Por Memória Globo

Frame de vídeo/Globo

A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida – ou Acquired Immunodeficiency Syndrome, Aids – foi descrita pela primeira vez em 1981. Porém, o agente causador da doença, o vírus HIV (Human Immunodeficiency Virus), que leva à perda progressiva de imunidade, só foi identificado em 1983, pelo francês Luc Montagnier, do Instituto Pasteur. Nessa época, as pesquisas revelaram que a contaminação poderia ocorrer através de relações sexuais desprotegidas, uso de seringas contaminadas, transfusão de sangue não testado e durante a gravidez, quando a mãe infectada transmite a doença para o feto.

A partir de 1995, um coquetel de drogas associadas, entre elas o AZT (azidotimidina), fez com que a doença deixasse de ser absolutamente fatal, tornando possível que uma pessoa infectada conviva com o vírus HIV cronicamente.

O repórter Hélio Costa dá as primeiras informações ao público brasileiro sobre a AIDS, Fantástico, 27/03/1983.

O repórter Hélio Costa dá as primeiras informações ao público brasileiro sobre a AIDS, Fantástico, 27/03/1983.

Equipe e estrutura

Desde a descoberta da doença, a Globo vem cobrindo seus desdobramentos, com entrevistas exclusivas, séries especiais e a despedida aos grandes ídolos vitimados pela Aids. Em 1985, Lucas Mendes, correspondente da Globo nos Estados Unidos, conseguiu uma matéria exclusiva com Robert Gallo, um dos cientistas que identificou o vírus.

A Aids foi tratada em diversos Globo Repórter. Em junho de 1985, o programa abordou as formas de contágio e a maneira como o combate estava sendo feito. Em 1991, a discriminação contra os aidéticos foi assunto no programa, que mostrou ainda a deficiência dos hospitais e a falta de leitos para atender os doentes. A busca pela vacina, a cura, educação sexual, sexualidade, traição, adolescência e remédios foram os assuntos mais abordados pelo programa.

O Fantástico acompanhou o desenvolvimento da doença com entrevistas, enquetes, reportagens elucidativas e séries. Em 1987, mostrou os bastidores de uma campanha da Globo sobre a Aids, com a participação de atores informando sobre os riscos de contrair da doença. 

Em 30 de novembro de 1997, o apresentador Zeca Camargo anunciou o progresso do coquetel no tratamento da Aids. Em maio de 2004, entrevistou o secretário executivo do Ministério da Saúde Gastão Wagner, e o infectologista David Uip sobre o aumento de casos da doença no Brasil.

Em 25 de novembro de 2007, a repórter Maria Cristina Poli falou sobre uma pesquisa idealizada pelo psiquiatra Jairo Bouer com 7.500 jovens de São Paulo que constatou que a maioria deles não usava camisinha. Em 2011, levou ao ar a série “Aids, 30 anos depois”, um especial de cinco episódios apresentado pelo médico Dráuzio Varella.

Primeiras reportagens

A primeira reportagem da Globo a tratar da Aids foi exibida no Fantástico em 27 de março de 1983. A matéria repercutia uma longa reportagem publicada na revista Time. De Nova York, o repórter Hélio Costa deu as primeiras informações ao público brasileiro sobre “uma doença misteriosa, que era totalmente desconhecida há dois anos”. Com imagens em preto-e-branco de pacientes em leitos hospitalares, o jornalista destacou a opinião de autoridades norte-americanas sobre a evolução da doença, que havia se transformado “na epidemia mais violenta do século”.

EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO

Entrevista exclusiva do jornalista Hélio Costa ao Memória Globo, em 30/11/2001, sobre a reportagem da descoberta da Aids.

Entrevista exclusiva do jornalista Hélio Costa ao Memória Globo, em 30/11/2001, sobre a reportagem da descoberta da Aids.

Para saber mais sobre as primeiras reportagens do Fantástico sobre Aids, clique aqui.

Reportagem exclusiva

Em 13 de agosto de 1985, o apresentador Celso Freitas anunciou no Jornal Nacional: “Seis mil americanos já morreram de Aids ou Síndrome da Imunodeficiência Adquirida. Outros seis mil devem morrer ainda este ano. Em Washington, a maior autoridade em AIDS nos EUA afirma: a vacina é só uma questão de tempo.” Em seguida, foi exibida uma entrevista exclusiva de Lucas Mendes com o cientista norte-americano Robert Gallo, um dos responsáveis pela identificação do vírus.

Na matéria, Gallo relatou um estudo sobre a incidência de Aids nos bancos de sangue de vários países. No Brasil, ele verificou que, das 60 amostras enviadas para os Estados Unidos, quatro ou cinco estavam contaminadas. O número assustou o pesquisador, que alertou para a importância dos exames prévios nos doadores de sangue do país.

Entrevista exclusiva de Lucas Mendes com o cientista Robert Gallo, um dos responsáveis pela identificação do vírus da AIDS, Jornal Nacional, 13/08/1985.

Entrevista exclusiva de Lucas Mendes com o cientista Robert Gallo, um dos responsáveis pela identificação do vírus da AIDS, Jornal Nacional, 13/08/1985.

Em fevereiro de 1987 foi ao ar um Globo Repórter sobre o crescimento da Aids no Brasil. Em 1º de junho do mesmo ano, o apresentador Celso Freitas informou, no Jornal Nacional, que um novo vírus da Aids – o terceiro tipo – havia sido identificado. O anúncio foi feito na Conferência de Washington, quando seis mil especialistas de 50 países se reuniram pra discutir o futuro da doença.

Apresentação da edição do Globo Repórter sobre o crescimento da Aids no Brasil, com reportagem de Sandra Passarinho, 12/02/1987.

Apresentação da edição do Globo Repórter sobre o crescimento da Aids no Brasil, com reportagem de Sandra Passarinho, 12/02/1987.

Morrem os ídolos

Em outubro de 1985, o Jornal Nacional noticiou a morte de Rock Hudson, um dos principais astros de Hollywood na década de 1960, por causa do vírus da Aids. Em 4 de janeiro de 1988, a notícia da morte do cartunista Henfil foi manchete no JN. Na ocasião, a repórter Sandra Moreyra entrevistou o irmão dele, o sociólogo Herbert de Souza, que ressaltou o drama que a doença representava “não só para o Brasil, como para o mundo”. Hemofílico e portador do vírus HIV como seu irmão, Betinho morreu nove anos depois, em 9 de agosto de 1997.

A morte do ator Lauro Corona foi destaque no Fantástico de 23 de julho de 1989, que exibiu uma retrospectiva de sua vida e trabalho. No ano seguinte, em 7 de julho, o JN anunciou a morte do cantor Cazuza, cobrindo seu velório e mostrando a comoção da população.

Em 1º de dezembro de 1991, o então correspondente Pedro Bial levou, diretamente de Londres para o Fantástico, a notícia da morte de Freddie Mercury, o vocalista do grupo musical Queen, que havia tocado no Brasil no Rock in Rio I. No mesmo ano, o jogador de basquete Magic Johnson contou ser portador do vírus HIV, mas, com tratamento, não desenvolveu a Aids. Em 1992, o programa dominical também anunciou a morte do ator norte americano Anthony Perkins, que havia estrelado o filme Psicose.

O ídolo do rock brasileiro Renato Russo escondeu a doença até 11 de outubro de 1996, quando faleceu em casa. No dia 13, o Fantástico fez uma matéria sobre a decisão do cantor de não divulgar a doença, sua depressão e a opção por morrer sozinho.

Reportagem de Sandra Moreyra sobre o velório do cartunista Henfil, Jornal Nacional, 05/01/1988.

Reportagem de Sandra Moreyra sobre o velório do cartunista Henfil, Jornal Nacional, 05/01/1988.

Caso marcante

O jornalista Caco Barcellos, que participou da cobertura dos primeiros casos, relembra: “Sempre me toca muito lembrar das primeiras vítimas, soropositivas, da Aids no Brasil. Foi um momento muito triste na saúde de São Paulo. Dizimou alguns segmentos da sociedade, os homossexuais principalmente, e também crianças. Fazer as primeiras matérias sobre esse tema me abalou bastante. Eu me lembro de um menino que era soropositivo, que nós visitamos às vésperas do seu aniversário, e a casa dele não tinha mais nada. Uma coisa fazia muita falta para aquele menino: o equipamento de som, que o pai também teve de vender para comprar remédio, que era caro – até hoje é muito caro. Hoje, felizmente, o governo ajuda, oferecendo o coquetel. Mas, na época, muitas vezes as famílias vendiam tudo para comprar o remédio. E o menino se queixava muito da falta de música, no dia do aniversário dele. Eu jamais vou esquecer porque, quando a matéria foi ao ar no Jornal Nacional, caminhões de presentes chegaram para esse menino. ONGs, que estavam ajudando, fizeram um apelo, pedindo para as pessoas ajudarem todas as vítimas, não só aquele caso que havia, realmente, causado uma comoção.”

EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO

Entrevista exclusiva do jornalista Caco Barcellos ao Memória Globo, em 07/02/2006, sobre a epidemia de Aids.

Entrevista exclusiva do jornalista Caco Barcellos ao Memória Globo, em 07/02/2006, sobre a epidemia de Aids.

Reportagem de Caco Barcellos sobre uma família com oito portadores do vírus da Aids que, após uma reportagem do Globo Repórter, recebeu doações de todo o Brasil. Jornal Nacional, 29/06/1992.

Reportagem de Caco Barcellos sobre uma família com oito portadores do vírus da Aids que, após uma reportagem do Globo Repórter, recebeu doações de todo o Brasil. Jornal Nacional, 29/06/1992.

Brasil no combate à Aids

A partir da promulgação da lei federal 9.313, em dezembro de 1996, o governo brasileiro começou a distribuir gratuitamente medicamentos anti-retrovirais (ARVs), servindo de exemplo para o resto do mundo no tratamento da Aids. As Nações Unidas reconheceram o Brasil como país em desenvolvimento com maior sucesso no combate à doença. O Ministério da Saúde também investiu em programas de conscientização da população para o uso de camisinha e descarte de seringas entre usuários de drogas.

No ano de 2000, o Jornal Nacional apresentou várias reportagens sobre o grande número de pessoas infectadas na África. O problema era tão grave naquele continente que, na época, a doença chegou a ser classificada como epidemia.

No Jornal Nacional do dia 19 de julho de 2000, uma matéria do repórter Ernesto Paglia informava que a África do Sul conseguira quebrar a patente dos laboratórios internacionais para comprar mais barato os medicamentos utilizados no combate à doença. A mesma medida seria adotada com sucesso, pelo governo brasileiro, a partir de maio de 2007.

Reportagem de Marcos Losekann sobre o sucesso da campanha de distribuição gratuita dos medicamentos anti-retrovirais (ARVs), que conseguiu diminuir o número de internações de pacientes portadores do vírus da Aids. Jornal Nacional, 03/02/1997.

Reportagem de Marcos Losekann sobre o sucesso da campanha de distribuição gratuita dos medicamentos anti-retrovirais (ARVs), que conseguiu diminuir o número de internações de pacientes portadores do vírus da Aids. Jornal Nacional, 03/02/1997.

As décadas seguintes

Vinte anos depois

“Há vinte anos cientistas americanos registraram oficialmente o primeiro caso da doença no mundo. Um vírus que mudou tudo: sexo, cultura; e mostrou como o planeta é vulnerável a uma infecção”, disse Zileide Silva na reportagem especial do Jornal Nacional exibida em junho de 2001. Durante as duas décadas da doença, 36 milhões de pessoas haviam sido contaminadas. Diariamente, 15 mil pessoas contraíam o vírus no mundo.

Trinta anos depois

A partir de 2 de janeiro de 2011, foi ao ar no Fantástico uma série do Doutor Dráuzio Varella chamada “Aids, 30 anos depois”. Os números eram alarmantes: a cada ano, 35 mil brasileiros se infectam. Foram cinco semanas seguidas abordando o assunto sob diversos aspectos.

Reportagem de Zileide Silva sobre os vinte anos da descoberta do vírus da Aids, Jornal Nacional, 05/06/2001.

Reportagem de Zileide Silva sobre os vinte anos da descoberta do vírus da Aids, Jornal Nacional, 05/06/2001.

FONTES

Depoimentos concedidos ao Memória Globo por: Caco Barcellos (07/02/2006 e 10/02/2006); MEMÓRIA GLOBO. Jornal Nacional, a notícia faz história. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2005; Fantástico 27/3/1983, 23/7/1989, 1/12/1991, 10/11/1991, 30/11/1997, 13/9/1992, 30/11/1997, 2/5/2005 a 30/5/2004, 25/11/2007, 2/1/2011 a 25/12/2011; Globo Repórter 7 a 28/8/1985, 1 a 22/2/1987, 4/1/1991 a 27/12/1991; Jornal Nacional (13/8/1985, 1 a 31/10/1985, 1/6/1987, 4/1/1988, 7/7/1990, 9/8/1997, 19/7/2000, 1/1/2000 a 31/12/2000, 01 a 30/8/2003); Sites: http://drauziovarella.com.br/sexualidade/aids/aids/, www.wikipedia.com.
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