Por Memória Globo

João Miguel Júnior/Globo

Cenografia e Direção de Arte 

A estética de ‘A Dona do Pedaço’ é inspirada nas artes plásticas, fotografia e cinema. As equipes de direção de arte e de cenografia, que têm  Valdy Lopes, Alexandre Gomes, Anne  Bourgeois e Claudiney Barino à frente, desenvolveram o prólogo, a primeira e a segunda fase da novela com referências conhecidas. Os Irmãos Coen estão na junção das estampas e  nas questões geométricas e florais. Assim como o  David Lynch  na intensidade de cores, nos enquadramentos dos carros e na maneira de ver as estradas.  

Cesar Ferrario em A Dona do Pedaço, 2019 — Foto: João Miguel Júnior/Globo

A novela se inicia com um prólogo, na década de 1970. Ainda no primeiro capítulo, uma passagem de tempo de cerca de 20 anos situa a trama na primeira fase. No início da segunda semana da novela no ar, outros 20 anos se passam, e a novela chega a 2019.  Para diferenciar fases distintas, a direção optou por carros de época e alguns utensílios de cozinha. As cores vermelha e azul, dos Ramirez e dos Matheus, respectivamente, passam pela novela inteira. 

A dualidade dos clãs protagonistas é percebida através de marcações que envolvem antagonismos como quente x frio, estampado x liso. Os Matheus usam jeans escuro, marrom escuro e azul e os Ramirez, tons mais terrosos e vermelhos. A casa deles tem o telhado vermelho, assim como as janelas são marcadas com a mesma cor. Vermelho é a cor preferida de Maria, ela tem um símbolo sanguíneo. 

No caso de Amadeu (Marcos Palmeira), o azul dá o tom do personagem. Os Matheus têm um universo mais seco do que o dos Ramirez. A casa dele tem um marrom, verde escuro, e a casa de Maria é vermelha com papel de parede de rosas e muitos espelhos.  

Fernanda Montenegro e Mirella Sabarense em A Dona do Pedaço, 2019 — Foto: João Miguel Júnior/Globo

Gravações no Rio Grande do Sul

As gravações da novela começaram em locações no Rio Grande do Sul, nas cidades de Jaguarão, Nova Esperança do Sul e São Gabriel, onde a equipe e o elenco passaram cerca de 30 dias. Lá foram gravadas as principais cenas dos sítios dos Ramirez e dos Matheus, os conflitos entre as famílias, os primeiros encontros de Maria da Paz e Amadeu e parte do casamento, onde acontece a tragédia.

No Rio Grande do Sul, foram montadas as locações das duas fazendas das famílias e a igreja. A opção de gravar no Sul foi feita por apresentar um cenário sem relevo, um horizonte linear e céu absoluto para contar a história dessas duas famílias que vivem isoladas, na cidade fictícia de Rio Vermelho. 

Áurea Maranhão, Álamo Facó e Luiz Carlos Vasconcelos em A Dona do Pedaço, 2019 — Foto: João Miguel Júnior/Globo

Ainda nas locações do Sul, grande parte do set foi coberta de feno para imprimir uma paisagem árida. Esses fenos também foram trazidos para o Rio de Janeiro por conta da continuidade das cenas nos estúdios. O cenário ganhou também uma enorme e frondosa árvore cenográfica, produzida especialmente para novela, em frente à casa dos Ramirez.

Interior das casas

A decoração das casas recebeu um tratamento especial das equipes de direção de arte e de cenografia. Na primeira fase, para ganhar um aspecto de envelhecidas, elas foram revestidas internamente com papel de parede. Foram colocadas luzes fluorescentes na parte de dentro e nas fachadas das residências. 

Quando chega à segunda fase, em São Paulo, a novela mantém a estética pop através de intervenções pontuais. O apartamento da Maria da Paz tem um vermelho bastante presente com muitas estampas.

Juliana Paes em A Dona do Pedaço, 2019 — Foto: João Miguel Júnior/Globo

A primeira casa que Maria da Paz (Juliana Paes) adquire com o dinheiro de seu trabalho entrega muito de sua personalidade. É um apartamento amplo, com uma foto imensa na parede, peças de decoração de animais, detalhes em dourado.

Já a segunda residência, para onde ela se muda por influência de Régis (Reynaldo Gianecchini) e Josiane (Agatha Moreira), é um palacete, com o qual não se identifica. A mansão é decorada por uma arquiteta.

Cidades cenográficas: Bixiga e Jardins 

Para contar a história de ‘A Dona do Pedaço’, duas cidades cenográficas foram erguidas nos Estúdios da Globo para reproduzir os tradicionais bairros paulistanos do Bixiga e dos Jardins. Por lá, ficam as fachadas das casas de Antero (Ary Fontoura), Marlene (Suely Franco) e Dorotéia (Rosi Campos), além de shopping, academia, restaurantes e da fábrica de bolos. Dentro dela, no mezanino, fica o escritório de Maria da Paz, com uma visão geral de todo o processo de produção de seus bolos. São 4600m² na parte do Bixiga e mais 3800 m² nos Jardins.

Juliana Paes em A Dona do Pedaço, 2019 — Foto: João Miguel Júnior/Globo

Figurino: influências, tendências e estilos 

Assim como na cenografia e na direção de arte, referências do cinema inspiraram as equipes de caracterização e figurino. Assinado por Claudia Kopke e Sabrina Moreira, o figurino de ‘A Dona do Pedaço’ acompanha a estética desenvolvida para os espaços cênicos, de acordo com as respectivas fases.  

Uma atmosfera que mistura referências dos Irmãos Coen, Quentin Tarantino e Wes Anderson habita a novela em suas diferentes etapas. O vermelho da família Ramirez, que se deve à ascendência de Dulce (Fernanda Montenegro), e o azul dos Matheus transcendem todas elas. Dulce é descendente de ciganos espanhóis, que vieram de Granada e usa acessórios grandes. Maria da Paz (Juliana Paes), que, na primeira fase quase não usa acessórios, olha o brinco da avó e tem um encantamento. Tons dos laranjas, avermelhados e vinhos fazem parte da paleta de cor. 

A equipe também trabalhou a evolução do figurino com a passagem do tempo. A partir do momento em que toma as rédeas da própria vida em São Paulo, a referência para Maria da Paz tem influência das musas latinas, como Eva Mendes e Penélope Cruz, até chegar nas divas italianas Sofia Loren e Mônica Belucci.

No contraponto dos tons quentes está o figurino dos Matheus. Seus integrantes usam tons mais frios, lisos e com pouca estampa. Amadeu começa a trama com uma leve pegada sertaneja, que é deixada para trás ao longo da novela. Régis (Reynaldo Gianecchini) é um oposto, faz o estilo mauricinho-gato, com uma referência italiana.  

Reynaldo Gianecchini e Agatha Moreira em A Dona do Pedaço, 2019 — Foto: Victor Pollak/Globo

Outro look que merece atenção é o da it girl  Vivi Guedes (Paolla Oliveira). O figurino da personagem faz jus à beleza de sua intérprete, que assume as curvas e o próprio corpo. Vivi usa poucos acessórios, é monocromática, apresenta uma silhueta mais seca, mas tem muito brilho, strass e roupas de látex.  

Ainda no núcleo das influenciadoras, Josiane (Agatha Moreira) não tem um estilo próprio. Depois de contratar Kim (Monica Iozzi), terá seu visual completamente repaginado.  

Já a personagem de Monica Iozzi, assessora de imagem e empresária de blogueiras, deixa suas clientes brilharem, mas está sempre pronta. O estilo de Kim tem uma pegada alfaiataria, mas básica. Elegante, está sempre pronta para qualquer evento.

Monica Iozzi e Paolla Oliveira em A Dona do Pedaço, 2019 — Foto: João Miguel Júnior/Globo

O núcleo dos moradores de rua da trama apresenta um conceito visual carregado de irreverência. Eusébio (Marco Nanini) veste calças e camisas de pijamas no dia a dia. Cornélia (Betty Faria) é mais assanhada, tem um pouco de crochê, estampa, tricô, legging, umas bijuterias de plástico, bem popular. Chico (Tonico Pereira) usa roupas de nylon. A mistura de cores, estampas, texturas e camadas dá o tom do figurino da família.

Caracterização: tons e cortes emolduram múltiplas personalidades   

O conceito da caracterização de ‘A Dona do Pedaço’ foi pensado e assinado por Sumaia Assis, Martín Macías Trujillo (prólogo e primeira fase) e Marcos Padilha (segunda fase). As mudanças foram pensadas para que, ao chegar em 2019, os personagens tivessem uma aparência coerente.

A equipe optou por utilizar uma moderna técnica de rejuvenescimento para os atores que atuam no prólogo e na primeira fase: o lifting, que consiste em esticar a pele em alguns pontos específicos.  

Nas duas primeiras etapas, a pele do elenco vai parecer um pouco mais morena. São peles castigadas e com manchas nos homens, porque eles ficam muito expostos ao sol. E as crianças têm as pernas empoeiradas. 

Em alguns casos foram feitas mudanças de cabelo, de comprimento, corte e apliques nas fases iniciais. Dulce (Fernanda Montenegro), por exemplo, começa a novela com um aplique mais grisalho, e depois o cabelo aparece branco e com aplique.  

Juliana Paes, Fernanda Montenegro e Nívea Maria em A Dona do Pedaço, 2019 — Foto: João Miguel Júnior/Globo

Uma grande transformação no visual foi pensada para a Maria da Paz. Juliana Paes começa a novela com um aplique e tom de cabelo mais escuro, que muda quando ela enriquece. O tom louro marca a virada financeira. Na primeira fase, é uma mulher batalhadora. Em 2019, Maria da Paz ganha dinheiro, mas não tem um gosto refinado. Ela tem joias, capricha na maquiagem e mistura muita cor, brilho e ouro. 

Quem chega na novela causando é Kim. A mudança no tom do cabelo da atriz fez toda a diferença para traduzir o espírito moderno que ela imprime quando aparece em cena. O louro branco virou um louro platinado. Kim é uma mulher moderna, que dita para as outras as influencers, o que está no top de bonito, não tem medo de arriscar.   

Na contramão dessa onda dourada vem Vivi Guedes. Paolla Oliveira abandonou o tom louro e pintou o cabelo de castanho, além de receber um aplique para alongar os fios.    

CURIOSIDADES

O autor Walcyr Carrasco se inspirou em sua avó para a criação da personagem Maria da Paz. “Minha avó paterna, Rosa, era uma grande cozinheira, fazia doces maravilhosos. Então cresci com esse amor por ela e seus doces. Adoro fazer bolos, ver a massa sendo batida, adoro comer os bolos! Cozinhar é muito dentro do meu universo. E eu tenho um apreço especial pela culinária. Mas também lido com a ideia de que as pessoas podem subir na vida utilizando aquilo que já sabem, um dom, e a vontade de lutar e trabalhar. É uma mensagem de esperança, da certeza de que todos podem encontrar seu lugar no mundo”, contou o autor, durante o evento de divulgação da novela.

Juliana Paes em A Dona do Pedaço, 2019 — Foto: Estevam Avellar/Globo

O sucesso do @estiloviviguedes

Em ‘A Dona do Pedaço’, a digital influencer Vivi Guedes (Paolla Oliveira) foi um marco na história da Globo. O @estiloviviguedes, perfil oficial da personagem nas redes sociais, aproximou a ficção da vida real e conquistou cerca de 2,5 milhões de “seguimores” altamente engajados, que puderam interagir com a personagem ao longo de toda a trama. Para manter o relacionamento com esse público e aproveitar todo interesse no território de moda e beleza, após o capítulo final, o perfil da influencer passou a ser uma plataforma de distribuição de conteúdo de moda e estilo da Globo. Foi criado um novo novo perfil @PraVcArrasar, reunindo tendências de moda, tutoriais de maquiagem e ensaios fotográficos para destacar o estilo de talentos e personagens da empresa.

Paolla Oliveira, Natália do Vale e José de Abreu em A Dona do Pedaço, 2019 — Foto: João Miguel Júnior/Globo

Mais do memoriaglobo
Projeto Resgate

Malhação reestreou em maio de 2001 com uma trama mais dramática que o habitual e investindo mais nas campanhas de responsabilidade social.

'Malhação Múltipla Escolha 2001' estreia no Globoplay  - Foto: (Memoria Globo)
Projeto Resgate do Globoplay

Adaptação de obra homônima de Antonio Callado, 'A Madona de Cedro' relata o drama de um homem religioso que contraria seus valores morais em nome do amor.

O roubo de uma obra de arte movimenta 'A Madona de Cedro' - Foto: (Jorge Baumann/Globo)
Dia de alegria!

A atriz Adriana Esteves nasceu no Rio de Janeiro. Estreou na Globo em um quadro do 'Domingão do Faustão', em 1989. No mesmo ano estreou em sua primeira novela, 'Top Model'.

Parabéns, Adriana Esteves! - Foto: (Ique Esteves/Globo)
O telejornal que acorda com o país

Com uma linguagem leve e informal, o telejornal informa as primeiras notícias do Brasil e do mundo para um público que acorda ainda de madrugada.

'Hora 1' completa 10 anos apostando no dinamismo e credibilidade  - Foto: (Arte/Memória Globo)
Fundador da TV Globo

O jornalista e empresário Roberto Marinho nasceu no Rio de Janeiro, em 3 de dezembro de 1904. Foi diretor-redator-chefe do jornal O Globo, aos 26 anos. Criou a TV Globo em 1965 e, em 1991, a Globosat, produtora de conteúdo para canais de TV por assinatura. Morreu em 2003, aos 98 anos.

Roberto Marinho nasceu há 120 anos: relembre a vida do jornalista e empresário - Foto: (Acervo Roberto Marinho)
"Quem cultiva a semente do amor..."

A novela exalta o poder feminino por meio da trajetória de Maria da Paz e traz uma história contemporânea de amor, coragem e esperança.

Relembre Maria da Paz, 'A Dona do Pedaço' - Foto: (João Miguel Júnior/Globo)
Projeto Fragmentos do Globoplay

A novela celebrava o centenário de morte de José de Alencar e se baseava em três obras do autor: A Viuvinha, Til e O Sertanejo.

'Sinhazinha Flô' teve Bete Mendes como protagonista  - Foto: (Nelson Di Rago/Globo)