A experiência foi resultado de uma pesquisa de 12 anos realizada pelos médicos Patrick Steptoe e Robert Edwards, da Universidade de Cambridge. Louise é filha de Lesley e John Brown. O casal tentava ter um filho, mas devido a uma obstrução na trompa, Lesley não conseguia engravidar e recorreu ao médico Patrick Steptoe.
Reportagem de Sandra Passarinho sobre o nascimento do primeiro bebê de proveta, Jornal Nacional, 18/07/1978.
EQUIPE E ESTRUTURA
Sandra Passarinho, correspondente da Globo em Londres, acompanhou o nascimento do bebê da porta do hospital. Apesar da cobertura da chegada de Louise Brown ser de exclusividade do grupo Associated Newspapers, o repórter Hélio Costa conseguiu uma entrevista exclusiva com Patrick Steptoe, um dos médicos responsáveis.
DESTAQUES
SIGILO
A experiência, realizada em outubro de 1977, foi mantida em sigilo até o início de julho de 1978, data próxima ao nascimento do bebê, para preservar a gestação da criança. Louise Brown foi fecundada no laboratório, em uma proveta, com esperma do pai e um óvulo retirado do ovário da mãe. Após seis dias imerso em uma solução química, o embrião foi colocado no útero da mãe, preparado para recebê-lo.
A notícia do nascimento do bebê de proveta teve repercussão em todo mundo e, apesar de ter sido considerado um grande passo na história da medicina, causou polêmica sobre as questões éticas envolvidas na nova técnica de concepção
MÃE MILAGROSA
“O primeiro bebê de proveta pode nascer a qualquer momento”, informou o apresentador Cid Moreira em 18 de julho de 1978, quando foi ao ar a primeira matéria exibida pela Globo sobre o tema, no Jornal Nacional.
A correspondente Sandra Passarinho, em frente ao Hospital Geral de Oldham, explicou que a cobertura jornalística era exclusividade do grupo Associated Newspapers, e somente o Daily Mail e o Evening Standart, dois dos principais jornais em Londres, poderiam ter acesso ao bebê. Lesley e John Brown e os médicos teriam feito um contrato milionário com a Associated Newspapers. Sandra Passarinho explicou o processo da experiência e comentou ainda as manchetes dos jornais ingleses sobre o assunto. Os jornais chamavam Lesley Brown de “mãe milagrosa da Grã-Bretanha”.
MATÉRIA EXCLUSIVA
Apesar do contrato de exclusividade, o Fantástico exibiu, em 23 de julho de 1978, uma entrevista com o médico Patrick Steptoe realizada pelo repórter Hélio Costa. A reportagem discutiu os aspectos éticos da experiência e levantou questões como o surgimento de mães substitutas, que passariam a alugar o útero. Através de recursos visuais gráficos, o programa complementou a explicação dada pelo médico sobre o procedimento realizado em Leslie Brown.
Também foi exibida uma entrevista realizada pela repórter Márcia Mendes com Patrick Steptoe em 1974, no Rio de Janeiro, quando o médico participou de um congresso na cidade. A entrevista, no entanto, não havia sido levada ao ar na época, a pedido do médico.
NASCE LOUISE BROWN
Louise Brown veio ao mundo na madrugada do dia 25 de julho. No Jornal Hoje do mesmo dia, o apresentador Marcos Hummel anunciou o nascimento da criança e informou que o Vaticano manifestou sua posição contra o processo de fecundação artificial de bebês. Foi exibido também no telejornal trechos da entrevista do médico Patrick Steptoe, realizada por Hélio Costa, levada ao ar no Fantástico.
No Jornal Amanhã de 26 de julho, o então ministro da Saúde Almeida Machado foi entrevistado pela Globo e manifestou sua opinião sobre o assunto: “Enquanto tivermos sem solução para o problema dos dejetos humanos de quase 80 milhões de brasileiros, eu acho que não está na hora de pensar em provetinhas não. Eu prefiro pensar em privadas”.
Devido às declarações do ministro, o Fantástico de 30 de julho iniciou a reportagem sobre o nascimento do bebê de proveta com a pergunta: “Com quem você fica: com o bebê de proveta, ou com o bebê de sarjeta?”. O programa discutiu e analisou a experiência através de entrevistas com médicos brasileiros e da opinião pública. Para os médicos brasileiros, a experiência estaria longe de acontecer no Brasil devido ao alto custo do processo e à falta de recursos científicos.
De acordo com a pesquisa feita pelo Fantástico com a população, 32,2% dos entrevistados consideraram a experiência do bebê de proveta pouco importante; 28,8% acharam muito importante; e 29,3% responderam ser indiferentes. O programa mostrou ainda entrevistas com pessoas nas ruas. A maioria respondeu que preferiria adotar uma criança a ter um bebê de proveta.
Reportagens de Sandra Passarinho em 1978 (nascimento do primeiro bebê de proveta), 1996 (clonagem da ovelha Dolly) e 2005 (clonagem humana), com imagens de Sergio Gilz e Paulo Pimentel. Jornal Nacional, 27/04/2005.
CRIANÇA NORMAL
No Jornal Nacional de 24 de agosto, quando o bebê completava um mês de vida, o apresentador Cid Moreira informou que a BBC de Londres havia liberado as imagens do nascimento de Louise Brown. O público pôde vê-las pela primeira vez. Louise nasceu de cesariana para evitar eventuais problemas de um parto normal. Após ser retirada do útero de sua mãe, a primeira criança do mundo concebida in vitro chorou e, em seguida, dormiu tranquilamente, como qualquer outro recém-nascido.
Quatro anos após o nascimento de Louise, nascia sua irmã, Natalie, também concebida por fertilização in vitro. Natalie foi a primeira criança de proveta a conceber e dar à luz um filho naturalmente. Em 20 de dezembro de 2006, foi a vez de Louise Brown parir um bebê concebido naturalmente, também por parto normal.
FONTES
MEMÓRIA GLOBO. Jornal Nacional, a notícia faz história. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2005; Jornal Nacional (18/07/1978, 24/08/1978); Fantástico (27/07/1978, 30/07/1978, 22/10/1978); Jornal Hoje (23/07/1978); Jornal Amanhã (26/07/1978); Agenda CEDOC; Jornal do Século, suplemento do Jornal do Brasil; Globo 2000, suplemento de O Globo número 28; sites: http://www.tvcultura.com.br; http://www.biography.com/people/louise-brown 9542072. |