O supertufão Haiyan atingiu as Filipinas e foi o mais forte já registrado a tocar a Terra. O ciclone chegou ao país na manhã de 8 de novembro de 2013, horário local, causando mortes e destruição. A cidade de Tacloban, na costa leste, foi uma das mais atingidas pelos ventos de até 315 km/h.
Segundo as autoridades, foram mais de dez mil mortos e dois mil desaparecidos, além de milhares de desabrigados. Após perder a força, o Haiyan seguiu para o Vietnã e para China, onde também deixou vítimas.
As Filipinas, formadas por mais de sete mil ilhas, ficam localizadas em uma região propensa a tufões. Todo ano, cerca de 20 atingem o arquipélago. Os terremotos também são comuns no país. Um mês antes da passagem do Haiyan, as Filipinas sofreram com tremor de 7.2 graus na escala Richter, que deixou centenas de desabrigados.
Reportagem de Márcio Gomes com as primeiras notícias sobre o tufão nas Filipinas. Jornal da Globo, 07/11/2013.
EQUIPE E ESTRUTURA
Márcio Gomes, correspondente da Globo em Tóquio, e o repórter cinematográfico Luciano Tsuda seguiram para as Filipinas pouco depois da passagem do Haiyan pelo país. “Fiquei atento desde que se anunciou a previsão de passagem daquele tufão. Sabia-se que seria grande. Por estar sozinho na Ásia, cobrindo todos os assuntos, a gente só pode viajar quando decididamente há algo para mostrar. Não há muito espaço para apostas, para não correr o risco de deixar a base de Tóquio e outros assuntos sem cobertura”, explica Márcio. No dia 11 de novembro, os dois desembarcaram em Manila, capital do arquipélago, e, no dia seguinte, seguiram para Tacloban a bordo do avião C-130 da Marinha americana que levava ajuda humanitária às vítimas. A equipe passou duas noites na cidade mais atingida pelo Haiyan, em condições precárias, como destacaram nas reportagens.
Márcio Gomes conta as dificuldades que enfrentarem durante a cobertura: “Numa tragédia como aquela, equilibrar as emoções é muito difícil. O cheiro dos corpos em decomposição, pessoas que sobreviveram, mas perderam tudo, a dimensão de estar testemunhando os efeitos de uma tragédia sem precedentes e as nossas dificuldades, medos, preocupações, tensões. Mas imagina a dificuldade de trabalhar tendo voltado no tempo: sem telefone, sem meios adequados de locomoção, com dinheiro no bolso, mas sem ter o que comprar para comer ou beber”.
SUPERTUFÃO
As primeiras notícias foram ao ar no Jornal da Globo de 7 de novembro. Marcio Gomes, correspondente da Globo na Ásia, informou pela internet que o tufão estava sendo considerado o maior do planeta. Era tão grande que as nuvens cobriam dois terços do arquipélago. O Haiyan, como estava sendo chamado, tocou a costa das Filipinas na manhã da sexta-feira, dia 8 (horário local). Os ventos de mais de 300 km/h trouxeram tempestades, causando alagamentos e deslizamentos de terra. O cenário era de destruição em Tacloban, uma das cidades mais atingidas.
Naquele momento, ainda era difícil dimensionar os estragos do Haiyan. A chegada de socorro à população estava sendo prejudicada pelas estradas bloqueadas. Além disso, as comunicações eram precárias e muitas cidades estavam sem luz.
ESTADO DE CALAMIDADE
No dia 9, o número de mortos passava de mil, segundo a Cruz Vermelha. As imagens de Tacloban, exibidas pelo Jornal Nacional naquela noite, eram impressionantes. A população sofria com a falta de água, comida e remédios. Em alguns lugares, o nível da água havia subido cinco metros. O isolamento de algumas regiões e a geografia do país também dificultava a chegada de ajuda, o que agravava a situação das vítimas.
No domingo, 10 de novembro, a estimativa do número de mortos já ultrapassava dez mil. Isso porque equipes de resgate chegaram às áreas antes isoladas no interior das Filipinas. A ajuda internacional começava a chegar a Tacloban, onde a população se dirigia ao aeroporto da cidade para receber mantimentos e remédios. Os saques aconteciam a qualquer hora do dia, gerando um clima de insegurança nas pessoas.
Reportagem de Márcio Gomes sobre a destruição causada pelo tufão Hayan nas Filipinas, Jornal Nacional, 09/11/2013.
Reportagem de Márcio Gomes sobre a situação nas Filipinas, após a passagem do tufão Hayan pelo país. Fantástico, 10/11/2013.
CORRESPONDENTES NAS FILIPINAS
Poucos dias após a passagem do Haiyan, os correspondentes Márcio Gomes e Luciano Tsuda seguiram para Manila, capital das Filipinas. A primeira reportagem da dupla direto da região foi ao ar no Jornal Nacional de 11 de novembro. Em uma base militar, de onde partiam os voos com alimentos, água e remédios para a população das áreas mais afetadas, a equipe encontrou pessoas que esperavam para embarcar para Tacloban atrás de notícias de parentes.
Reportagem de Márcio Gomes e Luciano Tsuda sobre o envio de ajuda humanitária para algumas regiões das Filipinas após a passagem do Tufão Hayan. Jornal Nacional, 11/11/2013.
TACLOBAN
A única alternativa para chegar a Tacloban era com a ajuda dos militares, uma vez que as estradas estavam bloqueadas e os voos comerciais, cancelados. E foi assim que, em 12 de novembro, Márcio Gomes e Luciano Tsuda conseguiram desembarcar na cidade que mais sofreu com a passagem do supertufão.
“Compramos uma passagem de avião comercial para uma cidade próxima, Cebu. Seria um jeito de ficarmos mais perto de Tacloban. Mas resolvemos tentar nossa a sorte na base, nos voos militares. Falamos que éramos do Brasil, precisávamos embarcar, e nos deixaram esperando por algum tempo. Eu estava com medo de perder nosso voo comercial, mas queria ter certeza se poderíamos ou não ir direto para Tacloban. Acabou que conseguimos embarcar num avião americano, C-130, com ajuda humanitária, médicos e duas equipes de TVs dos Estados Unidos – a Fox News e a CBS. Como foi tudo em cima da hora, não conseguimos comprar comida e água – tínhamos apenas uns pacotes de biscoito e quatro garrafas d’água”, conta Márcio Gomes.
Reportagem de Márcio Gomes sobre a situação em Tacloban, uma das regiões mais atingidas pelo Tufão Hayan em sua passagem pelas Filipinas. Jornal Nacional, 12/11/2013.
Os repórteres encontraram um cenário de guerra ao desembarcarem. “Como chegamos no fim da tarde, fiz um rápido boletim para aproveitar a pouca luz natural que ainda havia. Mostramos a destruição ao redor e enviamos ao Brasil a primeira reportagem de uma equipe brasileira no local atingido pelo tufão mais poderoso que se tem registro”, explica o correspondente.
Márcio Gomes e Luciano Tsuda pernoitaram numa área descoberta do que antes era o aeroporto de Tacloban. “Choveu durante à noite e nós tínhamos que enviar o material para o Brasil, por um equipamento que leva nosso sinal de internet por satélite, lento demais para o envio de imagens. Um suplício! No dia seguinte, racionando biscoito e água e sem dormir, fomos mostrar os estragos na cidade”, lembra Márcio
“ISSO AQUI ESTÁ UM INFERNO”
Já havia se passado cinco dias desde que o supertufão atingira as Filipinas, mas o cenário de destruição permanecia. Segundo a ONU, 11 milhões de pessoas passavam por necessidades básicas no país. Os saques continuavam em plena luz do dia, contribuindo para o clima de desespero. Os corpos permaneciam jogados nas ruas. A equipe da Globo, por segurança, montou uma base no aeroporto, onde passou mais uma noite.
O correspondente Márcio Gomes fala, ao vivo, direto de Tacloban, nas Filipinas, sobre o desespero da população e as dificuldades que ele e o repórter cinematográfico estavam vivendo após a passagem do Tufão Hayan. Jornal Nacional, 13/11/2013
Márcio Gomes fez uma entrada ao vivo, direto de Tacloban, no Jornal Nacional de 13 de novembro. O correspondente relatou o desespero da população e também as dificuldades que ele e o repórter cinematográfico estavam vivendo. “Sabia que teríamos um minuto para contar tudo que não havia entrado na nossa reportagem gravada – editada pelo Carlos Eduardo Bauer –, mas a editora Isabella Guberman me pediu que fizesse um relato mais pessoal do que estávamos vivendo ali. Fiquei feliz com isso, pois às vezes, à distância e já tendo visto tantas tragédias, alguns podem ficar meio ‘anestesiados’ para o que acontece do outro lado do mundo. É compreensível. Mas ao saber tudo que a equipe viveu, dá-se conta do que aquele povo estava passando”, destaca Gomes.
DE VOLTA A MANILA
No dia 14, o número oficial de mortos chegava a 4.460 e os desabrigados somavam 545 mil. Márcio Gomes e Luciano Tsuda conseguiram uma carona em um avião da Força Aérea Filipina e já estavam de volta à capital Manila. Os dois acompanharam o trabalho num dos postos de coleta de donativos, como mostrou a reportagem no JN daquela noite.
Reportagem de Márcio Gomes sobre a coleta de donativos nas Filipinas, após a passagem do Tufão Hayan pelo pais. Jornal Nacional, 14/11/2013.
UM BRASILEIRO ENTRE OS SOBREVIVENTES
A equipe do Fantástico localizou um brasileiro que sobreviveu à passagem do supertufão. A reportagem exibida pelo programa em 17 de novembro mostrou o depoimento de Felipe Cavalcanti, via Skype. Ele só conseguiu deixar o país na quarta-feira seguinte, quando embarcou para a Tailândia.
Reportagem de Márcio Gomes sobre a passagem do tufão Hayan, considerado o maior de todos os tempos e o depoimento de um brasileiro que sobreviveu ao desastre. Fantástico, 17/11/2013.
FONTES
Informações cedidas por Márcio Gomes em 05/05/2014; Fantástico, 10 e 17/11/2013; Jornal da Globo, 07/11/2013; Jornal Nacional, 08/11/2013, 09/11/2013, 11/11/2013, 12/11/2013, 13/11/2013, 14/11/2013. |