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Memória Globo

Rapaz tímido, crescido no interior, Artur Xexéo se tornou jornalista por acaso. Bom com números, primeiro quis ser engenheiro, mas trocou o curso pela Comunicação Social porque era “fácil de entrar e rápido para concluir”. O que ele não esperava era que iria se encantar pelo jornalismo e superar o medo de falar em público. Uma etapa necessária para que se tornasse um dos principais colunistas de cultura do Brasil. Xexéo começou no Jornal do Brasil e passou pelas redações dos maiores periódicos do Rio de Janeiro. Como colunista, seu texto crítico versa sobre cultura, política e comportamento. Ele confessa ter se inspirado no estilo de Stanislaw Ponte Preta (heterônimo de Sérgio Porto, quando escrevia no jornal Última Hora), autor que, segundo ele, “tinha muito do universo da televisão, do show business, comportamento político”. Nos últimos anos, o jornalista inaugurou uma nova fase na carreira ao se tornar comentarista de cultura da GloboNews. A boa aceitação do público o alçou ao posto de crítico de cinema durante a transmissão do Oscar na Globo.

A imprensa reflete o país, onde quer que ela esteja. Reflete por áreas. É o melhor veículo para reproduzir a vida cultural brasileira.
EXCLUSIVO: entrevista de Artur Xexéo sobre o início no Jornalismo, 2005.

EXCLUSIVO: entrevista de Artur Xexéo sobre o início no Jornalismo, 2005.

Início da carreira

Artur Oscar Moreira Xexéo nasceu no Rio de Janeiro em 5 de novembro de 1951. Filho de José de Mesquita Caldas Xexéo, oficial do Exército, e Zália Moreira Xexéo, dona de casa, Artur Xexéo passou a infância e o início da juventude em várias cidades do interior do Brasil. Quando se formou no colegial, deixou os pais em Juiz de Fora para cursar a faculdade de engenharia na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Retraído, craque em matemática, não podia imaginar que seu destino estava ligado às letras. Apaixonou-se pelo jornalismo e ingressou no curso de comunicação social, na Faculdade Hélio Alonso. Penou para conseguir um estágio: o nervosismo o fez desistir de boas oportunidades na imprensa carioca, mas, no último período, largou os trabalhos que acumulava na área de turismo e ingressou, em 1976, na editoria Geral do Jornal do Brasil. Durante dois anos, Xexéo fez do JB sua primeira escola. Mas foi na revista Veja onde ele cresceu na profissão. Em 1978, aceitou uma vaga de repórter na sucursal do Rio de Janeiro. Conheceu o jornalista Zuenir Ventura, que, em 1982, o convidaria para trabalhar na revista IstoÉ e, em 1985, para ser subeditor da Revista de Domingo, suplemento cultural do JB. A partir daí, Xexéo começou a se especializar em jornalismo cultural: “A Veja foi a minha principal escola, porque embora nós fôssemos contratados para trabalhar em áreas específicas, todo mundo podia entrar em outra editoria. Foi onde fiz as matérias mais diversificadas. Eu era da Geral, mas fazia cultura quando precisavam”, relata.

De volta ao JB, Xexéo conta que recebeu a orientação de reformular a Revista de Domingo, com Zuenir Ventura – a Domingo fora criada no final dos anos 1950, tendo como principais assuntos matérias de moda, beleza, culinária. Com a reforma, a revista tornou-se um caderno cultural mais amplo, voltado para comportamento, abordando pautas sobre música e literatura, deixando o suplemento mais atraente para os leitores cariocas. Como Xexéo gostava de dizer, “virou moda” – era uma revista para ser lida aos domingos na praia.

EXCLUSIVO: entrevista do jornalista Artur Xexéo ao Memória Globo, sobre sua coluna no JB, 2005.

EXCLUSIVO: entrevista do jornalista Artur Xexéo ao Memória Globo, sobre sua coluna no JB, 2005.

No Jornal do Brasil, Xexéo também foi editor do Caderno B, editor do caderno de Cidade e subsecretário de redação. Em 1992, foi convidado para ser um dos novos colunistas do jornal, em um momento em que Merval Pereira assumira como um dos chefes de redação e elaborava mudanças editoriais. Na coluna, Xexéo falava de cultura, televisão, política, sempre em um tom crítico, o que conquistou milhares de leitores assíduos – por diversas vezes, batera o recorde de cartas e telefonemas do periódico. E lá se foram 20 anos. “Eu não achei que ia fazer sucesso, com a maior transparência e verdade. Eu não queria que fosse um fracasso retumbante, passar vergonha, mas achei que ia fazer uma coluna para durar seis meses, aquelas colunas do JB nunca duravam muito tempo, então, achei que ia acabar. Mas não acabou”, analisa.

O Globo

Em 2000, Xexéo levou a coluna para o jornal O Globo. Nessa época, o Jornal do Brasil estava em crise financeira, atrasando salários e o colunista sentiu que não poderia desperdiçar o convite do concorrente. Em O Globo, também se tornou editor do suplemento Rio Show e, depois de dois anos, do Segundo Caderno. “Embora a base fosse agenda cultural, procurava que a capa fosse mais criativa, que fosse a aposta da revista naquele fim de semana, uma coisa mais importante para o mundo artístico. Ser capa do Rio Show poderia ser a garantia de sucesso do espetáculo. A minha base eram os espetáculos, cinema, relíquias dos museus do Rio de Janeiro”, relata.

EXCLUSIVO: entrevista do jornalista Artur Xexéo ao Memória Globo, sobre a imprensa, 2005.

EXCLUSIVO: entrevista do jornalista Artur Xexéo ao Memória Globo, sobre a imprensa, 2005.

Em outubro de 2000, Xexéo participou da cobertura das eleições pelo O Globo, entrevistou o então candidato à presidência, Ciro Gomes, e publicou o perfil do político.Como editor do Segundo Caderno, a partir de 2001, Xexéo procurava privilegiar o apelo ao público para emplacar matérias de capa: dependendo do entrevistado do dia ou da semana, valeria mais do que uma notícia mais quente, de cultura. Em junho de 2004, por exemplo, aprovou a ideia de fazer um caderno dedicado aos 60 anos de Chico Buarque. O suplemento contava com matérias dos principais jornalistas de O Globo sobre o compositor: João Máximo, Rodolfo Fernandes, Daniela Name, Hugo Sukman, Arnaldo Bloch. “A gente se empolgou à beça com o caderno, começamos a fazer três meses antes. Ouvimos 100 pessoas para falar de suas músicas preferidas. O caderno saiu com 16 páginas. Acho que todo mundo queria comemorar e homenagear o Chico, que mexeu com a vida de muitas gerações”, analisa.

Xexéo acreditava que um dos principais desafios da época em que era editor do Segundo Caderno era o de valorizar a crítica de cinema e teatro, apesar do espaço nos jornais terem reduzido muito ao longo das décadas. “Eu trabalho com orçamento, então eu sei quanto se gasta com o espaço da crítica. Mas eu acho que uma das saídas do jornalismo cultural hoje é valorizar o espaço da crítica”, analisa.

Rádio CBN

Em maio de 2001, Xexéo passou a ser comentarista da rádio CBN. Diariamente, conversava com Carlos Heitor Cony e Viviane Moss: “Comentamos tudo, qualquer assunto que passa pela frente, só que são cinco minutos diários. O âncora levanta o assunto e eu tenho dois minutos para falar. O Cony fala depois. No rádio, temos que falar rápido e pouco. Tem que ser claro, objetivo, rápido”, explica. 

Em 2010, Artur Xexéo deixou o cargo de editor do Segundo Caderno, passando a se dedicar à coluna no jornal, duas vezes por semana. Em 2015, ele deixou o jornal, retornando como colunista um ano depois. Para ele, o trabalho no jornalismo cultural sempre foi revelador: “a imprensa reflete o país, onde quer que ela esteja. Reflete por áreas. É o melhor veículo para reproduzir a vida cultural brasileira”.

GloboNews

Após tantos anos escrevendo sobre televisão, em junho de 2010, Xexéo se tornou comentarista de cultura do Estúdio I, da GloboNews. Começou a participar, em 2015, da transmissão ao vivo da premiação do Oscar pela Globo, ocupando o posto que pertencia a José Wilker.

Livros

Em 2005, o jornalista recebeu um convite do Instituto Rio Arte para fazer uma imersão na vida e obra da escritora Janete Clair, que resultaria na publicação de sua biografia oficial. “Eu cobri televisão muito tempo na Veja e entrevistei a Janete, cobri suas novelas e comecei a ver uma coisa que me deu vontade de escrever. A Janete era uma artista que se ressentia muito de não ser aceita pela intelectualidade, e eu comecei a ver que ela ia ficar feliz com o livro. Como se ela finalmente tivesse alcançado uma das coisas que mais almejava na vida: a aceitação da intelectualidade. Adorei prestar essa homenagem a ela”, conta.

Além da biografia, Xexéo escreveu o livro O torcedor acidental (2010), uma coleção de crônicas sobre os bastidores das coberturas que fez das Copas do Mundo de futebol. Em entrevista ao Memória Globo, ele contou que não é fã de futebol, mas, de tanto ser enviado para acompanhar mundiais, acabou registrando boas histórias.

EXCLUSIVO: entrevista do jornalista Artur Xexéo ao Memória Globo, sobre sua inspiração para escrever, 2005.

EXCLUSIVO: entrevista do jornalista Artur Xexéo ao Memória Globo, sobre sua inspiração para escrever, 2005.

Teatro

Apaixonado pela cultura, Arthur Xexéo também fez trabalhos de grande sucesso no teatro. Escreveu os musicais “A Garota do Biquíni Vermelho” (2010), dirigido por Marília Pêra, sobre a vida da atriz Sônia Mamede; e “Nós Sempre Teremos Paris” (2012), dirigido por Jaqueline Laurance e estrelado por Françoise Forton. Em 2016, Xexéo homenageou um dos maiores ícones do samba com o musical “Cartola – O Mundo é um Moinho”, espetáculo idealizado e produzido por Jô Santana, com direção de Roberto Lage. Em 2018, assinou o texto da comédia romântica “Minha Vida Daria um Bolero”, musical pocket estrelado por Françoise Forton e Aloísio de Abreu, dirigido por Rubens Camelo e Paulo Denizot. A última obra de Xexéo no teatro foi a adaptação do espetáculo americano “A Cor Púrpura”, com direção de Tadeu Aguiar.

Artur Xexéo morreu no dia 27 de junho de 2021, um domingo, aos 69 anos. Ele havia descoberto um linfoma duas semanas antes e começado o tratamento. Ele teve uma parada cardiorrespiratória e morreu na Clínica São Vicente, na Zona Sul do Rio de Janeiro, onde estava internado.

Artur Xexéo é convidado no programa Conversa com Bial, 2017. — Foto: Ramón Vasconcelos/Globo

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