Até meados da década de 1990, os países do sudeste asiático – Coréia do Sul, Taiwan, Cingapura, Tailândia, Indonésia, Malásia e Hong Kong – eram considerados exemplos de desenvolvimento econômico acelerado, baseado no crescimento da exportação de bens de consumo, investimentos de capital estrangeiro e aproveitamento de mão-de-obra barata.
A ampliação das exportações e os bons resultados na área de tecnologia aqueceram os mercados internos destes países e elevaram muito os salários. Assim, a competição com os outros mercados foi se tornando difícil.
A partir de julho de 1997, o investimento de curto prazo do mercado internacional, atraído principalmente pelos lucros financeiros quase instantâneos, perdeu força nos países conhecidos como “tigres asiáticos”. A especulação de investidores e a evasão de capitais em busca de outros “endereços de oportunidade” os obrigaram a desvalorizar as suas moedas, revelando assim a fragilidade do sistema financeiro da Ásia.
Reportagem de William Waack com as primeiras notícias sobre a crise das bolsas de valores do sudeste asiático, Jornal Nacional, 23/10/1997.
EQUIPE E ESTRUTURA
Participaram desta cobertura os correspondentes da Globo em Londres, William Waack, e em Nova York, Sonia Bridi, além dos repórteres Tonico Ferreira e Ari Peixoto, entre outros. A cobertura sobre a crise concentrou-se, quase diariamente, em matérias no Jornal Nacional e no Jornal da Globo.
Início da crise
A crise econômica foi noticiada em 23 de outubro de 1997, quando a bolsa de Hong Kong sofreu a sua pior baixa. Mas foi a partir do dia 28 que o Jornal Nacional deu mais destaque ao desequilíbrio nos investimentos. O correspondente da Globo em Londres, William Waack, explicou por que as baixas nas bolsas de valores da Ásia também afetavam os mercados da Europa, Estados Unidos e América Latina: “Com a Ásia em crise, diminuem os negócios das grandes empresas internacionais naquela região. Os investidores vão em busca de aplicações com menos riscos do que ações. Os mercados internacionais são presos uns aos outros. Nem Londres, a maior praça financeira da Europa, consegue se livrar de uma tendência que começou na Ásia e acabou tomando conta até dos investidores dos Estados Unidos: o medo. É mais psicologia do que economia: os indicadores econômicos dos países mais fortes do mundo, no momento, são bons. Mas muita gente achou que no mundo inteiro as ações de grandes empresas estavam mesmo super-valorizadas e aproveitou os últimos dias para vender. Foi a hora em que o placar da bolsa em Londres se encheu de vermelho: a cor das ações em baixa. Queda em Londres é queda em Nova York. E queda em Nova York é queda em Hong Kong. E começa tudo outra vez.”
No dia seguinte, o Jornal Nacional trouxe notícias animadoras: a bolsa de Hong Kong fechara com alta, e as bolsas de Tóquio, Londres e Paris haviam subido. O Brasil, no entanto, ainda amargava os efeitos da crise. A bolsa de São Paulo havia sofrido, pela segunda vez na semana, a maior queda do mundo.
Baixa nas bolsas brasileiras
Em matéria de Ari Peixoto para o Jornal Nacional de 28 de outubro, a correlação entre a crise econômica asiática e a oscilação na bolsa de valores do Rio de Janeiro foi abordada. Imagens de um pregão tenso e de placares luminosos mostrando as cotações em baixa ilustraram a reportagem. Em seguida, William Waack falou sobre como a crise asiática estava derrubando o mercado financeiro mundial. A bolsa de valores de Londres estava em baixa.
Dois dias mais tarde, no Jornal Nacional, foi exibida uma matéria do repórter Tonico Ferreira sobre a queda na bolsa de São Paulo. A quebra financeira asiática já era chamada de “Baixa Internacional”.
Crise japonesa
Em novembro, no dia 25, uma reportagem do Jornal Nacional mostrou que o Japão estava entrando em falência financeira, com imagens de pessoas tentando entrar na Corretora Yamaiti (a quarta maior do país e terceira a quebrar) para resgatar o seu dinheiro.
Nas semanas seguintes, a Globo seguiu abordando a crise econômica de perto, tanto no Jornal Nacional quanto no Jornal da Globo. No dia 11 de dezembro, uma reportagem mostrou as baixas nas bolsas de Seul, Tóquio e Nova York. No dia seguinte, a correspondente da Globo em Nova York, Sonia Bridi, falou da falência de mais bancos japoneses. A matéria mostrava as filas de japoneses tentando trocar o que lhes restava de crédito, ainda que fossem vales, com o vale bolo, dado aos convidados dos tradicionais casamentos japoneses. O problema era que até as padarias começavam a falir.
Globalização
No Globo Repórter exibido no dia 2 de janeiro de 1998, a crise econômica que começou na Ásia e afetou todos os mercados financeiros, inclusive o brasileiro, foi tema do bloco econômico chamado Globalização e Mundo Financeiro.
A partir de 1998, os países do sudeste asiático começaram a reestruturação de seus setores financeiros, com apoio do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do G7, grupo que reúne os sete países mais industrializados do planeta. Em 15 de janeiro, o Jornal Nacional levou ao ar uma matéria sobre o acordo que o presidente da Indonésia, Mohamed Suharto, tinha assinado no mesmo dia com o fundo internacional.
Reportagem de Tonico Ferreira sobre a queda na bolsa de São Paulo e a quebra financeira asiática, que já era chamada de “Baixa Internacional”. Jornal Nacional, 30/10/1997.
Reportagem sobre o acordo assinado pelo presidente da Indonésia, Mohamed Suharto, com o Fundo Monetário Internacional, dando início à reestruturação financeira dos países do sudeste asiático. Jornal Nacional, 15/01/1998.
FONTES
MEMÓRIA GLOBO. Jornal Nacional, a notícia faz história. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2005; GloboRepórter (02/01/98); Jornal da Globo (23/01/97 a 02/01/98) ; Jornal Nacional (23/01/97 a 02/01/98). |