Oito candidatos disputaram a presidência da república nas eleições de 3 de outubro de 1994 – Fernando Henrique Cardoso (PSDB-PFL), Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Enéas Carneiro (PRONA), Orestes Quércia (PMDB), Leonel Brizola (PDT), Esperidião Amin (PPR), Carlos Antônio Gomes (PRN) e Hernani Fortuna (PSC).
Depois do impeachment de Fernando Collor, Luiz Inácio Lula da Silva tornou-se o favorito. E, até maio daquele ano, liderava as pesquisas, obtendo quase a maioria absoluta da preferência do eleitorado.
Meses antes da eleição, no entanto, foi lançado o Plano Real, com impactos imediatos sobre os índices de inflação e o poder de compra da população. A estabilidade monetária deu grande popularidade a Fernando Henrique Cardoso, que tinha sido ministro da Fazenda do governo Itamar Franco e um dos autores do plano econômico.
Além do presidente, também foram escolhidos, naquele ano, 27 novos governadores, 54 senadores, 513 deputados federais e 1.059 deputados estaduais.
Reportagem de Delis Ortiz sobre entrevista coletiva de Fernando Henrique Cardoso, após ser eleito Presidente da República. Jornal Nacional, 06/10/1994.
EQUIPE E ESTRUTURA
Durante os meses que precederam as eleições de 3 de outubro, a TV Globo acompanhou, diariamente, as campanhas dos principais candidatos à presidência. Sob a coordenação de Carlos Amorim, diretor de Eventos Especiais da Central Globo de Jornalismo na época, a emissora preparou uma grande cobertura, com equipes espalhadas pelas principais capitais de todo o país. Foram envolvidos cerca de dez mil profissionais, entre jornalistas, técnicos e pesquisadores.
A partir de 28 de setembro, a Globo ampliou o espaço dedicado às eleições, e o assunto passou a ocupar, em média, dois blocos em cada um dos seus telejornais.
PORQUE NÃO HOUVE DEBATE
O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) criou um conjunto de normas para regular a cobertura eleitoral no rádio e na televisão naquele ano. Entre outras coisas, as emissoras eram obrigadas a dar o mesmo espaço e tratamento aos candidatos na sua programação e proibidas de veicular propaganda política (fora do horário eleitoral gratuito) ou difundir opinião favorável ou contrária a candidato, partido ou coligação.
A legislação eleitoral determinou também que a realização de debates entre os presidenciáveis só seria permitida se as emissoras assegurassem a presença de todos os, na época, oito candidatos. Admitiria-se a ausência apenas se o veículo de comunicação comprovasse haver convidado o candidato com antecedência mínima de 72 horas. O debate poderia ser feito de duas formas: num único dia ou em dias diferentes, sendo que a escolha dos participantes de cada dia seria feita através de sorteio. Por esse motivo, a Globo preferiu não promover nenhum debate.
O diretor da Central Globo de Jornalismo na época, Alberico de Sousa Cruz, em matéria publicada no jornal O Globo em 13 de junho de 1994, explicou: “Se fizermos um debate reunindo oito candidatos vai ficar uma loucura total, ou seja, o telespectador não conseguirá descobrir nada. Pensamos, então, em produzir dois debates. Só que a Justiça Eleitoral não permite que a gente escolha quais serão os candidatos de cada dia. Ela exige que isso aconteça através de sorteio ou de um acordo entre os partidos. E aí fica difícil, pois não saberemos se vai dar para confrontar os principais concorrentes.”
O DIA DA ELEIÇÃO
No dia 3 de outubro, a programação da Globo foi toda voltada para a cobertura da votação. Começou com o Bom Dia Brasil, às 7h, e seguiu com flashes nacionais e locais. Os jornalistas William Bonner, Carlos Nascimento, Joelmir Beting e Alexandre Garcia ancoraram e comentaram as transmissões em rede nacional durante todo o dia. Os repórteres Ernesto Paglia e Carlos Dorneles acompanharam Lula e Fernando Henrique, os dois candidatos favoritos nas eleições presidenciais. Nos estúdios do Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Brasília e Recife, outros jornalistas se encarregaram das coberturas regionais, entre eles, Fátima Bernardes, José Roberto Burnier e Carlos Monforte.
O Jornal Nacional mostrou como tinham sido as eleições em todo o Brasil. Os repórteres acompanharam o dia da votação, espalhados por diferentes estados do país: Alagoas (Beatriz Castro), Amazonas (Marcos Losekann e Pedro Bial), Bahia (José Raimundo), Ceará (Leilane Neubarth), Distrito Federal (Ana Paula Padrão e Delis Ortiz), Maranhão (Marcelo Rezende), Mato Grosso (Graziela Azevedo), Mato Grosso do Sul (Caco Barcellos), Minas Gerais (Ilze Scamparini e Orlando Loureiro), Pará (Domingos Meirelles), Paraná (Idenilson Perin, Sandro Dalpícolo e Dulcinéia Novaes), Rio de Janeiro (Roberto Kovalick, Sandra Moreyra e Sônia Bridi), Rio Grande do Sul (Flávio Porcelo), Rondônia (Marcelo Canellas), Santa Catarina (Ricardo Von Dorf), São Paulo (Britto Jr., Neide Duarte, César Tralli e Helena de Grammont), Sergipe (Sandra Passarinho) e Pernambuco (Francisco José).
Reportagens de Pedro Chagas Neto, ao vivo, do Tribunal Superior Eleitoral, e Marcos Losekann, em Manaus, sobre o dia das eleições presidenciais de 1994. Jornal Nacional, 03/10/1994.
Reportagens de Delis Ortiz e Isabela Assumpção sobre o dia das eleições presidenciais de 1994. Jornal Nacional, 03/10/1994.
Reportagens de Roberto Kovalick e Beatriz Castro sobre o dia das eleições presidenciais de 1994. Jornal Nacional, 03/10/1994.
Reportagens de Sandra Moreyra e Graziela Azevedo sobre o dia das eleições presidenciais de 1994. Jornal Nacional, 03/10/1994.
Reportagem de Ilze Scamparini sobre o dia de votações em Minas Gerais durante as eleições presidenciais de 1994. Jornal Nacional, 03/10/1994.
Reportagem de Pedro Bial sobre uma cidade na Amazônia chamada Democracia. Jornal Nacional, 03/10/1994.
APURAÇÃO E RESULTADO
O TSE decidiu começar a apuração apenas no dia 4. A partir de então, um plantão da Globo ficou direto no ar até o dia 7, quando foi feito um balanço final das eleições.
Durante a semana, o Jornal Nacional mostrou os resultados parciais das eleições para presidente e governador. Os repórteres passaram a acompanhar o trabalho dos escrutinadores e fiscais de partidos nas principais juntas apuradoras do país. A CGJ e a Central Globo de Informática (CGI) trabalharam juntas e criaram mapas e gráficos ilustrativos para que o eleitor tivesse uma visão geral da contagem dos votos.
Reportagem sobre a apuração dos votos em todo o país e a projeção da vitória de Fernando Henrique Cardoso nas eleições presidenciais de 1994. Jornal Nacional, 05/10/1994.
Antes de o TSE encerrar a apuração em todo o Brasil, o país já conhecia o nome de seu próximo presidente. No dia seguinte às eleições, o Jornal Nacional já falava sobre a uma provável vitória de Fernando Henrique Cardoso. E, em 6 de outubro, FHC já deu sua primeira entrevista coletiva como presidente eleito.
No final da contagem, Fernando Henrique Cardoso obteve 54,3% dos votos válidos, seguido por Luiz Inácio Lula da Silva, com 27,1%. Enéas Carneiro chegou em terceiro lugar, com 7,4% dos votos, à frente de tradicionais políticos nacionais, como Orestes Quércia, que obteve 4,4%, e Leonel Brizola, com 3,2%.
Na sexta-feira, 7 de outubro, o Globo Repórter apresentou um perfil do futuro presidente do Brasil, com reportagens de Ernesto Paglia, Silio Boccanera e Carlos Dorneles.
FONTES
MEMÓRIA GLOBO. Jornal Nacional: a notícia faz história. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004; Bom Dia Brasil, 03/10/1994; Globo Repórter, 07/10/1994; Jornal Nacional, 03/10/1994. |