O mundo assistiu estarrecido a explosão do ônibus espacial Challenger, no dia 28 de janeiro de 1986. Eram 11 horas e 38 minutos da manhã (hora local), em Cabo Canaveral, Estados Unidos, quando a Challenger decolou rumo ao espaço. O gigantesco tubo de aço pesava 100 toneladas e estava avaliado em um bilhão e 100 milhões de dólares. Um minuto e doze segundos depois, uma explosão desintegrou a nave e os destroços caíram sobre o Oceano Atlântico, ao longo da costa da Flórida. No acidente, morreram os sete tripulantes, cinco homens e duas mulheres, entre elas a professora Christa Sharon Mcauliffe, de 37 anos, escolhida entre 11 mil candidatas à viagem espacial. Depois de quatro meses de investigação, uma comissão nomeada pelo Presidente Ronald Reagan, concluiu que a causa principal do acidente foi um defeito em um dos anéis de vedação do foguete propulsor que deixou escapar combustível e causou a explosão.
Reportagem de Lucas Mendes sobre a explosão do ônibus espacial Challenger logo após a decolagem, Jornal Nacional, 28/01/1986.
EQUIPE E ESTRUTURA
No dia do acidente, o correspondente da Globo nos Estados Unidos, Lucas Mendes, fez a primeira reportagem do Jornal Nacional sobre a explosão da Challenger. Outros repórteres também participaram da cobertura. De Washington, o correspondente Luís Fernando Silva Pinto acompanhou os desdobramentos e a repercussão do desastre espacial. O repórter Paulo Cesar Araújo, também dos EUA, relatou o choque e a emoção dos americanos, bem como as homenagens aos astronautas mortos. O correspondente da Globo em Londres, Sílio Boccanera mostrou como os governos e a mídia europeia retrataram a explosão. O colunista do Jornal da Globo, Paulo Francis, deu sua visão da tragédia e as consequências no futuro do programa espacial americano. Até o cronista e escritor Rubem Braga participou da cobertura escrevendo um texto para o Jornal Hoje em homenagem à professora morta no acidente.
DESTAQUES
TRAGÉDIA NO AR
No Jornal Nacional do dia 28 de janeiro de 1986, o correspondente Lucas Mendes contou que os americanos passaram o dia em frente à televisão em busca de um milagre: a de haver sobreviventes na Challenger. A Nasa, agência responsável pelo programa espacial americano, descartou essa possibilidade. As equipes de busca e salvamento não acharam nenhum sinal de vida. Os americanos procuravam respostas. Como isso aconteceu na frente deles? Em discurso, o Presidente Ronald Reagan disse: “Hoje é um dia de luto, é um dia para lembranças. Nós vamos continuar nossa busca no espaço.”
As primeiras versões diziam que uma explosão menor no tanque esquerdo do combustível sólido teria causado o acidente maior do tanque de combustível líquido. A reportagem fala ainda de Christa Mcauliffe, a primeira professora a participar de uma missão espacial. O voo final da Challenger atrasou uma hora e 40 minutos do previsto por motivos técnicos e por causa do frio intenso. Lucas Mendes mostrou ainda os astronautas reunidos, poucas horas antes da partida. Nenhum parecia preocupado. Há quase 20 anos não havia acidentes fatais em missões espaciais.
Reportagem de Lucas Mendes sobre a explosão do ônibus espacial Challenger logo após a decolagem, Jornal Nacional, 28/01/1986.
DESPERDÍCIO DE BILHÕES
No Jornal da Globo do dia 28 de janeiro de 1986, o colunista Paulo Francis comentou: “O custo e o desperdício do progresso. A Casa Branca declarou que a explosão da nave Challenger e a morte de sete astronautas não tiveram efeito algum sobre o programa espacial dos Estados Unidos.” Francis destacou uma reportagem do “New York Times”, jornal mais importante do país, que chamou a Challenger de um desperdício de oito bilhões de dólares. Ele lembrou ainda que o jornal definiu a Challenger como apenas uma peça de propaganda da Nasa.
ORGULHO FERIDO
Ainda no JG, Lucas Mendes destacou o clima, a emoção e as perguntas do dia seguinte à tragédia da Challenger. Mendes relatou que, enquanto a Nasa procurava respostas, o restante do país buscava conforto. Para os americanos, o programa espacial é mais do que uma medida científica. É um dos alimentos do orgulho e da confiança do povo. Milhares de americanos foram buscar consolo nas igrejas. Nas cidades de cada um dos astronautas, houve cerimônias religiosas. Psicólogos foram às redes de televisão falar como conviver com as emoções da tragédia.
Muitos estavam preocupados com o impacto nas crianças, sobretudo, naquelas que sonhavam com a profissão de astronauta. Lucas Mendes entrevistou o Senador John Glenn, um ex- astronauta e um dos pioneiros da conquista espacial. Ele disse que o programa deveria ser suspenso até que a Nasa descobrisse a causa do acidente.
HOMENAGEM À PROFESSORA
No Jornal Hoje do dia 29 de janeiro de 1986, a apresentadora Leda Nagle disse que “o mundo acordou e não foi um pesadelo, a Challenger realmente explodiu confirmando o medo que sempre tivemos”. O telejornal trouxe um texto do cronista e escritor Rubem Braga homenageando a professora Christa Mcauliffe, morta no acidente. Braga escreveu: “Professora do interior, casada, 2 filhos, o tipo de cidadão comum, queria desmistificar os voos espaciais e daria aula aos seus alunos, via satélite. Talvez por ser só uma professora comum, que sua morte comoveu mais profundamente o mundo todo. O acidente teve essa nota pungente de simplicidade. A professorinha morreu,“ concluiu o escritor.
DA ALEGRIA AO CHORO
Reportagem de Paulo César Araújo sobre a tristeza dos americanos no dia seguinte após a explosão do ônibus espacial Challenger, Jornal Nacional, 29/01/1986.
Reportagem de Silio Boccanera sobre a reação do Papa João Paulo II e a repercussão da explosão do ônibus espacial Challenger pelo mundo, Jornal Nacional, 29/01/1986.
No Jornal Nacional do dia 29 de janeiro de 1986, o repórter Paulo Cesar Araújo mostrou a arquibancada que foi palco de uma cena que comoveu o mundo. Os parentes dos astronautas chegavam apreensivos, orgulhosos e jamais poderiam imaginar que iriam presenciar uma tragédia. As palmas iniciais da decolagem foram substituídas pela incredulidade e pelo desespero. Eles não entendiam o que estava acontecendo ou não queriam acreditar. A reportagem ouviu pessoas comuns que falavam do acidente. Acompanhou ainda a coletiva dos diretores do programa no Centro Espacial, que disseram não ter ainda nenhuma pista das causas da explosão.
O JN mostrou ainda que o maior pedaço da nave encontrado, até então, tinha três metros e que os especialistas disseram que não havia possibilidade de encontrar partes dos corpos da tripulação.
Ainda no JN daquele dia, o correspondente da Globo em Londres,Sílio Boccanera, mostrou a reação do Papa João Paulo Segundo. Do Vaticano, ele disse que a morte dos astronautas provocou profunda dor e pediu orações para as vítimas do que ele chamou de “corajosos pioneiros do progresso”. A reportagem ouviu também moradores de Moscou e mostrou as manchetes da imprensa soviética, que deu destaque ao acidente, sem usar o tom habitual de crítica ao programa espacial americano.
OUTRO ÂNGULO
No Jornal Nacional do dia 30 de janeiro de 1986, o repórter Paulo Cesar Araújo revelou que destroços do ônibus espacial foram encontrados nas praias próximas à Cabo Canaveral. A reportagem mostrou imagens exclusivas com outros ângulos do acidente. O JN revelou que um dos astronautas mortos virou nome de rua e ouviu o pai do homenageado.
CERIMÔNIA EM HOUSTON
O Centro Espacial de Houston foi palco de uma homenagem aos astronautas mortos. Dez mil pessoas acompanharam o discurso do presidente dos EUA, Ronald Reagan. A reportagem foi de Paulo Cesar Araújo para o Jornal Nacional que mostrou também a emoção dos familiares das vítimas.
CONGRESSO
No dia 18 de fevereiro de 1986, o correspondente da Globo em Washington, Luís Fernando Silva Pinto, mostrou no Jornal Nacional a ida ao Congresso Nacional dos integrantes da comissão nomeada pelo Presidente Ronald Reagan para investigar o acidente. Eles deram informações aos parlamentares do andamento das negociações. A comissão não fez acusações diretas, mas denunciou uma cadeia de falhas no processo de lançamento da Challenger, o que teria resultado no acidente.
RELATÓRIO FINAL
No Jornal Nacional do dia 9 de junho de 1986, Luís Fernando Silva Pinto disse que o voo da Challenger durou apenas 73 segundos, mas foram precisos quatro meses de investigação para determinar a causa do acidente. O relatório concluiu que um dos anéis de vedação do foguete propulsor não funcionou e deixou escapar combustível, resultando na explosão que destruiu a nave. Segundo a comissão que investigou o acidente, a pressa de lançar os ônibus espaciais era tão grande que várias advertências sobre a insegurança dos foguetes propulsores não foram transmitidas aos diretores da Nasa.
Reportagem de Luís Fernando Silva Pinto sobre o relatório de investigação das causas da explosão do ônibus espacial Challenger, Jornal Nacional, 09/06/1986.
FONTES
Jornal da Globo (28/01/1986); Jornal do Brasil (29/01/1986, 30/01/1986, 19/02/1986, 10/06/1986); Jornal Hoje (29/01/1986); Jornal Nacional (28/01/1986, 29/01/1986, 30/01/1986, 18/02/1986, 09/06/1986) |