Por Memória Globo


Na noite de 30 de abril de 1981, durante um espetáculo musical comemorativo do Dia do Trabalho que reuniu 20 mil pessoas no Riocentro, centro de convenções na zona oeste do Rio de Janeiro, uma bomba explodiu no interior de um automóvel Puma, matando o sargento Guilherme Pereira do Rosário e ferindo o capitão Wilson Luís Chaves Machado. Os dois eram integrantes do Doi-Codi e estavam no local, segundo as autoridades militares, numa operação de rotina. Outra bomba havia sido colocada na casa de força do prédio, mas não chegou a explodir.

EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO

Webdoc sobre a cobertura do atentado no Riocentro em 1981, com entrevistas exclusivas do Memória Globo.

Webdoc sobre a cobertura do atentado no Riocentro em 1981, com entrevistas exclusivas do Memória Globo.

DESTAQUES

A Globo noticia as primeiras informações

A Globo começou a noticiar o atentado no Riocentro na manhã seguinte, dia 1º de maio, em flashes ao longo da programação. A imagem do carro destruído foi exibida no Jornal Hoje, que informou a identidade dos ocupantes do automóvel e falou sobre a existência de outras duas bombas, desativadas por peritos  . A informação foi posteriormente desmentida pelo delegado Newton Costa, diretor do Departamento Geral de Investigações Especiais, e pelo general Gentil Marcondes Filho, comandante do I Exército. Naquela edição foi mostrada a imagem de dois tubos de gás lacrimogêneo, equivocadamente identificados como as outras bombas encontradas no Puma.

Ainda naquele dia, o incidente dominou toda a edição do Jornal Nacional. A repórter Leila Cordeiro mostrou como foi o atentado. Além de atualizar as informações dos noticiários anteriores, o telejornal apresentou declarações indignadas de políticos, como José Sarney, Mário Andreazza e Miro Teixeira, e a versão do secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, general Waldyr Muniz, que culpou os comunistas pelo atentado.

Primeiras notícias sobre o atentado no Riocentro, Jornal Hoje, 01/05/1981.

Primeiras notícias sobre o atentado no Riocentro, Jornal Hoje, 01/05/1981.

Reportagem de Leila Cordeiro sobre o atentado no Riocentro, Jornal Nacional, 01/05/1981.

Reportagem de Leila Cordeiro sobre o atentado no Riocentro, Jornal Nacional, 01/05/1981.

Redação ocupada pelos militares

A reação ao noticiário do Jornal Nacional foi imediata, e a redação da Globo foi ocupada pelos militares na manhã do dia seguinte, 2 de maio. A emissora foi obrigada não só a corrigir o seu erro na identificação da imagem, como seria natural, mas também a desmentir a existência de outras bombas no carro, apesar dos rumores de que a informação era correta.

Segundo Armando Nogueira, o episódio foi uma de suas maiores frustrações como diretor de Jornalismo da Globo: “Essa cobertura representou para os militares um grande telhado de vidro. Por isso, eles praticamente ocuparam a Globo e não deixaram que exibíssemos coisa nenhuma; nos censuraram o tempo todo. As outras redes, nessa época, já tinham um pouco mais de liberdade. Mas porque a liberdade, nesse caso, era proporcional à audiência.”

Resultado da investigação militar

Reportagens sobre o resultado da investigação militar do atentado no Riocentro, Jornal Nacional, 30/06/1981.

Reportagens sobre o resultado da investigação militar do atentado no Riocentro, Jornal Nacional, 30/06/1981.

No dia 30 de junho, o coronel Job Lorena de Santana, responsável pela condução do Inquérito Policial Militar (IPM) que apurava o caso, apresentou o resultado de suas investigações. Na sessão para a imprensa, não foram permitidas perguntas. O IPM concluía que os dois militares tinham sido vítimas de um atentado com uma bomba colocada entre a porta e o banco direito do automóvel. A notícia foi exibida no Jornal das Sete e no Jornal Nacional.

No dia 2 de outubro, o Superior Tribunal Militar decidiu pelo arquivamento do inquérito, sem que fossem apontados os autores da ação. O episódio acabou levando o chefe do Gabinete Civil, Golbery de Couto e Silva – tido como o principal estrategista político do governo e defensor do processo de abertura política – a pedir demissão.

Riocentro – 15 anos depois

Em março de 1996, a Globo retomaria o caso do Riocentro numa grande reportagem exibida no Globo Repórter. Riocentro – 15 anos depois trouxe à tona revelações que evidenciaram a manipulação dos fatos na versão oficial. O atentado – na época atribuído à esquerda – partira, na realidade, dos próprios militares.

Para realizar a reportagem, dirigida por Claufe Rodrigues, os jornalistas Caco Barcellos e Fritz Utzeri investigaram durante três meses o episódio, realizando mais de 50 entrevistas. Foram ouvidas testemunhas ignoradas pelo inquérito oficial, como os agentes de segurança do Riocentro.

Algumas autoridades militares chegaram a confirmar que havia sido montada uma farsa pelos órgãos de segurança do regime militar. Foi esse o caso do almirante Júlio de Sá Bierrenbach, que deu seu voto no STM contra o arquivamento do IPM em 1981, do coronel Ile Marlen Lobo, ex-comandante do 18º Batalhão da Polícia Militar, do coronel Luiz Antonio Prado Ribeiro, primeiro responsável pelo IPM e que decidiu afastar-se do caso, e do coronel Dickson Grael, que realizou investigações paralelas ao IPM.

Ainda em 1996, a edição do Globo Repórter recebeu o prêmio Vladimir Herzog, na categoria Reportagem para TV, e o troféu da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), como Melhor Programa Jornalístico.

Primeiro bloco do programa sobre os 15 anos do atentado no Riocentro, com reportagem de Caco Barcellos, Globo Repórter, 15/03/1996.

Primeiro bloco do programa sobre os 15 anos do atentado no Riocentro, com reportagem de Caco Barcellos, Globo Repórter, 15/03/1996.

Segundo bloco do programa sobre os 15 anos do atentado no Riocentro, com reportagem de Caco Barcellos, Globo Repórter, 15/03/1996.

Segundo bloco do programa sobre os 15 anos do atentado no Riocentro, com reportagem de Caco Barcellos, Globo Repórter, 15/03/1996.

Terceiro bloco do programa sobre os 15 anos do atentado no Riocentro, com reportagem de Caco Barcellos, Globo Repórter, 15/03/1996.

Terceiro bloco do programa sobre os 15 anos do atentado no Riocentro, com reportagem de Caco Barcellos, Globo Repórter, 15/03/1996.

Quarto bloco do programa sobre os 15 anos do atentado no Riocentro, com reportagem de Caco Barcellos, Globo Repórter, 15/03/1996.

Quarto bloco do programa sobre os 15 anos do atentado no Riocentro, com reportagem de Caco Barcellos, Globo Repórter, 15/03/1996.

Quinto e último bloco do programa sobre os 15 anos do atentado no Riocentro, com reportagem de Caco Barcellos, Globo Repórter, 15/03/1996.

Quinto e último bloco do programa sobre os 15 anos do atentado no Riocentro, com reportagem de Caco Barcellos, Globo Repórter, 15/03/1996.

Mais do memoriaglobo
Projeto Resgate

Malhação reestreou em maio de 2001 com uma trama mais dramática que o habitual e investindo mais nas campanhas de responsabilidade social.

'Malhação Múltipla Escolha 2001' estreia no Globoplay  - Foto: (Memoria Globo)
Projeto Resgate do Globoplay

Adaptação de obra homônima de Antonio Callado, 'A Madona de Cedro' relata o drama de um homem religioso que contraria seus valores morais em nome do amor.

O roubo de uma obra de arte movimenta 'A Madona de Cedro' - Foto: (Jorge Baumann/Globo)
Dia de alegria!

A atriz Adriana Esteves nasceu no Rio de Janeiro. Estreou na Globo em um quadro do 'Domingão do Faustão', em 1989. No mesmo ano estreou em sua primeira novela, 'Top Model'.

Parabéns, Adriana Esteves! - Foto: (Ique Esteves/Globo)
O telejornal que acorda com o país

Com uma linguagem leve e informal, o telejornal informa as primeiras notícias do Brasil e do mundo para um público que acorda ainda de madrugada.

'Hora 1' completa 10 anos apostando no dinamismo e credibilidade  - Foto: (Arte/Memória Globo)
Fundador da TV Globo

O jornalista e empresário Roberto Marinho nasceu no Rio de Janeiro, em 3 de dezembro de 1904. Foi diretor-redator-chefe do jornal O Globo, aos 26 anos. Criou a TV Globo em 1965 e, em 1991, a Globosat, produtora de conteúdo para canais de TV por assinatura. Morreu em 2003, aos 98 anos.

Roberto Marinho nasceu há 120 anos: relembre a vida do jornalista e empresário - Foto: (Acervo Roberto Marinho)
"Quem cultiva a semente do amor..."

A novela exalta o poder feminino por meio da trajetória de Maria da Paz e traz uma história contemporânea de amor, coragem e esperança.

Relembre Maria da Paz, 'A Dona do Pedaço' - Foto: (João Miguel Júnior/Globo)
Projeto Fragmentos do Globoplay

A novela celebrava o centenário de morte de José de Alencar e se baseava em três obras do autor: A Viuvinha, Til e O Sertanejo.

'Sinhazinha Flô' teve Bete Mendes como protagonista  - Foto: (Nelson Di Rago/Globo)