Sequestrada pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) em fevereiro de 2002, a ex-candidata à presidência da Colômbia Ingrid Betancourt foi libertada de seu cativeiro no dia 2 de julho de 2008, em uma operação comandada pelas forças armadas do país.
Fundadora de seu próprio partido, Oxigênio Verde, a franco-colombiana Ingrid Betancourt obteve a maior votação da história do país como senadora, em 1998. Durante sua campanha presidencial, fora desaconselhada a visitar a região de San Vicente de Caguán, onde ocorreu o sequestro. A cidade era controlada pelos guerrilheiros das Farc e estava sendo retomada pelo exército colombiano.
Com Ingrid estavam a advogada Clara Rojas, sua candidata à vice-presidência, um assessor e dois jornalistas. Os três homens logo foram libertados. As Farc propuseram a troca da candidata por algumas dezenas de guerrilheiros presos, o que foi recusado pelo governo colombiano.
Entrevista exclusiva com Ingrid Betancourt, logo após a sua libertação, realizada pelos repórteres Marcos Losekann e Sergio Gilz, 'Jornal Nacional', 08/07/2008.
EQUIPE E ESTRUTURA
Em fevereiro de 2002, pouco antes de Ingrid Betancourt ser sequestrada pelos guerrilheiros, os repórteres William Waack e Marco Antonio Gonçalves viajaram para a Colômbia para acompanhar o conflito entre o exército daquele país e as Farc. Durante uma semana, a equipe enviou reportagens repercutindo o sequestro da então candidata à presidência da república e também sobre a situação nas antigas zonas desmilitarizadas que estavam sendo retomadas pelo governo.
A partir de novembro de 2007, quando foram divulgadas imagens de Ingrid Betancourt no cativeiro, os correspondentes da Globo na Europa e na América Latina cobriram os acontecimentos que antecederam sua libertação e a repercussão da operação de resgate liderada pelo exército colombiano.
Os repórteres Vinícius Dônola e Ari Peixoto foram enviados a Bogotá e a Caracas em diferentes momentos para acompanharem a libertação de outros reféns das Farc e, posteriormente, o reencontro de Ingrid com seus familiares.
Em Paris, Sônia Bridi cobriu a reação do governo francês e as negociações em torno da libertação da ex-senadora. Como Ingrid Betancourt tem nacionalidade franco-colombiana, o presidente Nicolas Sarkozy se envolveu diretamente no caso. A repórter entrevistou, com exclusividade, o filho caçula de Ingrid, Lorenzo Betancourt. Em julho de 2008, Marcos Losekann, que na época trabalhava como correspondente em Londres, acompanhou a chegada de Ingrid Betancourt a Paris.
AS FARC
As primeiras notícias sobre o sequestro de Ingrid Betancourt foram ao ar no Fantástico de 24 de fevereiro. Os repórteres William Waack e Marco Antonio Gonçalves, que estavam na Colômbia para cobrir o acirramento do conflito entre o exército colombiano e as Farc desde o fim das negociações de paz, acompanharam o caso. “Por coincidência, eu estava no lugar onde Ingrid Betancourt foi sequestrada 15 minutos depois da ação dos guerrilheiros”, lembra Waack, “quando chegamos lá, o ônibus usado para bloquear a estrada ainda estava pegando fogo”.
Em sua reportagem, exibida pelo 'Jornal Nacional' no dia seguinte, Waack mostrou a situação da região recém-ocupada pelo governo colombiano. Os acampamentos dos rebeldes estavam sendo saqueados pela população civil. Apesar da aparência de abandono, a guerrilha ainda permanecia no local, mas escondida.
Primeiras notícias do sequestro de Ingrid Betancourt, ex-candidata à presidência da Colômbia, Fantástico, 24/02/2002.
Ao longo daquela semana, outras reportagens de William Waack, exibidas pelo 'Bom Dia Brasil', 'Jornal Hoje', 'Jornal Nacional' e 'Jornal da Globo', mostraram a violência na zona desmilitarizada da Colômbia por conta dos sucessivos ataques dos rebeldes e as medidas do governo daquele país para conter o terrorismo. Em 1º de março, o 'JN' exibiu uma entrevista exclusiva do repórter com um guerrilheiro brasileiro das Farc, conhecido como Bonner. Na conversa, ele falou sobre a relação da guerrilha colombiana com o tráfico no Brasil, inclusive sobre os negócios de Fernandinho Beira-mar.
“Foi uma oportunidade de mostrar a maneira equivocada como boa parte dos responsáveis pela formulação da política externa brasileira encarava as Farc, o que elas significam como fator de desestabilização e como importante elemento do crime organizado no Brasil. O grupo não existe para outra coisa a não ser para dominar o tráfico. Os seus principais dirigentes se transformaram em narcotraficantes. Viver a ilusão de que aquilo é uma guerrilha, que está lutando por justiça social, é a pior cegueira que existe.”, explica William Waack.
QUATRO ANOS SEM NOTÍCIAS
Cinco meses depois do sequestro, as Farc divulgaram um vídeo no qual Ingrid Betancourt pedia para que o governo reabrisse as negociações com o grupo. Em 1º de setembro de 2003, o Bom Dia Brasil informou sobre um novo vídeo, em que a ex-senadora aparecia magra e abatida, reforçando o apelo para o resgate. Com a recusa do governo em negociar com a guerrilha, o mundo ficou sem notícias de Ingrid Betancourt até 2007.
Em 30 de novembro de 2007, os telejornais da TV Globo divulgaram imagens de cinco vídeos encontrados pelo exército colombiano ao prender três guerrilheiros das Farc em Bogotá. Ingrid aparecia com outras 16 pessoas que o grupo mantinha como reféns e propunha trocar por rebeldes presos. Junto com os vídeos foi achada uma carta na qual a ex-senadora contava o cotidiano na selva e dizia estar com a saúde debilitada.
Na semana que sucedeu a aparição desses vídeos, a correspondente Sônia Bridi acompanhou a reação dos filhos de Ingrid Betancourt em Paris, assim como os pronunciamentos do presidente da França pedindo mais esforços para sua libertação. Como Ingrid tinha também nacionalidade francesa, o governo daquele país envolveu-se oficialmente no caso. As matérias foram ao ar no 'Jornal Nacional' e no Bom Dia Brasil. Em 2 de dezembro, o Fantástico exibiu a mensagem que Yolanda Pulecio, mãe da sequestrada, deu à televisão da Venezuela pedindo para que a filha não perdesse as esperanças.
Em 24 de dezembro, véspera do 46º aniversário de Ingrid Betancourt, o 'Jornal Nacional' contou que seu marido, Juan Carlos Lecompte, mandou fazer 22 mil panfletos com a foto dos filhos e jogou-os do alto de um helicóptero sobre a selva colombiana, na esperança de que algum chegasse a suas mãos.
A LIBERTAÇÃO DE CLARA ROJAS E CONSUELO GONZÁLES
Em 10 de janeiro de 2008, em uma operação liderada pelo presidente da Venezuela Hugo Chávez, foram libertadas Clara Rojas e a ex-deputada Consuelo Gonzáles. A libertação aconteceu dez dias depois de uma tentativa fracassada de resgate, que provocou uma troca de acusações entre os governos da Colômbia e da Venezuela. Os repórteres Vinícius Dônola e Luiz Claudio Azevedo foram enviados a Bogotá especialmente para acompanhar o caso.
A cobertura completa – com reportagens de Ari Peixoto, em Caracas, Jorge Pontual, em Nova York, e Sônia Bridi, em Paris – foi exibida em todos os telejornais do dia seguinte. Em entrevista à TV venezuelana, as ex-reféns deram detalhes sobre o período em que estiverem nas mãos dos rebeldes. Clara Rojas, que fora sequestrada com Ingrid Betancourt, tivera um filho com um guerrilheiro durante o cativeiro. Descobriu-se que o menino, Emanuel, fora separado da mãe com apenas oito meses e estava em Bogotá, onde foi localizado pelas autoridades. As duas também trouxeram provas de vida de outros 15 sequestrados.
O correspondente Jorge Pontual conversou com exclusividade com Melanie Betancourt, filha de Ingrid Betancourt que estudava cinema nos Estados Unidos. As reportagens também mostraram a repercussão na França, onde morava o filho, Lorenzo Betancourt.
Reportagens de Vinícius Dônola, Poliana Abritta e Sônia Bridi sobre a libertação de duas reféns, entre elas a advogada de Ingrid Betancourt, Clara Rojas, que estavam sobre o domínio das FARC, 'Jornal Nacional', 10/01/2008.
Reportagem de Ari Peixoto sobre as provas de vida de prisioneiros entregues pela ex-refém das Farc, Consuelo González, 'Jornal Nacional', 15/01/2008.
APELOS PELA LIBERTAÇÃO
No dia 27 de fevereiro, mais quatro ex-congressistas colombianos foram libertados pelas Farc, conforme contou o correspondente Ari Peixoto, de Buenos Aires, ao 'Jornal Nacional'. Os ex-reféns fizeram um apelo pela libertação de Ingrid Betancourt, dizendo que seu estado de saúde era muito grave.
Um mês depois, o presidente colombiano Álvaro Uribe assinou um decreto no qual se mostrava disposto a trocar prisioneiros das Farc pela ex-candidata a presidência, Ingrid Betancourt, que estava doente, com hepatite B. No dia seguinte, 28 de março 'Jornal Nacional' exibiu uma entrevista exclusiva com Lorenzo, filho de Ingrid, realizada pelos repórteres Sônia Bridi e Paulo Zero.
Reportagem de Ari Peixoto sobre a libertação de quatro ex-congressistas colombianos sequestrados a mais de seis anos pelas FARC, 'Jornal Nacional', 27/02/2008.
Entrevista exclusiva dos repórteres Sônia Bridi e Paulo Zero com Lorenzo, filho de Ingrid Betancourt, 'Jornal Nacional', 28/03/2008.
“Eu sabia que ele estava em Paris; e ela estava para ser libertada a qualquer momento. Entrei em contato com o comitê e pedi uma entrevista com ele. Você vai insistindo, insistindo, insistindo – um belo dia, eu tive a oportunidade de fazer a entrevista. Eu vou dizer uma coisa: poucas coisas amadurecem tanto as pessoas quanto o sofrimento. Esse menino me desmontou com a maturidade dele, com a entrevista tão forte e a capacidade de um garoto – ele estava com 19 para 20 anos – de articular tão bem. Você olha nos olhos dele, sabe que há um turbilhão de emoções ali dentro, mas ele se segura e completa o raciocínio. Fiquei perturbada durante alguns dias, na verdade, depois de entrevistá-lo”, relembra Sônia Bridi.
Entrevista exclusiva de José Roberto Burnier com Juan Carlos Lecompte, marido de Ingrid Betancourt, sequestrada pelas FARC, 'Jornal Nacional', 31/03/2008.
Em 31 de março, o marido de Ingrid Betancourt, Juan Carlos Lecompte, deum uma entrevista ao 'Jornal Nacional', pedindo a intervenção do presidente Lula nas negociações para o resgate de sua mulher e relatando detalhes aterrorizantes da vida de Ingrid no cativeiro. No mesmo dia, participou do Programa do Jô.
À medida que apareciam mais notícias sobre a piora do estado de saúde de Ingrid Betancourt, cresciam os apelos para seu resgate. Além de hepatite B, ela esava com Leishmaniose e em greve de fome. O presidente da França, Nicolas Sarkozy, fez numerosos pronunciamentos e chegou a mandar, junto com outros países europeus, um avião à Colômbia para buscá-la – o que não deu certo – e se oferecer para ir pessoalmente recebê-la.
A LIBERTAÇÃO
A notícia da libertação de Ingrid Betancourt foi dada em primeira mão no 'Jornal Nacional' do dia 2 de julho de 2008. Agentes das forças armadas colombianas, infiltrados nas Farc desde fevereiro de 2007, conseguiram libertar 14 reféns do grupo, entre os quais estavam três engenheiros norte-americanos e membros da polícia e do exército colombiano. A operação foi realizada sem derramamento de sangue, facilitando novas negociações para futuras libertações. O correspondente em Buenos Aires, Ari Peixoto, deu os detalhes sobre a recepção dos libertos. E uma reportagem de Sônia Bridi traçou um histórico do sequestro e das movimentações para o resgate.
Reportagens de Ari Peixoto e Sônia Bridi sobre a libertação de Ingrid Betancourt que estava desde 2002 sequestrada pelas FARC, 'Jornal Nacional', 02/07/2008.
Reportagens de Lilia Teles e Carlos de Lannoy sobre a repercussão da libertação de Ingrid Betancourt pelas FARC, 'Jornal Nacional', 02/07/2008.
Reportagens de Ari Peixoto e Sônia Bridi sobre a libertação de Ingrid Betancourt que estava desde 2002 sequestrada pelas FARC, 'Jornal Nacional', 02/07/2008.
Reportagem de Ari Peixoto sobre o reencontro da ex-refém das Farc Ingrid Betancourt com os dois filhos, 'Jornal Nacional', 03/07/2008.
Reportagem de Marcos Losekann sobre a recepção da franco-colombiana Ingrid Betancourt pelo presidente da França, Nicolas Sarkozy, após ser libertada pelas FARC, Jornal Nacional, 04/07/2008.
FONTES
Depoimentos concedidos ao Memória Globo por: Marcos Losekann (28/05/2009), Sônia Bridi (26/10/2009 e 08/02/2010), William Waack (21/03/2012); Bom Dia Brasil, 28/02/2002, 01/09/2003, 11/01/2008; Fantástico, 24/02/2002, 02/12/2007; Jornal da Globo, 25/02/2002, 27/02/2002, 30/11/2007, 11/01/2008, 02/07/2008; Jornal Nacional, 23/02/2002, 25/02/2002, 28/02/2002, 01/03/2002, 30/11/2007, 24/12/2007, 10/01/2008, 11/01/2008, 27/02/2008, 27/03/2008, 28/03/2008, 31/03/2008, 02/07/2008, 03/07/2008, 04/07/2008, 08/07/2008. |