Por Memória Globo

Frame de vídeo / Globo

O nome intifada, ou “revolta das pedras”, foi cunhado a partir de um conflito na região, em dezembro de 1987, quando palestinos enfrentaram o exército de Israel com pedaços de pau e pedras. A Primeira Intifada durou até 1993, com constantes ataques da população civil palestina contra a presença israelense e contra-ataques violentos. A paz foi selada pelos líderes de Israel e da Palestina na Casa Branca (EUA), por intermédio do então presidente norte-americano Bill Clinton.

A violência na região voltou em setembro de 2000, quando o líder do partido de oposição da extrema direita israelense, Ariel Sharon, fez um discurso reafirmando o controle sobre os territórios reivindicados pelos palestinos. Era o início de uma nova intifada, dessa vez mais violenta.

Reportagem de Caco Barcellos e Sergio Gilz sobre o dia a dia na frente de batalha entre palestinos e israelenses. Fantástico, 14/04/2002.

Reportagem de Caco Barcellos e Sergio Gilz sobre o dia a dia na frente de batalha entre palestinos e israelenses. Fantástico, 14/04/2002.

DESTAQUES

A primeira intifada
A partir de 1988, a Globo passou a noticiar os conflitos entre palestinos e israelenses nos territórios árabes ocupados por Israel.

A segunda intifada
A partir dos anos 2000, a Globo acompanhou de perto os novos conflitos entre israelenses e árabes, assim como as consequências que traziam para a população.

EQUIPE E ESTRUTURA

A cobertura da primeira intifada foi feita essencialmente com material de agências, em notas cobertas ou a partir de correspondentes em Londres, como Renato Machado e Pedro Bial.

Em 12 de dezembro de 1987, no quarto dia de confrontos, o Jornal Nacional mostrou as primeiras imagens dos militantes palestinos usando paus e pedras, enquanto os soldados israelenses revidavam com bazucas, bombas, tiros e tanques.

Após sete anos de conflitos, a assinatura de um acordo de paz entre os líderes de Israel e da Palestina foi acompanhado pelo correspondente nos Estados Unidos, Paulo Henrique Amorim. O repórter Silio Boccanera mostrou a reação da população na Cisjordânia.

A partir dos anos 2000, a Globo acompanhou de perto os novos conflitos entre israelenses e árabes, assim como as consequências que traziam para a população. O repórter Marcos Uchoa e o cinegrafista Paulo Pimentel fizeram uma série para o JN sobre o cotidiano dos povos vizinhos, intitulada Convívio e Guerra. Em 2002, o jornalista Caco Barcellos e o repórter cinematográfico Sergio Gilz mostraram os conflitos na Palestina.

A partir de 2004, foi inaugurada a sétima praça internacional da Globo em Jerusalém, com o correspondente Marcos Losekann, que permaneceu no posto por dois anos. Sobre seu tempo em Israel, Marcos Losekann relembra: “Inicialmente a Globo pensou em estabelecer sua praça em Tel Aviv, mas eu mesmo, chegando lá, disse ao Ali Kamel (na época, diretor executivo da Central Globo de Jornalismo) e ao Carlos Henrique Schroder (então diretor da CGJ) que tinha que ser em Jerusalém. Tel Aviv é uma cidade totalmente israelense; Jerusalém é uma cidade do mundo. Fui muito feliz nos três anos em que fiquei lá. E caí no olho do furacão, com a segunda intifada ainda em alta. O muro que separa Israel dos territórios não estava pronto, os terroristas vinham e se explodiam nas ruas ainda com certa intensidade. Comecei a descobrir que aquele era um jornalismo perigoso, mas realmente vivo. Ali eu estava vivendo, estava sendo correspondente internacional da Globo, uma coisa que realmente fazia jus ao meu preparo e a tudo que eu tinha vivido. Não demorou para começar a acontecer coisas, matérias interessantíssimas.”

Após Losekann, foram correspondentes da Globo em Israel: Alberto Gaspar, Ari Peixoto, Carlos de Lannoy e Rodrigo Alvarez.

A PRIMEIRA INTIFADA

Conflito fora de controle

Em janeiro de 1988, tropas de Israel avançaram sobre manifestantes na Mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém, o terceiro local mais sagrado do islamismo, matando 30 pessoas. As manchas de sangue no chão da Esplanada das Mesquitas foram exibidas no Jornal Nacional. O ataque israelense provocou reações ainda maiores, aumentando a violência nos protestos. Em 16 de abril de 1988, o assassinato de um dirigente da OLP (Organização para Libertação da Palestina) exilado na Tunísia gerou mais protestos que terminaram com 12 palestinos mortos por forças de Israel. Nesse dia, de Londres, Renato Machado afirmou que o conflito saíra do controle de qualquer Estado.

No dia 15 de novembro de 1988, a proclamação simbólica da independência palestina, durante um congresso da OLP na Argélia, foi reconhecida por 14 países, mas rejeitada por Israel e os EUA. Na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, civis palestinos tentaram comemorar, mas as festas foram impedidas por policiais israelenses.

Banhos de sangue

A intifada continuou e piorou em agosto de 1990, quando o Iraque invadiu o vizinho Kuwait e ameaçou atacar Israel como retaliação, caso houvesse interferência ocidental (o que de fato fez durante a Guerra do Golfo, em janeiro seguinte). A tensão fez com que o preço do barril de petróleo ultrapassasse o valor de US$ 40 em Londres e Nova York – um recorde na época.

Em 8 de outubro, depois que os soldados israelenses mataram 21 palestinos e feriram 150 nos territórios ocupados, houve uma mudança de atitude da comunidade internacional. De Londres, o repórter Pedro Bial informava que a então URSS, a Comunidade Europeia e até os EUA, tradicionais aliados de Israel, condenaram o uso da força para reprimir os protestos de palestinos desarmados, chamando o confronto de “banho de sangue”. No dia seguinte, o papa João Paulo II se uniria à condenação. Houve protestos ainda na Inglaterra, no Líbano e na Jordânia. A partir de então, o governo de Yitzhak Shamir orientaria seus soldados a usar balas de borracha e gás lacrimogêneo caso os manifestantes não portassem armas de fogo.

Aperto de mãos

Os confrontos duraram sete anos e só foram contidos em 1993, quando o presidente da OLP, Yasser Arafat, e o novo primeiro-ministro de Israel, Yitzhak Rabin, assinaram um acordo de paz em Washington, nos EUA. O correspondente Paulo Henrique Amorim acompanhou a cerimônia de assinatura nos jardins da Casa Branca e comentou o desconforto de Rabin quando o presidente norte-americano, Bill Clinton, puxou-o para um aperto de mão com Arafat. Na saída, Amorim entrevistou o ex-presidente Jimmy Carter; o escritor e ganhador do Prêmio Nobel da Paz, Elie Wiesel; a viúva de Anwar Sadat, do ex-presidente do Egito, Jehan Sadat; e a representante da OLP nos EUA, Hanan Ashrawi, que participou das negociações – todos se mostravam otimistas.

O repórter Silio Boccanera foi enviado a Jericó, na Cisjordânia, onde os palestinos comemoravam o acordo e, pela primeira vez, podiam tremular suas bandeiras livremente. Em 1995, Rabin seria assassinado à queima-roupa por um judeu radical contrário ao tratado de paz.

A SEGUNDA INTIFADA

Aviolência na região foi noticiada novamente no Jornal Nacional em 2000. No dia 28 de setembro, Ariel Sharon, líder do partido de oposição da extrema direita israelense, fez um discurso reafirmando o controle sobre os territórios reivindicados pelos palestinos. Naquele mesmo mês, Sharon visitou a mesquita de Al Aqsa, na parte árabe de Jerusalém. Os palestinos encararam a visita como uma provocação. Era o começo da segunda intifada.

Uma reunião entre o primeiro-ministro de Israel, Ehrud Barak, e Yasser Arafat foi marcada para tentar um acordo de paz. No dia 3 de outubro, véspera do encontro, o Jornal Nacional exibia imagens que mostravam que a violência na região não tinha diminuído. No telejornal, o repórter Ernesto Pagliadestacou que o exército de Israel tinha lamentado a morte de um menino palestino de 12 anos, nos braços do próprio pai. As imagens mostravam um homem pedindo em vão que os soldados parassem de atirar.

O presidente americano Bill Clinton promoveu um novo encontro entre os líderes de Israel e da Palestina, mas o acordo de paz não foi firmado. Em 2001, Ariel Sharon foi eleito primeiro-ministro de Israel. A situação se agravou ainda mais nos anos seguintes. A segunda intifada vem sendo marcada pela ação de homens-bomba dos grupos terroristas Hamas e Jihad.

Em 28 de setembro de 2001, quando a segunda intifada completou um ano, o Jornal Nacional exibiu uma matéria de Marcos Losekann resumindo as causas e consequências do conflito, mostrando imagens dos combates e os parentes das vítimas chorando nos cemitérios.

Filhos da violência

No início de dezembro de 2001, Yasser Arafat foi impedido pelo Estado de Israel de se locomover na Cisjordânia. Naquele mesmo mês, o Jornal Nacional levou ao ar, durante uma semana, a série Convívio e Guerra, com matérias do repórter Marcos Uchoa e do cinegrafista Paulo Pimentel sobre o cotidiano de palestinos e israelenses sob a intifada. Os dois visitaram sobreviventes de atentados e tiroteios, como uma adolescente israelense de 15 anos que teve o cérebro afetado por um estilhaço de metal durante um atentado a bomba. Na cidade palestina de Hebron, uma psicóloga que fazia um trabalho especial com vítimas da violência mostrou desenhos e pinturas de crianças que aprenderam a dizer a palavra “tiro” antes de falarem “papai” e “mamãe”.

Emboscada em Israel

O repórter Caco Barcellos e o repórter cinematográfico Sergio Gilz acompanham a situação do conflito no centro histórico de Belém. Jornal Nacional, 04/04/2002.

O repórter Caco Barcellos e o repórter cinematográfico Sergio Gilz acompanham a situação do conflito no centro histórico de Belém. Jornal Nacional, 04/04/2002.

Caco Barcellos e o repórter-cinematográfico Sergio Gilz cobriram, em abril de 2002, o conflito entre palestinos e israelenses. Israel decidiu expandir suas operações militares na Cisjordânia, enviando tropas e tanques para seis cidades palestinas, como uma resposta a atentados suicidas palestinos em Jerusalém.

As reportagens exibidas entre os dias 4 e 15, mostravam a ocupação da cidade de Belém pelas tropas israelenses, a libertação dos religiosos presos na Igreja da Natividade durante o confronto e a destruição provocada pelo bombardeio de Israel, em Nablus, na Cisjordânia. As imagens destacavam ainda crianças brincando sobre destroços da cidade e as dificuldades dos palestinos em reconstruir suas vidas.

No território israelense, os repórteres brasileiros foram acompanhados por um produtor local. Quando foram para o lado palestino, precisaram seguir sozinhos. Mostraram Belém, uma cidade-fantasma – prédios incendiados, carros queimados –, e, a caminho da Igreja da Natividade, foram parados por soldados israelenses, mas, em seguida, liberados. “Eu acho que você tem o dever de fazer uma reportagem com equilíbrio, tem sempre que ouvir os dois lados. Ouvi o lado de Israel, que não queria me deixar entrar na zona de guerra. Eu forcei, realmente, uma situação. Fiquei rodando até achar um ponto em que eu pudesse furar o bloqueio. Consegui entrar em Jerusalém, em estado de alerta. Conseguimos furar o bloqueio com a ajuda dos palestinos. Mostramos como é uma cidade-fantasma, sem ninguém nas ruas. Quase fomos agredidos pelos soldados de Israel, mas acabou muito bem”, lembra Caco Barcellos, em entrevista ao Memória Globo.

Além de granadas e tiroteios, os ataques também eram feitos por homens-bomba. Caco e Gilz acompanharam os desdobramentos de um ataque suicida perto de uma feira em Jerusalém. “Vimos de perto o desespero dos feridos, e a revolta de quem pode ser a próxima vítima”, disse Caco, em matéria para o Fantástico, exibida no dia 14.

Reportagem de Caco Barcellos e Sergio Gilz sobre o dia a dia na frente de batalha entre palestinos e israelenses. Fantástico, 14/04/2002.

Reportagem de Caco Barcellos e Sergio Gilz sobre o dia a dia na frente de batalha entre palestinos e israelenses. Fantástico, 14/04/2002.

Intifada (2002)

Intifada (2002)

Para se protegerem no front, os jornalistas usavam colete, que não foi suficiente para salvar a vida de muitos repórteres. Na mesma matéria do Fantástico, Caco relatou que um cinegrafista egípcio morreu, baleado no pescoço. Dias depois, a câmera de uma equipe francesa também estava ligada quando o repórter foi atingido no peito com um tiro de fuzil. O colete amorteceu o projétil, que ficou alojado a centímetros do coração do jornalista.

Caco e Gilz registram os dois lados do conflito. Entraram nas casas dos palestinos para mostrar as consequências das ações de Israel em Nablus. A equipe filmou ruínas, feridos sendo tratados em mesquitas, covas coletivas e ambulâncias furadas de bala. Os soldados israelenses se incomodaram com a exposição do cenário de guerra e revidaram.

Mesmo com autorização do Exército de Israel, o carro da dupla, no qual também estava a correspondente do jornal O Globo, Débora Berlinck, foi metralhado por soldados israelenses. Caco estava dirigindo. Gilz continuou gravando. Um pneu estourou com as balas, e Caco continuou dirigindo na roda de ferro, chegando a passar entre dois tanques que atiravam contra eles. As cenas foram exibidas em matérias do Jornal Nacional e do Jornal da Globo, no dia 15 de abril. A equipe voltou ao Brasil logo após o episódio

Em depoimento ao Memória Globo, Sergio Gilz conta que os soldados israelenses “atiraram de propósito, para assustar. Foi uma loucura, se durou dois minutos foi muito, mas parece que durou duas horas”.

Correspondente em Jerusalém

Reportagem de Marcos Losekann sobre o estado de saúde de Ariel Sharon, Jornal Nacional, 10/01/2006.

Reportagem de Marcos Losekann sobre o estado de saúde de Ariel Sharon, Jornal Nacional, 10/01/2006.

A partir de 24 de maio de 2004, o jornalismo da Globo passou a contar com a presença permanente do correspondente Marcos Losekann em Jerusalém – a sétima praça internacional da rede. Desta época, o jornalista destaca: “Eu não tinha equipe. Levei ao pé da letra a história do “kit-correspondente”. Além do que, Israel tem uma regra de só fornecer visto para o repórter, mas não para o cinegrafista, porque o objetivo é forçar contratações locais. E os locais não têm o padrão Globo de qualidade, fazem uma filmagem estilo ‘cinegrafista de festa de batizado’, o que era inviável. Das 840 matérias que eu fechei em três anos em Israel, mais ou menos 700 eu mesmo filmei. Eu botava a câmera no tripé, entrevistava, gravava a passagem, fazia tudo.”

Entre suas coberturas de destaque estiveram os desdobramentos da guerra no Iraque; a doença, a morte e o enterro de Arafat (novembro de 2004; junto com Ilze Scamparini, no Cairo); o estado de coma de Ariel Sharon (janeiro de 2006); a eleição do Hamas na ANP; e a “Guerra do Verão” – como ficou conhecida a ofensiva de Israel contra o Líbano em junho e julho de 2006. Na matéria de estreia, no JN, Losekann mostrou um campo de refugiados chamado “Brasil”, no extremo sul da Faixa de Gaza, onde o exército de Israel tinha destruído 50 casas. Além de acompanhar os conflitos, o repórter pôde fazer matérias sobre o cotidiano de palestinos, israelenses, libaneses e outras nações do Oriente Médio. Também ficou responsável por coberturas de crises em países do Leste Europeu e do sul da Ásia, como Ucrânia, Irã e Paquistão.

FONTES

Depoimento concedido ao Memória Globo por: Marcos Losekann (28/5/2009). MEMÓRIA GLOBO. Jornal Nacional, a notícia faz história. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2005.
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