira aos meios de comunicação. Aqui, ele voltava a trabalhar com Agildo Ribeiro, Jô Soares e Renato Corte Real. Em 1976, trabalhou em Sandra & Miele, um humorístico-musical apresentado por Miele e Sandra Bréa em 1976. O programa era um humorístico-musical apresentado por Miele e Sandra Bréa. Dividido em vários quadros intercalados por números musicais, mostrava situações e problemas cotidianos enfrentados por um homem e uma mulher. Além disso, eram apresentados números de balé e entrevistas – estas longe do seu formato tradicional: os convidados eram reunidos em quadros especiais, como uma festa ou uma reunião informal, onde todos ficavam à vontade.

Como diretor, ajudou a trazer Renato Aragão (Didi), Manfried Santana (Dedé), Antônio Carlos Bernardes Gomes (Mussum) e Mauro Gonçalves (Zacarias), os Trapalhões, para a Globo. O grupo existia desde 1966 na TV Excelsior (onde começara com outra formação) e já tinha passado pela TV Record e pela TV Tupi. A estreia do quarteto na Globo foi em 1977, com dois programas especiais, exibidos em janeiro e fevereiro. O sucesso foi tanto que o quarteto ganhou um programa semanal em março de 1977, com direção de Augusto César Vannucci, que também era um dos que assinava o texto.

Fantástico

De 1973 a 1977, Vannucci foi o supervisor-geral do Fantástico. O programa, criado pelo então diretor de Operações da Rede Globo, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, pretendia ser uma revista visualmente sofisticada que trabalhasse com a realidade e a ficção, representadas pelo jornalismo, pela dramaturgia e pela linha de shows. A primeira abertura, quando o programa ainda se chamava Fantástico, o Show da Vida, foi dirigida por Augusto César Vannucci, e mostrava duas crianças correndo para o centro de um cenário totalmente branco e descobrindo véus que ocultavam dançarinos vestidos com fantasias parecidas as do carnaval de Veneza. Uma dessas crianças era seu filho, Fabiano, que futuramente trabalharia como diretor de TV na emissora.

Infantojuvenis

Na linha de infantojuvenis, Augusto César Vannucci também se envolveu com diversos programas especiais. Em 1980, encarregou-se da direção-geral de Vinícius para Criança – A Arca de Noé, inspirado no disco infantil A Arca de Noé, com composições do poeta Vinícius de Moraes e produzido por Toquinho, Fernando Faro e Rogério Duprat. Em um cenário montado no Teatro Fênix, no Rio, os convidados apresentavam as músicas em meio a efeitos especiais, principalmente de chromakey, que transpunha para o vídeo as fantasias imaginadas por Vinicius de Moraes. Apresentado por Aretha, filha da cantora Vanusa (com quem Augusto César Vannucci fora casado) e do cantor Antonio Marcos, o programa foi premiado na nona edição do Emmy Awards, em 1981. Neste mesmo ano, dirigiu A Arca de Noé II, com poemas de Vinícius de Moraes musicados por amigos e parceiros.

Outros programas de destaque foram Pirlimpimpim (1982), que fazia parte das comemorações do centenário de nascimento de Monteiro Lobato; Plunct, Plact, Zuuum… (1983), cujo sucesso rendeu a produção de um disco; Casa de Brinquedos (1983); A Turma do Pererê (1983), criada pelo ilustrador Ziraldo, entre outros.

O especial do rei

Augusto César Vannucci dirigiu o primeiro especial de fim de ano do cantor Roberto Carlos, em 1974. Depois, de três edições afastado, reassumiu a direção do programa em 1985 e 1986, e, novamente, de 1988 a 1991. Ainda na linha de shows, foi responsável por Brasil Especial (1976) e Brasil Pandeiro (1978), assim como inúmeros especiais dedicados a grandes nomes da música brasileira, como Sérgio Mendes, Silvio Caldas, Noel Rosa, Dorival Caymmi, Milton Nascimento e Erasmo Carlos, entre outros.

Augusto César Vannucci e Roberto Carlos. — Foto: Eduardo França/Globo.

Outras atuações

Sua única investida na teledramaturgia da TV Globo foi com La Mamma (1990), uma parceria com Paulo Figueiredo. Juntos, adaptaram a obra homônima de André Roussin, uma comédia passada em 1920, tendo como centro a personagem La Mamma, interpretada por Dercy Gonçalves.

Adepto do espiritismo e amigo de Chico Xavier, Augusto César Vannucci também fundou o Centro Espírita Seareiros. Seu sobrenome, Vannucci, batiza até hoje um teatro no Shopping da Gávea, no Rio, que ele construiu e inaugurou em 1978. Morreu em 30 de novembro de 1992, no Rio de Janeiro, vítima de uma isquemia cerebral.

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