Por Memória Globo

Em 15 de novembro de 1982, foi realizada a primeira eleição direta para governador de estado após a instauração do regime militar. Seriam também eleitos senadores, deputados federais e estaduais, prefeitos (menos os das capitais) e vereadores. Entre os candidatos, estavam importantes líderes de oposição como Miguel Arraes e Leonel Brizola, cassados e exilados no período da ditadura. 

Sergio Chapelin e Carlos Monforte apresentam a parcial de votos apurados para governador e senador, nos estado do Brasil, Show das Eleições, 18/11/1982.

Sergio Chapelin e Carlos Monforte apresentam a parcial de votos apurados para governador e senador, nos estado do Brasil, Show das Eleições, 18/11/1982.

EQUIPE E ESTRUTURA

Uma cobertura nacional

A cobertura das eleições começou a ser planejada em agosto de 1982. O esquema montado se inspirava no da Copa do Mundo daquele ano, quando fora construído um grande centro de operações na Espanha. No momento da eleição, em novembro, a Globo chegou a mobilizar quase 25 mil profissionais em todo o país, envolvidos na divulgação dos números e na realização de análises, entrevistas e reportagens.

A coordenação geral da cobertura coube a Alice-Maria, que contou com o auxílio dos editores Woile Guimarães, Paulo Gil Soares, Diléa Frate, Dante Matiusse e Toninho Drummond. O comando da operação – o Centro Nacional das Eleições – ficou em São Paulo, estado que concentrava o maior número de eleitores do país, quase o dobro do segundo colégio eleitoral brasileiro, Minas Gerais. Para São Paulo, seguiam todos os números da votação e também todas as matérias a serem divulgadas em rede nacional. Na produção dessas matérias, participaram as equipes das emissoras locais e repórteres especiais enviados aos estados. Na chefia geral de reportagem, estavam Ingo Ostrowski, Marcos Fonseca e Marcos de Castro.

Como se tratava de uma eleição muito complexa, a CGJ decidiu produzir um manual para auxiliar os profissionais envolvidos na cobertura. O livro, com cerca de 340 páginas, trazia informações variadas sobre todos os candidatos, partidos, eleitores, a justiça eleitoral e a história dos pleitos. Além disso, os jornalistas da Globo participaram, durante duas semanas, de um seminário que contou com a presença, entre outros, do historiador Hélio Silva e dos deputados Prisco Viana e Mário Covas. 

Apuração

A Globo planejou montar em todo o país um esquema paralelo de apuração dos votos. A ideia era divulgar os resultados das urnas com rapidez, antecipando os números dos TREs. A emissora, no entanto, não contava um a um os votos das urnas, já que essa era uma prerrogativa exclusiva da Justiça Eleitoral. Apenas fazia a soma final dos números oficiais divulgados pelas juntas apuradoras.

Pedro Roza, responsável pela coordenação nacional do sistema de apuração da Globo, comenta que havia uma grande expectativa em relação a como o esquema ia ser montado: “Eu me lembro que, quando começaram as conversas sobre a cobertura, foi um frenesi para descobrir quem tinha experiência em apuração de eleições. Imagina, 20 anos sem votação, quem sabia cobrir? Existia um certo receio com relação à estabilidade das instituições democráticas. Havia uma preocupação generalizada com relação ao que ia acontecer, como é que ficava o público nos 15, 20 dias que levava para apurar uma eleição. Mais do que isso, onde é que os órgãos de imprensa iam arranjar informações para passar para o público sobre a marcha da apuração? A exemplo do que já havia sido feito no passado, resolveu-se que a Globo ia montar um esforço nacional de apurações das eleições. Naquele tempo, ninguém sabia muito bem do que se estava falando.”

Eu me lembro que, quando começaram as conversas sobre a cobertura, foi um frenesi para descobrir quem tinha experiência em apuração de eleições. Imagina, 20 anos sem votação, quem sabia cobrir?
— Pedro Roza

Foi, então, formada uma equipe, que imediatamente pôs-se a viajar pelo Brasil, começando por Brasília e depois dirigindo-se a outras regiões, a fim de montar o esquema com as emissoras afiliadas à Rede Globo. A ideia defendida por Toninho Drummond era montar uma estrutura própria de apuração em todo o país, mas isso não foi possível. Decidiu-se que cada afiliada faria a apuração do seu estado, pois a Globo enfrentava problemas de infraestrutura. A emissora ainda não tinha, por exemplo, computador. O seu primeiro mainframe seria instalado apenas no início de 1983. Então, era preciso encontrar maneiras alternativas para apurar o resultado de cada urna, somar os votos por seção, em cada zona eleitoral, em cada município, em cada estado, para cada cargo.

A Globo encontrou diferentes soluções para o problema em cada uma das suas praças. No Rio, foi feito um acordo com O Globo. O jornal fazia a apuração e passava para a TV os resultados. Em São Paulo, fechou-se acordo semelhante com O Estado de S. Paulo. Em Belo Horizonte e Recife, foram montados sistemas de apuração próprios. As emissoras contrataram pessoas que ficavam nos locais de apuração, nas zonas eleitorais, copiando os resultados urna por urna e enviando as informações para um centro de processamento, que somava os resultados e os transmitia tanto localmente quanto para a cabeça da rede.

 DESTAQUES

Programas especiais e debate

Carlos Monforte apresenta uma pesquisa de boca-de-urna realizada pelo Ibope indicando a provável vitória de Leonel Brizola, Eleições 82, 15/11/1982.

Carlos Monforte apresenta uma pesquisa de boca-de-urna realizada pelo Ibope indicando a provável vitória de Leonel Brizola, Eleições 82, 15/11/1982.

Na fase pré-eleitoral, que começou em meados de agosto, o Jornal Nacional e os outros telejornais da Globo acompanharam o dia-a-dia dos candidatos. Foram criados programas especiais, como Momento do Voto e Eleições 82. O primeiro era um informativo, exibido de segunda a sexta-feira, com cinco minutos de duração. Fornecia dados históricos sobre eleições, curiosidades sobre o pleito e informações didáticas sobre como votar e como funciona o Congresso. 

Eleições 82 era um programa dominical, com 40 minutos de duração, exibido às 22h30. Estreou em 29 de agosto, com os resultados da primeira pesquisa de opinião, realizada pelo Ibope. Os números eram interpretados com a ajuda de Homero Icaza Sánchez, diretor da Assessoria de Análise e Pesquisa da TV Globo, e enriquecidos com reportagens. O programa foi apresentado por vários jornalistas, como Antônio Britto, Ênio Pesce e Carlos Monforte. 

Nessa fase, a Rede Globo promoveu um debate entre os candidatos ao governo dos estados, mostrado em edição especial do Jornal da Globo. Uma das inovações desse debate foram os links colocados em quatro pontos de cada estado. A população fazia perguntas, ao vivo, e o apresentador sorteava na hora o candidato que iria responder.

A votação e a apuração

A cobertura das eleições propriamente ditas começou em 14 de novembro, com a exibição de vários boletins e do especial O Voto do Oiapoque ao Chuí, e se intensificou no dia seguinte, com a votação. Foram exibidos flashes, nacionais e locais, quase de hora em hora. Transmitiam-se informações não só sobre o pleito, mas também sobre o trânsito e as filas nos locais de votação nos diferentes estados. 

A partir do dia 16, começou o acompanhamento da apuração. Foram cinco boletins nacionais, de 15 minutos, e sete locais, com cinco minutos. Eles mostravam os resultados da apuração das eleições majoritárias, faziam previsão de bancada de cada partido e exibiam flagrantes da atualidade, pequenas entrevistas e análises. Os boletins nacionais foram apresentados por Carlos Monforte, Renato Machado, Celso Freitas e Rui Barbosa. 

A apuração no Rio de Janeiro

O esquema da Globo, no Rio de Janeiro, para acompanhar a apuração dos votos em parceria com o jornal O Globo não funcionou. O jornal montou um plano complexo e avançado em termos de tecnologia, mas que não se adequava às necessidades de uma emissora de televisão. As informações não chegavam à Globo com a agilidade que o veículo exigia – os vários boletins exibidos ao longo do dia precisavam de informações instantâneas.

Além disso, a apuração oficial no Rio de Janeiro, realizada pela empresa Proconsult, contratada pelo TRE (Tribunal Regional Eleitoral), foi lenta e tumultuada. 

Show das Eleições

Ney Gonçalves Dias e Marília Gabriela apresentam a parcial de votos apurados para governador e senador no estado do Rio de Janeiro. Show das Eleições, 17/11/1982.

Ney Gonçalves Dias e Marília Gabriela apresentam a parcial de votos apurados para governador e senador no estado do Rio de Janeiro. Show das Eleições, 17/11/1982.

De 16 a 18 de novembro, foram ao ar, diariamente, duas edições do Show das Eleições, uma às 11h e outra às 22h20, com 40 minutos cada. O programa – especialmente criado para acompanhar o pleito – fornecia um balanço completo da votação, com a soma dos números em cada estado, e ainda análises, entrevistas e reportagens especiais. Pela manhã, o programa era apresentado por Marília Gabriela e Ney Gonçalves Dias e, à noite, por Sergio Chapelin, Carlos Monforte e Luciana Villas Boas.

O Show das Eleições era transmitido de um estúdio construído no Teatro Globo, em São Paulo, com cenários de Jean Phillipe Therène. No fundo do set de apresentação, foi montado um painel com o mapa do Brasil, que ia sendo colorido de acordo com os resultados. Cada partido tinha uma cor, que aparecia nos estados à medida que eram definidos os vencedores das eleições majoritárias.

FONTES

MEMÓRIA GLOBO. Jornal Nacional: a notícia faz história. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004.
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