Por Memória Globo

Na manhã do dia 11 de março de 2011, o pior terremoto já registrado no Japão, 8,9 graus na escala Richter, assolou a costa nordeste do país, provocando um tsunami e o vazamento da usina atômica de Fukushima. A região costeira nordeste do país foi destruída, em poucos minutos, pela onda gigante, e o pavor do vazamento nuclear espalhou-se pela ilha. Em Tóquio, cidade afetada pelo terremoto, a ameaça de contaminação pela radioatividade forçou uma espécie de evacuação. Ainda houve vários tremores, por causa dos choques secundários, com deslizamentos e avalanches no Oeste e na capital.

EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO

Webdoc sobre a cobertura do Acidente de Fukushima em 2011, com entrevistas exclusivas do Memória Globo.

Webdoc sobre a cobertura do Acidente de Fukushima em 2011, com entrevistas exclusivas do Memória Globo.

EQUIPE E ESTRUTURA

Roberto Kovalick, correspondente da Globo no Japão, estava realizando uma matéria para o Fantástico junto com os produtores Sanae Ono e Kunihiro Otsuka quando o terremoto ocorreu. Assim que soube do fato, o repórter passou a se dedicar exclusivamente à cobertura, produzindo material para praticamente todos os telejornais da emissora. Dois dias após o terremoto, outra equipe juntou-se à de Kovalick. O correspondente Marcos Uchoa, baseado em Paris, e o repórter cinematográfico Sergio Gilz voaram para Sendai para auxiliar na cobertura dos eventos.

PRIMEIRAS NOTÍCIAS

Oterremoto, que chegou a ser sentido até mesmo na China, a cerca de dois mil quilômetros de distância, aconteceu às 14h46 da tarde no Japão, em plena madrugada brasileira. Renata Vasconcellos, âncora do Bom Dia Brasil, recorda-se de ter sido acordada com um telefonema: “Às 2 ou 3 da manhã viemos para o estúdio nos preparar. Fizemos flashes e chamadas ao vivo. Fomos atualizando aos poucos os acontecimentos.”

O BDBR entrou no ar com Renato Machado anunciando uma edição especial com a cobertura completa do maior tremor já ocorrido no Japão. Àquela altura, alertas de tsunami em vinte países, ilhas e territórios do Oceano Pacífico haviam sido emitidos.

Roberto Kovalick falou, ao vivo, no Bom Dia Brasil direto de Kyoto, ao sul do país. Na época, o repórter estava cobrindo uma feira de robôs, quando um dos bonecos ligou sozinho, e o cientista responsável deu o alerta: o robô se movimentara por causa de um terremoto. Logo os produtores que o acompanhavam obtiveram a informação de que um tsunami iria atingir a ilha. A equipe correu para a ferroviária, com o objetivo de chegar o quanto antes à capital, mas se deparou com o serviço de trens bala suspenso. Viram, através dos monitores de TV da estação, imagens da onda gigante aproximando-se da costa nordeste. “Por sorte, por alguma coisa do destino, eu tinha trazido comigo o kit correspondente, um computador e a antena 3G, que normalmente não levo numa viagem curta. Eram quatro horas da tarde (hora local), o Bom Dia Brasil ia entrar no ar, e, apesar da difícil comunicação com o Brasil, entramos ao vivo de Kyoto. Seguimos no programa da Ana Maria Braga e em todos os telejornais”, conta o correspondente.

Roberto Kovalick passou, junto com a equipe, pela angústia de não conseguir falar com os parentes: “Os telefones não funcionavam. Eu, várias vezes, entre um ‘ao vivo’ e outro, comecei a chorar”

A notícia de um alerta de emergência do governo, em virtude de uma falha no resfriamento de um dos reatores da usina de Fukushima, também foi dada em primeira mão no BDBR. "Uma outra notícia preocupante: o Japão acaba de decretar estado de emergência por causa de um defeito no sistema de resfriamento de uma usina atômica, mas não há sinais, até agora, de vazamento de material nuclear", disse Kovalick em entrada ao vivo na edição do BDBR.

Roberto Kovalick, ao vivo, direto de Kyoto, com as primeiras informações sobre o terremoto que atingiu a costa leste do Japão, Bom Dia Brasil, 11/03/2011.

Roberto Kovalick, ao vivo, direto de Kyoto, com as primeiras informações sobre o terremoto que atingiu a costa leste do Japão, Bom Dia Brasil, 11/03/2011.

Reportagem de Roberto Kovalick sobre as cerimônias realizadas pelos japoneses em homenagem às vítimas do terremoto que atingiu o Japão, um ano depois da tragédia, Fantástico, 11/03/2012.

Reportagem de Roberto Kovalick sobre as cerimônias realizadas pelos japoneses em homenagem às vítimas do terremoto que atingiu o Japão, um ano depois da tragédia, Fantástico, 11/03/2012.

Os apresentadores Evaristo Costa e Sandra Annenberg deram prosseguimento à cobertura da Globo no Jornal Hoje. Ao vivo, Kovalick atualizou o número de mortos, que, só na área do tsunami, já se aproximava de 300; além de informar que os tremores continuavam ocorrendo, muitas vezes de cinco em cinco minutos.

“Lá pelas dez da noite, nós já estávamos nos preparando para o Jornal Hoje, estava muito frio, e nos demos conta de que não tínhamos local para dormir, os hotéis todos estavam lotados. Ficamos na ferroviária mesmo” – Roberto Kovalick.

Quebra de paradigma no JN

O quinto maior terremoto do mundo tomou um minuto inteiro da escalada do Jornal Nacional do dia 11 de março de 2011. Após a exibição de imagens dos tremores capturados ao vivo, a apresentadora Fátima Bernardes anunciou o tsunami, mostrando como a onda varreu partes da cidade de Sendai. William Bonner seguiu a escalada falando sobre a possibilidade de vazamento nuclear e a evacuação das áreas vizinhas. Para finalizar, os âncoras anunciaram as entradas ao vivo, os novos tremores de terra, a preocupação com os brasileiros no Japão e a oferta de ajuda externa.

“Houve uma quebra de paradigma, neste caso, de uma regra que tínhamos: só podia haver uma reportagem de cada jornalista por edição. Se fôssemos seguir essa regra, Roberto Kovalick teria que fazer uma reportagem de cerca de seis minutos, o que não faria sentido, seria praticamente um documentário com mil coisas diferentes misturadas. Isso porque só havia (naquele momento) um correspondente fazendo tudo. Eu optei por dividir em temas e assumi para o público que a cobertura toda era do nosso correspondente. Cada tema foi para um VT (videoteipe)”, comenta William Bonner.

“Depois da noite toda acordados, fizemos uma entrada para o Jornal Nacional às 8h15 da manhã”, relembra Roberto Kovalick. Além das passagens ao vivo, o telejornal noturno divulgou várias imagens do tsunami geradas por agências de notícias e pelo canal japonês NHK World. Também foram destacados fatos técnicos relativos aos tremores, como a localização do epicentro, a 373 km de Tóquio, no Oceano Pacífico, e a profundidade, apenas 24 quilômetros abaixo da superfície terrestre. No segundo bloco, a repórter Sandra Moreyra explicou como surgem e quais os efeitos dos tsunamis, ressaltando que a onda que atingiu a costa do Japão viajou a 700 quilômetros por hora e chegou a uma altura de dez metros.

Reportagem de Marcos Uchoa e Sergio Gilz sobre o acidente nuclear em Fukushima, em decorrência do pior terremoto já registrado até então no Japão. Jornal da Globo, 15/03/2011.

Reportagem de Marcos Uchoa e Sergio Gilz sobre o acidente nuclear em Fukushima, em decorrência do pior terremoto já registrado até então no Japão. Jornal da Globo, 15/03/2011.

A IDA A SENDAI

No dia seguinte ao terremoto, a cobertura seguiu com grande destaque na Globo. Os dois primeiros blocos do Jornal Nacional foram dedicados exclusivamente às notícias do Japão. No final do segundo bloco, foi ao ar a matéria que a equipe do repórter Roberto Kovalick havia feito sobre a travessia de 14 horas para ir de Tóquio até Sendai.

Reportagem de Roberto Kovalick sobre a viagem, que durou mais de 20 horas, de Tóquio até Sendai, região mais afetada pelo terremoto e próxima à usina nuclear de Fukushima, Jornal Nacional, 12/03/2011.

Reportagem de Roberto Kovalick sobre a viagem, que durou mais de 20 horas, de Tóquio até Sendai, região mais afetada pelo terremoto e próxima à usina nuclear de Fukushima, Jornal Nacional, 12/03/2011.

Assim que os trens voltaram a circular, Kovalick e sua equipe embarcaram para Tóquio e se depararam com um cenário muito diferente do habitual, sobretudo por causa do acúmulo de lixo. No final daquela mesma tarde, a equipe seguiu, de carro, em direção à região do tsunami. Quando já estavam na estrada, uma avaria no sistema de refrigeração, provocada pela onda gigante, gerou uma explosão na usina atômica de Fukushima, localizada entre Tóquio e a região afetada pelo tsunami. “Eu fiquei com muito receio do que fazer, porque não era só a minha segurança, eu era responsável pela equipe. Sugeri uma votação, meu voto foi a favor de ir, mas não era apenas a minha segurança. A resposta dos três foi: ‘Você decide’”.

Não foi preciso decidir: logo Roberto Kovalick e sua equipe receberam a informação de que a passagem nos arredores de Fukushima havia sido bloqueada e só restava a opção de pegar uma estrada montanhosa que, ao invés das duas horas de viagem, demorou metade do dia. “Foi o que nós fizemos, inclusive o trajeto que percorremos para chegar lá foi a minha primeira reportagem no dia seguinte. Todas as outras equipes pegaram a estrada mais curta e ficaram presas. O combustível também acabou. A gente conseguiu chegar em Sendai, que foi a cidade mais atingida pelo tsunami, às seis horas da manhã. Fomos uns dos primeiros do mundo”.

Jornal da Globo: explicações técnicas

À meia-noite, a cobertura do Jornal da Globo trouxe informações técnicas. O apresentador William Waack explicou a situação de risco em Fukushima. “Neste caso, nós fizemos uso do nosso formato ‘Professor Raimundo’. Eu tenho formação em energia nuclear na área de não proliferação, o que foi muito vantajoso, porque, quando ocorreu o desastre, eu sabia a quais fontes recorrer. Praticamente todas as noites, eu entrava com as imagens e as informações técnicas, de pé, no estúdio, com telas projetadas, sem teleprompter”.

No primeiro bloco do telejornal, além de imagens inéditas, foram veiculadas matérias explicando a origem do terremoto e a causa do tsunami, juntamente com diversos dados, como os do Instituto de Geofísica e Vulcanologia da Itália, que informava que a força do terremoto havia mudado o eixo da terra em 25 centímetros.

A PIOR CRISE JAPONESA DESDE A SEGUNDA GUERRA

No domingo, dia 13 de março, dois dias após os eventos que abalaram o Japão, o Fantástico começou sua edição com um relógio digital mostrando a hora do terremoto sobre uma tela preta, 14h46 no Japão. Em seguida, imagens fortes dos tremores e do tsunami varrendo o litoral nordeste davam a medida do estrago. Os apresentadores Patrícia Poeta e Zeca Camargo chamaram, diretamente de Oshuo, na área nordeste do país, o correspondente Marcos Uchoa. “Aqui é a primeira cidade onde você pode encher o tanque de gasolina, comprar comida de supermercado, carregar seu telefone. No momento é o que está funcionando”, falou ao vivo. Durante o programa, ainda foi retransmitida parte da declaração do primeiro ministro Naoto Kan, declarando que aquela era a pior crise japonesa desde o final da segunda guerra mundial, 65 anos antes. O governo japonês anunciou o racionamento de eletricidade, já que quase 30% da energia do país provinham de usinas nucleares que estavam sendo desligadas. Também foram ao ar matérias sobre as famílias brasileiras que buscavam contato com os parentes no Japão.

Nos dias seguintes, Ali Kamel, então diretor da Central Globo de Jornalismo, entrou em contato com os repórteres e pediu que deixassem o local, preocupado com a possível radiação da usina de Fukushima. O governo japonês havia emitido um comunicado de evacuação para um raio de 20 quilômetros. “Pedimos que eles saíssem de Sendai e fizessem a matéria da fuga. Os repórteres se sentem muito na obrigação de fazer o melhor. Não há necessidade de correrem nenhum risco”.

Depois disso, os repórteres deixaram o país. Marcos Uchoa voltou para Paris, Roberto Kovalick foi para Nagoya e Cingapura, de onde continuou fazendo as passagens. Duas semanas mais tarde, todos retornaram ao Japão. A cobertura diária nos telejornais durou praticamente um mês.

Reportagem de Marcos Uchoa e Sergio Gilz sobre o terremoto de 8,9 graus na escala Richter que devastou a costa nordeste do Japão, provocando um tsunami e um vazamento na usina atômica de Fukushima. Fantástico, 13/03/2011.

Reportagem de Marcos Uchoa e Sergio Gilz sobre o terremoto de 8,9 graus na escala Richter que devastou a costa nordeste do Japão, provocando um tsunami e um vazamento na usina atômica de Fukushima. Fantástico, 13/03/2011.

Reportagem de Marcos Uchoa e Sergio Gilz sobre a destruição causada pelo terremoto nas cidades japonesas de Kesennuma e Rikusen. Fantástico, 13/03/2011.

Reportagem de Marcos Uchoa e Sergio Gilz sobre a destruição causada pelo terremoto nas cidades japonesas de Kesennuma e Rikusen. Fantástico, 13/03/2011.

Reportagem de Marcos Uchoa e Sergio Gilz sobre a crise do abastecimento causada pelo terremoto no Japão. Bom Dia Brasil, 16/03/2011.

Reportagem de Marcos Uchoa e Sergio Gilz sobre a crise do abastecimento causada pelo terremoto no Japão. Bom Dia Brasil, 16/03/2011.

Desde a década de 60, o governo japonês vem construindo barreiras de concreto no litoral do país. Achava-se que as construções seriam suficientes para proteger a usina de Fukushima em caso de tsunami. Jornal Nacional, 21/03/2011.

Desde a década de 60, o governo japonês vem construindo barreiras de concreto no litoral do país. Achava-se que as construções seriam suficientes para proteger a usina de Fukushima em caso de tsunami. Jornal Nacional, 21/03/2011.

UM ANO DEPOIS

Quando a tragédia no Japão completou um ano, o Jornal Nacional exibiu uma série especial. Uma das matérias explicava que o grau de radiação em Fukushima ainda estava muito acima do normal.

Na edição do Fantástico do dia 11 de março de 2012, reportagens especiais mostraram a situação dos locais que foram destruídos, os pedidos pelo fim da energia nuclear e as cerimônias realizadas em memória dos mortos, mais de 16 mil pessoas.

FONTES

Depoimentos concedidos ao Memória Globo por: Ali Kamel (25/03/2012), Renata Vasconcellos (12/03/2012), Roberto Kovalick (12/01/2012), William Bonner (07/03/2012) e William Waack (21/03/2012). Bom Dia Brasil (11/03/2011 a 11/04/2011); Fantástico (13/03/2011); Jornal da Globo (11/03/2011 a 11/04/2011); Jornal Hoje (11/03/2011 a 11/04/2011); Jornal Nacional (11/03/2011 a 11/04/2011 e 12/03/2012).
Mais do memoriaglobo
Projeto Resgate

Malhação reestreou em maio de 2001 com uma trama mais dramática que o habitual e investindo mais nas campanhas de responsabilidade social.

'Malhação Múltipla Escolha 2001' estreia no Globoplay  - Foto: (Memoria Globo)
Projeto Resgate do Globoplay

Adaptação de obra homônima de Antonio Callado, 'A Madona de Cedro' relata o drama de um homem religioso que contraria seus valores morais em nome do amor.

O roubo de uma obra de arte movimenta 'A Madona de Cedro' - Foto: (Jorge Baumann/Globo)
Dia de alegria!

A atriz Adriana Esteves nasceu no Rio de Janeiro. Estreou na Globo em um quadro do 'Domingão do Faustão', em 1989. No mesmo ano estreou em sua primeira novela, 'Top Model'.

Parabéns, Adriana Esteves! - Foto: (Ique Esteves/Globo)
O telejornal que acorda com o país

Com uma linguagem leve e informal, o telejornal informa as primeiras notícias do Brasil e do mundo para um público que acorda ainda de madrugada.

'Hora 1' completa 10 anos apostando no dinamismo e credibilidade  - Foto: (Arte/Memória Globo)
Fundador da TV Globo

O jornalista e empresário Roberto Marinho nasceu no Rio de Janeiro, em 3 de dezembro de 1904. Foi diretor-redator-chefe do jornal O Globo, aos 26 anos. Criou a TV Globo em 1965 e, em 1991, a Globosat, produtora de conteúdo para canais de TV por assinatura. Morreu em 2003, aos 98 anos.

Roberto Marinho nasceu há 120 anos: relembre a vida do jornalista e empresário - Foto: (Acervo Roberto Marinho)
"Quem cultiva a semente do amor..."

A novela exalta o poder feminino por meio da trajetória de Maria da Paz e traz uma história contemporânea de amor, coragem e esperança.

Relembre Maria da Paz, 'A Dona do Pedaço' - Foto: (João Miguel Júnior/Globo)
Projeto Fragmentos do Globoplay

A novela celebrava o centenário de morte de José de Alencar e se baseava em três obras do autor: A Viuvinha, Til e O Sertanejo.

'Sinhazinha Flô' teve Bete Mendes como protagonista  - Foto: (Nelson Di Rago/Globo)