Por Memória Globo

Frame de vídeo/Globo

Em janeiro de 1966, o Rio de Janeiro sofreu uma das piores enchentes da sua história. As chuvas transbordaram rios, alagaram a cidade e causaram transtornos à vida do carioca. Cinco dias de temporal deixaram mais de 200 mortos e 50 mil desabrigados.As chuvas fortes, características do verão, causaram o caos no Rio e provocaram mortes e deslizamentos em outras ocasiões, como em fevereiro de 1988 e em abril de 2010.

EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO

Webdoc sobre a cobertura das enchentes no Rio de Janeiro em 1966, com entrevistas exclusivas do Memória Globo.

Webdoc sobre a cobertura das enchentes no Rio de Janeiro em 1966, com entrevistas exclusivas do Memória Globo.

CIDADE SUBMERSA

As equipes da Globo foram para as ruas carregando câmeras Auricon e captando as imagens da tragédia e da dor dos cariocas. Motoqueiros levavam para a emissora os filmes, que imediatamente eram revelados e exibidos. A chuva forte arrebentou as tubulações que drenavam as águas do rio dos Macacos, que transbordou, destruindo várias casas perto da Globo, no bairro do Jardim Botânico. Walter Clark, que acabara de assumir a direção-geral, não perdeu tempo: posicionou duas câmeras diante da emissora e, dali, Hilton Gomes passou a comentar os fatos ao vivo. 

Subi pela Rua Von Martius, e quem eu vejo do lado de fora com uma câmera, fazendo a reportagem de toda essa encrenca que o Rio de Janeiro estava sofrendo? Hilton Gomes.”
— Norma Blum sobre a cobertura da enchente de 1966

SOLIDARIEDADE

A Globo não se limitou a mostrar os fatos. Promoveu também uma ampla campanha comunitária. Os estúdios do Jardim Botânico foram transformados em central de recolhimento de doações para os desabrigados. Já no primeiro dia, não havia mais lugar para armazenar as toneladas de remédios, mantimentos e cobertores que chegavam.

Norma Blum, na época apresentadora do programa Romance na Tarde, caminhou com água na cintura para conseguir chegar à emissora num dia em que a cidade estava alagada.

A atriz recorda o episódio: “A TV Globo tinha sido toda inundada. Os estúdios, embaixo, estavam imprestáveis. Tiveram que ser todos refeitos. Quando eu cheguei, tinha uma escadaria do lado de fora que levava ao segundo andar, onde ficava a equipe técnica, as máquinas, as instalações, a administração. Então, subi pela Rua Von Martius, e quem eu vejo do lado de fora com uma câmera, assim, improvisada, fazendo a reportagem de toda essa encrenca que o Rio de Janeiro estava sofrendo? Hilton Gomes. Ele olhou para mim e falou: ‘O que você veio fazer aqui?’ Eu falei: ‘Eu vim fazer o meu programa.’ Ele falou: ‘Está tudo fora do ar. A gente só está fazendo a cobertura do desastre. Você não devia ter vindo.’ Aí também eu já não tinha mais como voltar. A água cercando tudo. Então me engajei como repórter nessa batalha para conseguir doações”.

CONQUISTANDO AUDIÊNCIA

Com a cobertura da enchente, a Globo, que desde a estreia apresentava baixos índices de audiência, conquistou o Rio de Janeiro. Ao se transformar na voz que lutava pela recuperação da cidade, a emissora ganhou de vez a simpatia da população carioca, conseguindo um espaço até então dividido pela TV Tupi, a TV Rio e a TV Excelsior. 

O jornalista Armando Nogueira recorda: “No Jardim Botânico tinha uma queda d’água que passou a ser a imagem-símbolo da enchente. A câmera que Walter Clark mandou instalar na Rua Von Martius, apontando para a queda, ficava ligada dia e noite. Era como a imagem-padrão da Globo. Eu trabalhava na TV Rio. Mas a nossa referência se ia continuar chovendo era a cachoeira da Globo.”

FONTES

Depoimentos concedidos ao Memória Globo por: Armando Nogueira (27/04/2000; 29/11/2001; 10/12/2003) e Norma Blum (15/10/2001); MEMÓRIA GLOBO. Jornal Nacional – a notícia faz história. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2004.
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