Interessada inicialmente por Informática e Direito, Ana Pini encontrou no Jornalismo sua verdadeira vocação. Carioca, ela teve a primeira experiência na imprensa estagiando em um jornal impresso, O Dia, publicação em que pôde aprender bastante sobre a cobertura de acontecimentos da cidade. Essa bagagem seria importante em sua carreira na Globo. Contratada em 2000, depois de um período de estágio, começou sua caminhada na emissora no ‘RJ’, passando depois para o ‘Bom Dia Rio’ e para o ‘Bom Dia Brasil’, telejornal em que ocupa, desde janeiro de 2021, a função de principal liderança.
Início da carreira
A jornalista carioca Ana Pini Formiga nasceu em 30 de janeiro de 1976. Filha da geógrafa, professora e paisagista Maria Letícia Leonor Pini e do arquiteto Vicente Paulo de Lemos Formiga, ela não escolheu a Comunicação Social quando, pela primeira vez, precisou decidir que curso superior faria, no final da adolescência. A faculdade de Jornalismo, na verdade, foi a sua terceira opção, depois de passar por Informática e Direito, sem concluir os cursos. Tentou caminhos diferentes, até encontrar sua vocação, de fato. Formou-se pela PUC-Rio.
Antes de se formar e iniciar sua carreira na Globo, Ana Pini fez estágio em O Dia, jornal que à época, no final dos anos 1990, era importante na cobertura das notícias da cidade, no Rio de Janeiro. “Foi muito rico para minha formação. Ia para a rua com repórter, fotógrafo, motorista, conhecia tudo, não tinha celular, internet. A gente tinha e-mail, mas era no boca a boca, às vezes eu estava na rua, alguém passava e falava: ‘Aconteceu não sei o quê, não sei onde’. E a gente ia, parava e apurava”, conta.
Em seguida, ainda estudante, mas já no último período da faculdade, Ana Pini candidatou-se a uma vaga de estágio na Editoria Rio da Globo, passou e manteve-se no jornalismo mais factual, do dia a dia, em que já estava inserida, até então na imprensa escrita.
A porta de entrada na Globo foi a área de produção de reportagens, em que os profissionais marcam entrevistas, fazem apuração e cuidam de entradas ao vivo, entre outras tarefas. Formada em 1999 e contratada em 2000, a jornalista iniciou sua trajetória como produtora de reportagem trainee, tornou-se produtora e depois editora, atuando em vários telejornais: ‘Bom Dia Rio’, ‘RJ1’, ‘RJ2’.
Ana Pini participou de uma importante reformulação do ‘RJ1’, ocorrida em 2009, quando o telejornal passou a investir em um formato mais conversado e a dar espaço para os comentaristas, que traziam mais informações sobre assuntos da atualidade. “Naquele momento, a proposta para o ‘RJ 1ª edição’ foi fazer um jornal mais conversado, mais ágil. Uma das ideias era não ter um texto escrito no TP [teleprompter], o TP teria informação. A Ana Paula [Araújo, apresentadora à época] iria construir ali a conversa com o repórter que estava ao vivo, chamar uma reportagem e também fazer a interação com outra grande novidade desse formato, que eram os comentaristas.”
Coberturas
Uma das coberturas importantes em sua primeira década na Globo, a tragédia no Morro do Bumba, em Niterói, ocasionada pela chuva, aconteceu em abril de 2010. Na época, Ana Pini era editora do ‘RJ1’ e chegava normalmente à redação às 7h. Mas recebeu um telefonema para antecipar-se e, às 5h, já estava na Globo, para editar outro telejornal, o ‘Bom Dia Brasil’, que vai ao ar mais cedo. "Cheguei de manhã, tinha a matéria do repórter Tiago Eltz, que tinha passado a noite lá no Bumba, para editar para o ‘Bom Dia Brasil’. Era uma tragédia enorme, pelos relatos, pelas imagens, a gente via que era algo muito sério. Durante a noite, outras equipes foram deslocadas, não só para o local, mas para posto de saúde, para hospital. E aí editei a matéria do ‘Bom Dia’ com o texto que ele [Tiago Eltz] tinha deixado. (...) O dia amanheceu, é algo enorme, uma cobertura que dominou aquele dia, então, vamos fazer uma matéria para o ‘Jornal Hoje’. Com um pouquinho mais de tempo, o Tiago na redação ainda, eu consegui olhar outros discos e descobrimos mais imagens, mais situações, mais personagens. O ‘RJ1’ pediu uma versão da matéria. Fizemos eu, o mesmo editor de imagem e o Tiago. Para o ‘Jornal Nacional’, eu consegui olhar todos os discos e todo material. Eram relatos de partir o coração, muito sérios. O Tiago, lá no alto do morro, tinha entrevistado um morador que estava, com as próprias mãos, no meio da escuridão, cavando a terra, porque ele dizia: ‘Minha família inteira está aqui embaixo.”
Ainda em 2010, outra cobertura marcou a carreira de Ana Pini e levou à Globo a receber seu primeiro Emmy no Jornalismo: a ocupação da Vila Cruzeiro e do Complexo do Alemão. “Nessa época, eu estava coordenando o núcleo de carnaval, já dando início ao planejamento, às primeiras gravações, à produção das primeiras reportagens em séries para o carnaval de 2011. E houve uma sequência de episódios de violência, de ônibus incendiados. As autoridades de segurança quiseram dar um basta e fazer a ocupação. Num momento como esse, esses projetos e coberturas paralelas são paralisados. (...) Todo mundo se junta ao esforço daquela cobertura. Então, o núcleo de carnaval parou. Eu, os produtores, os editores, repórteres, nós todos nos colocamos à disposição da cobertura em geral. (...) E foi uma cobertura para o Rio enorme, porque virou uma cobertura em tempo real. Já não era mais um jornal que a gente estava fazendo de forma planejada, em que a gente: ‘Vou fazer esse vivo, tenho essa reportagem gravada’. Virou uma cobertura em tempo real", lembra.
Passada essa grande cobertura, Ana Pini coordenou o planejamento do carnaval de 2011 da Globo, um evento de pura brasilidade. O trabalho começou meses antes de o evento efetivamente acontecer e demandou muito trabalho de equipe. “A gente fazia uma programação que começava, se não me engano, em outubro. Então, são cinco meses de uma cobertura grande, com muita entrega de séries, de reportagens e depois, em cima da hora, o ‘RJ’ faz as ancoragens nos barracões, nas semanas chegando perto do desfile.”
As coberturas dos processos eleitorais também mobilizavam Ana Pini e a equipe do ‘RJ’. Informar as pessoas sobre questões como prazo e documentação para garantir o direito ao voto e permitir que os candidatos tivessem o mesmo tempo para apresentar seus projetos estavam, e seguem da mesma forma, entre as prioridades do jornalismo. Se a preocupação se mantém a mesma, nesse sentido, os telejornais foram sendo reformulados ao longo dos anos para ganhar mais leveza e interatividade, com muitas entradas ao vivo, possibilitadas por tecnologias de geração e transmissão de imagens.
Editora-chefe do ‘Bom Dia Rio’
Em 2011, Erick Brêtas, então diretor regional de Jornalismo, convidou Ana Pini a assumir o cargo de editora-chefe do ‘Bom Dia Rio’. Na nova função, além de acordar bem cedo, a jornalista precisou ficar ainda mais atenta às notícias do dia anterior, de maneira a pautar o telejornal que comandava, com o objetivo de torná-lo sempre atual e interessante. Ao mesmo tempo, o ‘Bom Dia Rio’ ficou mais flexível, para se adaptar aos acontecimentos do momento, na própria manhã, e ampliou o espaço dos comentaristas.
E a estreia do novo formato coincidiu com o lançamento do estúdio de vidro, em abril de 2011. Localizado no alto do prédio da sede da emissora, com vista panorâmica para a Zona Sul da cidade, o espaço permite que os telespectadores vejam, ao vivo, o Cristo Redentor, o Pão de Açúcar, o Jockey Club, o Jardim Botânico e a Lagoa Rodrigo de Freitas. “A hora do ‘Bom Dia Rio’ é a hora em que realmente o dia está começando, as pessoas estão acordando. A gente sempre fazia o jornal pensando que as pessoas estão se preparando para sair junto com a gente, com as informações que a gente está passando. Pode ter gente que nem abriu a janela ainda, não viu como o dia está lá fora, mas, no Glass, você já tem a ideia de como aquele seu dia vai começar.”
No seu período como editora-chefe do ‘Bom Dia Rio’, destacou-se a cobertura do desabamento de três prédios no Centro do Rio, em janeiro de 2012. “Aquele dia a gente fez um jornal muito voltado para a cobertura do que tinha acontecido. A gente saiu do ar, entrou o ‘Bom Dia Brasil’, e a gente voltou para o ar para uma cobertura local.”
Dois anos após assumir o ‘Bom Dia Rio’, um novo desafio foi apresentado à Ana Pini, em março de 2013: atuar como editora-executiva do ‘Bom Dia Brasil’, a convite de Vinicius Menezes, que passou a ser editor-chefe do telejornal. Antes mesmo de começar na nova função, a jornalista reforçou a equipe do ‘BDBR’ quando aconteceu o incêndio na Boate Kiss, que ocorreu em janeiro de 2013. A tragédia levou os apresentadores do ‘Bom Dia Brasil’ a Santa Maria (RS), onde o telejornal foi ancorado, por alguns dias.
Com essa perspectiva nacional, Ana Pini acompanhou temas importantes, como a Lava Jato, as manifestações contra o governo Dilma e o impeachment da presidente, e a greve dos caminhoneiros, permanentemente em contato com as sucursais e afiliadas, para afinar as coberturas. Um acontecimento que fez o planejamento do dia anterior ser alterado, nesse período, foi a queda do avião que levava a equipe de futebol da Chapecoense e jornalistas, em novembro de 2016. Como a aeronave havia caído na noite anterior e demorou a ser encontrada, as notícias foram apresentadas quase em tempo real, assim que eram apuradas e checadas. O ‘Bom Dia Brasil’ ficou mais de três horas no ar.
No plano internacional, as manifestações de repúdio ao assassinato de George Floyd por um policial, nos Estados Unidos, mereceram atenção especial em maio de 2020. O ‘Bom Dia Brasil’ exibiu os protestos e reportagens sobre as repercussões do fato, sobretudo junto ao movimento negro norte-americano. Ainda nesse contexto internacional, Ana Pini destacou a eleição americana como uma cobertura que sempre demanda planejamento e agilidade na execução, como foi a de Joe Biden, em novembro de 2020. “O jornal da eleição americana é sempre especial e demanda também essa virada de noite pra deixar tudo pronto. E, nos dias seguintes, seguimos acompanhando a divulgação do resultado, que não é como o nosso, rápido.”
Desafios da Covid
A pandemia, decretada em março de 2020, se mostrou um grande desafio para o trabalho jornalístico. “A gente foi descobrindo como cobrir, o que cobrir, conforme os fatos foram se apresentando. Era algo inédito, imprevisível. A ciência estava descobrindo o que era aquela doença, e a gente precisando saber como se posicionar conforme a epidemia evoluía, também conforme as autoridades iam respondendo à crise sanitária. E como a gente tinha que se posicionar para levar informação para as pessoas, que era absolutamente necessário naquele momento.”
Era fundamental levar à população informações sobre o número de infectados, as medidas de prevenção e as pesquisas a respeito de remédios e vacinas, mas sabia-se que, para isso, os jornalistas estariam entre os profissionais mais sujeitos a riscos, em função de seus deslocamentos. “Internamente, na Globo, foi dada uma importância à situação, muito rapidamente. Vieram protocolos que foram sendo aprimorados, houve distribuição de máscaras e de álcool. Colaboradores de mais idade, com determinadas doenças crônicas e estagiários passaram a trabalhar em casa, e os protocolos para testagem tiveram implementação”, enumera.
Editora-chefe do ‘Bom Dia Brasil’
Quando a Covid ainda era grave e gerava muita apreensão, em janeiro de 2021, Ana Pini foi novamente promovida e se tornou editora-chefe do ‘Bom Dia Brasil’. Se a carga de trabalho já era grande na antiga função, liderar o telejornal passou a exigir atenção durante 24 horas, mesmo fora do horário de trabalho.
Desde então, o telejornal levou ao ar assuntos de muita repercussão, como a invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro de 2022; o dia seguinte à tentativa de golpe no Brasil, no 8 de janeiro de 2023; e a guerra entre Israel e o Hamas, que estourou em outubro de 2023. No caso da Ucrânia, Ana Pini recebeu um telefone às 23h30, com o aviso de que a guerra havia começado. Ela se comunicou com a equipe da noite, para que todos só saíssem quando os jornalistas da manhã chegassem, e partiu para a redação às 2h, em plena madrugada. “A gente vive em um momento de excessos, de discursos muito radicais. Acho que o papel do jornalista é tentar limpar esses excessos e não perder de vista onde está a notícia, o que precisa ser dito, com objetividade. Acho que o nosso papel não é atender o que pede rede social e não ser pautado por isso, necessariamente. Esse é o grande desafio”, conclui.
FONTE:
Depoimento de Ana Pini ao Memória Globo em 11 e 18 de dezembro de 2023. |