Por Memória Globo

Frame de vídeo/Globo

Na madrugada do dia 31 de outubro de 2002, o engenheiro Manfred Albert e a psiquiatra Marísia Von Richthofen foram mortos com golpes de barra de ferro enquanto dormiam na casa em que moravam, num bairro nobre de São Paulo. O crime, planejado e executado pela filha mais velha do casal, deixou o país estarrecido. A estudante de Direito Suzane Von Richthofen, na época com 18 anos, contou com a ajuda do namorado, Daniel Cravinhos, e do irmão dele, Cristian Cravinhos. O motivo seria a desaprovação do relacionamento de Suzane e Daniel pelos pais dela, além do desejo de usufruir da herança ao lado de seu companheiro. As investigações chegaram ao fim quando, uma semana depois, os três confessaram. Andreas, filho caçula de Manfred e Marísia, não teve envolvimento com o crime.

EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO

Webdoc sobre o caso Richthofen, com entrevistas exclusivas ao Memória Globo.

Webdoc sobre o caso Richthofen, com entrevistas exclusivas ao Memória Globo.

DESTAQUES

As primeiras notícias sobre o assassinato de Manfred Albert e Marísia Von Richthofen foram ao ar no telejornal local, o SPTV. No dia seguinte, ganhou destaque nos telejornais de rede. Segundo a reportagem de Valmir Salaro, exibida no Jornal Nacional de 1º de novembro, a polícia suspeitava que o autor do crime fosse conhecido da família, uma vez que o circuito interno de TV e os alarmes estavam desligados e não havia sinais de arrombamento. Essa hipótese foi confirmada quando, sete dias após o assassinato, a filha do casal, Suzane, o namorado, Daniel Cravinhos, e o irmão dele, Cristian, foram interrogados pela polícia e confessaram.

O cerco se fechou com a prisão de Cristian em 7 de novembro. A polícia suspeitou da participação dele no assassinato do casal Richthofen,  ao descobrir que o jovem comprara uma motocicleta dez horas após o crime. Pressionado, ele confessou. 

No Jornal da Globo daquela noite, Suzane Von Richthofen foi citada como possível participante na morte dos pais. O repórter Joaquim de Carvalho falou, ao vivo, direto da Delegacia de Homicídios de São Paulo, onde os irmãos Cravinhos e os irmãos Richthofen prestavam depoimento. 

O mistério em torno do assassinato de Manfred e Marísia Von Richthofen foi desvendado pela Polícia de São Paulo. Em seu depoimento, Suzane Von Richthofen admitiu que premeditara a morte dos pais por amor ao namorado. A confissão da jovem foi destaque no Jornal Hoje de 8 de novembro. No estúdio, o psiquiatra especializado em jovens, Içami Tiba, respondeu às perguntas dos apresentadores Carlos Nascimento e Carla Vilhena, que buscavam uma explicação para o comportamento de Suzane.

Reportagem de Valmir Salaro com as primeiras notícias sobre o assassinato do engenheiro Manfred Albert e da psiquiatra Marísia Von Richthofen. Jornal Nacional, 01/11/2002.

Reportagem de Valmir Salaro com as primeiras notícias sobre o assassinato do engenheiro Manfred Albert e da psiquiatra Marísia Von Richthofen. Jornal Nacional, 01/11/2002.

Reportagem de Joaquim de Carvalho sobre as investigações da polícia e as suspeitas do envolvimento de Suzane Von Richthofen na morte dos pais. Jornal da Globo, 07/11/2002.

Reportagem de Joaquim de Carvalho sobre as investigações da polícia e as suspeitas do envolvimento de Suzane Von Richthofen na morte dos pais. Jornal da Globo, 07/11/2002.

Reportagem de César Tralli sobre o depoimento de Suzane Von Richthofen à polícia, em que ela confessou a participação no assassinato de seus pais. Jornal Nacional, 08/11/2002.

Reportagem de César Tralli sobre o depoimento de Suzane Von Richthofen à polícia, em que ela confessou a participação no assassinato de seus pais. Jornal Nacional, 08/11/2002.

DETALHES

A reportagem de César Tralli, exibida no Jornal Nacional de 8 de novembro, explicou que, desde agosto daquele ano, Suzane e Daniel Cravinhos planejavam a morte de Manfred e Marísia. O casal teve a ajuda de Cristian Cravinhos, irmão de Daniel, para a execução do plano. Suzane deixou o irmão, Andreas, numa lan house e facilitou a entrada dos rapazes na casa. Com golpes de barras de ferro, os dois mataram o engenheiro e a psiquiatra.

A cena do crime foi modificada para que tudo indicasse tratar-se de latrocínio – roubo seguido de morte. Mas as evidências apontaram outro caminho para as investigações. Com o dinheiro roubado, Cristian comprou uma moto, o que fez com que a polícia suspeitasse do envolvimento dele. Os três assassinos confessos foram presos. O JN também exibiu naquela edição imagens inéditas gravadas na casa da família poucas horas após Manfred e Marísia serem mortos.

DESDOBRAMENTOS

Após a prisão dos três jovens, o Jornalismo de São Paulo continuou acompanhando os desdobramentos do crime que chocou o país. Em 11 de novembro, o Jornal da Globo exibiu uma entrevista exclusiva com Astrogildo Cravinhos, pai de Daniel e Cristian. Ainda incrédulo, o escrivão aposentado disse à repórter Monalisa Perrone que não tinha explicação para o que acontecera e falou sobre o envolvimento dos filhos com drogas.

Uma semana depois, a Polícia de São Paulo concluiu o inquérito sobre o assassinato do casal Richthofen. Como informou o Jornal Nacional de 18 de novembro, Suzane e os irmãos Cravinhos foram denunciados por duplo homicídio triplamente qualificado e tiveram suas prisões preventivas decretadas. 

Em junho de 2005, Suzane Von Richthofen ganhou o direito de aguardar pelo julgamento em liberdade. Em novembro do mesmo ano, Daniel e Cristian Cravinhos também foram beneficiados pelo habeas-corpus concedido pelo Superior Tribunal de Justiça. Menos de três meses depois, no entanto, os irmãos voltaram para a cadeia por terem revelado detalhes do crime, durante uma entrevista a uma emissora de rádio.

CHORO FORÇADO

Sem dar entrevistas desde que fora presa, Suzane Von Richthofen quebrou o silêncio em abril de 2006. Após nove meses de negociação, concordou em conversar com a repórter Fabiana Godoy, do Fantástico. Na ocasião, a ex-estudante de Direito estava em liberdade, aguardando o julgamento marcado para junho daquele ano. Ela vivia com um casal amigo da família, num apartamento no Morumbi, na cidade de São Paulo.

Usando pantufas e uma camiseta com estampa infantil, a jovem de 22 anos parecia uma criança. Durante a entrevista, chorou diversas vezes e buscou o apoio de seu tutor nos momentos em que ficou insegura. Disse que foi manipulada pelo namorado e que sentia a falta dos pais. Mas o que parecia arrependimento, não passava de encenação. Antes de começar a gravação, a equipe do programa flagrou Suzane sendo instruída por seus advogados sobre como deveria se comportar diante das câmeras, simulando choro e tristeza.

A reportagem, exibida pelo Fantástico em 9 de abril de 2006, mostrou a farsa armada pelos advogados de defesa.A repercussão foi grande e, no dia seguinte, o Ministério Público pediu à Justiça de São Paulo que decretasse novamente a prisão de Suzane Von Richthofen. 

Em 30 de maio, por uma decisão do Supremo Tribunal de Justiça bastante criticada na época, Suzane ganhou o direito de esperar pelo julgamento em prisão domiciliar. Um mês depois, no entanto, o STJ cassou essa liminar, e a jovem teve que voltar para a cadeia.

JÚRI ADIADO

O julgamento de Suzane Von Richthofen e de Daniel e Cristian Cravinhos foi marcado para o início de junho de 2006. Os três responderiam por duplo homicídio triplamente qualificado – motivo torpe, utilização de meio cruel e sem possibilidade de defesa. Mas, por conta de manobras tanto da defesa dos irmãos Cravinhos, quanto dos advogados de Suzane, o júri foi adiado. 

O Profissão Repórter, que na época ainda era apresentado como um quadro do Fantástico, teve uma edição sobre os bastidores da audiência que não aconteceu. Caco Barcellos e sua equipe acompanharam a confusão no Fórum da Barra Funda, em São Paulo, onde os três réus confessos do assassinato do casal Richthofen seriam julgados.

JULGAMENTO

Reportagem sobre o início do julgamento de Suzane Von Richthofen e dos irmãos Daniel e Cristian Cravinhos, acusados de planejar e matar Manfred e Marísia Von Richthofen. Jornal Hoje, 17/07/2006.

Reportagem sobre o início do julgamento de Suzane Von Richthofen e dos irmãos Daniel e Cristian Cravinhos, acusados de planejar e matar Manfred e Marísia Von Richthofen. Jornal Hoje, 17/07/2006.

O julgamento foi remarcado para 17 de julho de 2006. Foram cinco dias de depoimentos e debates entre acusação e defesa, que ganharam destaque nos principais telejornais da emissora. Não era permitida a captação de áudio ou imagem durante a audiência, mas os repórteres da Globo acompanharam os momentos do julgamento, com entradas ao vivo ao longo da programação, em São Paulo.

Àquela altura, quase quatro anos após o assassinato de Manfred e Marísia Von Richthofen, Suzane e Daniel Cravinhos deixaram de ser namorados para se tornarem inimigos, como mostrou a reportagem de Rodrigo Bocardi exibida no Jornal Hoje de 17 de julho. Enquanto os advogados dela alegavam que sua cliente havia sido manipulada por Daniel; a defesa dos irmãos Cravinhos afirmava que fora Suzane quem planejara a morte dos pais. E Daniel, por amor, executara o plano. 

No primeiro dia do julgamento, os Cravinhos mudaram a versão do crime. Para inocentar Cristian, Daniel disse ter sido apenas ele o autor dos golpes desferidos contra Manfred e Marísia. Seu depoimento surpreendeu a todos. Mas, antes que fosse feita a acareação entre os réus, Cristian pediu para depor novamente e assumiu sua participação no assassinato do casal. 

Nos dias seguintes, foi a vez das testemunhas de acusação e defesa darem seus depoimentos, entre elas Andreas, irmão de Suzane. Ele se referiu à irmã como uma pessoa manipuladora, calculista e chantagista, e disse que nunca a perdoou pela morte dos pais. Na fase final do julgamento, o promotor Roberto Tardelli pediu aos sete jurados a condenação dos três réus por duplo homicídio triplamente qualificado e 50 anos de prisão para cada um.

SENTENÇA

Reportagem de Rodrigo Bocardi com trechos da gravação dos depoimentos de Suzane Von Richthofen e também dos irmãos Cravinhos durante o julgamento pelo assassinato de Manfred Albert e Marísia Von Richthofen. Fantástico, 30/07/2006.

Reportagem de Rodrigo Bocardi com trechos da gravação dos depoimentos de Suzane Von Richthofen e também dos irmãos Cravinhos durante o julgamento pelo assassinato de Manfred Albert e Marísia Von Richthofen. Fantástico, 30/07/2006.

A sentença dos três acusados pela morte do casal Richthofen foi anunciada na madrugada do dia 22 de julho de 2006. Suzane e Daniel foram condenados a 39 anos de reclusão mais seis meses de detenção, e Cristian, a 38 anos de reclusão mais seis meses de detenção. Como mostrou a reportagem de Rodrigo Bocardi no Jornal Hoje daquele sábado, o juiz Alberto Anderson Filho não aplicou a pena máxima pedida pelo Ministério Público para evitar um novo julgamento.

Uma semana depois, o Fantástico teve acesso, com exclusividade, à gravação oficial feita pela Justiça durante os cinco dias de julgamento. A reportagem de Rodrigo Bocardi, exibida em 30 de julho, apresentou trechos inéditos dos depoimentos de Suzane Von Richthofen e também dos irmãos Cravinhos.

PEDIDO NEGADO

Em 2009, após cumprir um sexto da pena, Suzane Von Richthofen teria direito ao regime semiaberto. A Justiça, no entanto, exigiu que ela se submetesse a um exame criminológico, que incluía entrevistas e testes psicológicos e psiquiátricos feitos por dois psicólogos, dois psiquiatras e uma assistente social.

A reportagem de Valmir Salaro exibida no Fantástico em 29 de novembro daquele ano mostrou porque, apesar de Suzane se dizer arrependida e pedir uma segunda chance, a juíza responsável pelo caso indeferiu o pedido feito pelos advogados da jovem. Dois anos depois, a Justiça tornou a negar a progressão para regime semiaberto.

Daniel e Cristian Cravinhos ganharam o direito de cumprir a pena em regime semiaberto em fevereiro de 2013.

MATÉRIA EXCLUSIVA

Em outubro de 2014, Suzane Von Richthofen, presa há 12 anos pelo assassinato dos pais, voltou a ser destaque no noticiário. Em documento inédito, obtido com exclusividade pelo Fantástico e tema de matéria do repórter Valmir Salaro, a jovem pede o afastamento de seu advogado Denivaldo Barni, diz estar disposta a abrir mão de toda a herança dos pais – o interesse pelo patrimônio da família foi apontado como motivo do crime – e a se reaproximar do irmão, Andreas Richthofen, a quem não vê desde o julgamento, em 2006.

Os irmãos Richthofen disputavam na Justiça a herança deixada pelos pais, mas, agora, Suzane quer receber a visita do irmão e já autorizou a entrada dele na cadeia. A advogada de Andreas Richthofen, Maria Aparecida Evangelista, foi procurada pela equipe de reportagem, mas não quis falar a respeito. Enquanto isso, Suzane aguarda a construção da ala de semiaberto do Presídio de Tremembé, em São Paulo, onde deve ficar até conseguir a liberdade definitiva.

FONTES

Depoimento concedido ao Memória Globo por: César Tralli (22/04/2010, 29/04/2010 e 06/05/2010); Bom Dia Brasil, 30/05/2006; Fantástico, 09/04/2006, 11/06/2006, 30/07/2006, 29/11/2009; Jornal da Globo, 07/11/2002, 11/11/2002, 17/07/2006, 21/07/2006; Jornal Hoje, 08/11/2002, 17/07/2006, 22/07/2006; Jornal Nacional, 01/11/2002, 07/11/2002, 08/11/2002, 18/11/2002, 10/04/2006, 05/06/2006; “Com barras de ferro, casal é atacado na cama” In O Estado de S. Paulo, 09/11/2002; “Verdades e mentiras de Suzane Von Richthofen” In Veja, 12/04/2006.
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