Criado em 1966 pelo jornalista Augusto Marzagão e pelo então governador do estado da Guanabara, Negrão de Lima, com o objetivo de projetar a MPB, incentivar compositores e arranjadores, e promover maior intercâmbio entre os grandes centros musicais do mundo inteiro, o 'Festival Internacional da Canção' (FIC) se tornou parte integrante do calendário oficial da Secretaria Estadual de Turismo. A primeira edição, de 1966, foi patrocinada pela TV Rio. Em 1967, a Globo passou a investir nos festivais e a transmiti-los.
Apresentação: Arlete Salles, Betty Faria, Hilton Gomes, Ilka Soares, Murilo Nery, Norma Blum, Maria Cláudia | Criação: Augusto Marzagão | Período de exibição: 1967 – 1972 | Periodicidade: anual
Abertura do FIC, Festival Internacional da Canção (1967).
SINOPSE
- Foram sete edições ao todo, realizadas no ginásio do Maracanãzinho, no Rio de Janeiro.
- Algumas eliminatórias também aconteceram em São Paulo.
- Hilton Gomes era o apresentador oficial do FIC.
- O festival era dividido em duas fases, a nacional e a internacional. A canção classificada em primeiro lugar na fase nacional representava o Brasil na fase internacional do festival, disputando com representantes de outros países o Prêmio Galo de Ouro – desenhado pelo cartunista Ziraldo e confeccionado pela joalheria H. Stern.
- O Hino do FIC, tema de abertura do festival, foi criado por Erlon Chaves.
VENCEDORES
FASE NACIONAL
1966 – 'Saveiros', de Dori Caymmi e Nelson Motta, com Nana Caymmi;
1967 – 'Margarida', de Gutemberg Guarabira, com Guarabira e o grupo Manifesto;
1968 – 'Sabiá', de Tom Jobim e Chico Buarque de Hollanda, com Cynara e Cybele (também vencedora na fase internacional);
1969 – 'Cantiga por Luciana', de Paulo Tapajós e Edmundo Souto, com Evinha (também vencedora na fase internacional);
1970 – 'BR-3', de Antonio Adolfo e Tibério Gaspar, com Tony Tornado, Trio Ternura e Quarteto Osmar Milito;
1971 – 'Kyrie', de Paulinho Soares e Marcelo Silva, com Trio Ternura;
1972 – 'Fio Maravilha', de Jorge Ben, com Maria Alcina.
FASE INTERNACIONAL
1966 – 'Frag Den Wind' (Alemanha), de Helmuth Zacharias e Karl Schauber, com Inge Bruck;
1967 – 'Per una Donna' (Itália), de Perreta e Marcello di Martino, com Jimmy Fontana;
1968 – 'Sabiá' (Brasil), de Tom Jobim e Chico Buarque de Hollanda, com Cynara e Cybele, que vencera o III FIC;
1969 – 'Cantiga por Luciana' (Brasil), de Paulo Tapajós e Edmundo Souto, com Evinha, que vencera o IV FIC;
1970 – 'Pedro Nadie' (Argentina), de Piero e José, com Piero;
1971 – 'Y Después del Amor' (México), com Hermanos Castro;
1972 – 'Nobody Calls me Prophet' (EUA), com David Clayton-Thomas.
CURIOSIDADES
1968
Em 1968, começaram as críticas à fase internacional do festival, motivadas pela baixa qualidade das canções.
1969
Em 1969, o 'Festival Internacional da Canção' começou com a contagem regressiva do locutor Hilton Gomes, acompanhada por um coro de 25 mil espectadores: “Cinco… quatro… três… dois… um, boa sorte, maestro!”. O “boa sorte, maestro” proferido por Hilton Gomes ficou imortalizado.
Nesse mesmo ano, a apresentação de Wilson Simonal foi um dos destaques no encerramento do FIC. Ao som de 'Meu Limão, Meu Limoeiro' o cantor regeu um coro de 30 mil pessoas no Maracanãzinho.
1970
Convidado para fazer o show de encerramento da final internacional do FIC de 1970, Erlon Chaves armou uma grande produção para cantar 'Eu Também Quero Mocotó', que ele defendera na final nacional e ficara em sexto lugar. Duas louras contratadas por ele apareceram rodopiando no palco, em trajes cor de pele, gritando “Eu quero mocotó!”, e beijando Erlon Chaves. Na época, a visão de mulheres brancas beijando carinhosamente um homem negro causou escândalo na plateia e, principalmente, entre os telespectadores que assistiam à final. Erlon Chaves saiu do palco e foi imediatamente levado à uma delegacia para prestar esclarecimentos. José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, responsável pela transmissão, também foi preso.
1971
A edição de 1971 do 'Festival Internacional da Canção' foi a que mais exigiu habilidade de negociação da Globo. Devido à censura imposta pelo governo militar, o festival por pouco não foi realizado. Paulo César Ferreira, ex-diretor da Rádio Nacional, foi para a Globo como assessor de Walter Clark e fez a ponte entre os artistas e o governo.
Às vésperas da data marcada para o festival, a Globo, por intermédio da figura de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho (o Boni), assumiu a direção do festival no lugar de Gutenberg Guarabira – que havia vencido o FIC de 1967 com a canção 'Margarida', e passara a organizar o evento, sob a supervisão de Augusto Marzagão. Por meio de denúncias, descobriu-se que Guarabira estava incentivando compositores a retirarem suas músicas do festival. As confusões que antecederam o festival daquele ano e a má qualidade da maioria das músicas esvaziaram bastante a plateia. Na última eliminatória, menos de 3 mil pessoas compareceram ao Maracanãzinho.
1972
Em 1972, durante a sétima edição do 'Festival Internacional da Canção', a cantora Nara Leão teve que sair da presidência do corpo de jurados após uma entrevista na qual criticava o governo e a situação do país. O júri inteiro acabou sendo destituído e substituído por jurados estrangeiros.
Ainda em 1972, o músico Hermeto Pascoal foi proibido de se apresentar com animais no palco, a despeito de seu argumento de que “o porco dá um grito que nenhum piano do mundo consegue igualar”.
Os outros festivais produzidos pela Rede Globo foram 'II Festival Estudantil de Música Popular Brasileira' (1968); 'Abertura – Festival da Nova Música' (1975); 'Festival da Nova Música Popular Brasileira - MPB-80' (1980); 'MPB-Shell Especial' (1981); 'MPB-Shell 1982' (1982); 'Festival dos Festivais' (1985) e 'Festival da Música Brasileira' (2000).
FONTES
Depoimentos concedidos ao Memória Globo por: Arlete Salles (30/01/2002), Borjalo (25/02/2000), Geraldo Casé (07/11/2001), Herbert Fiuza (24/01/2000), Ilka Soares (09/05/2001), Nelson Motta (10/05/2002), Paulo César Ferreira (06/08/2001); Boletim Especial de Programação da Rede Globo, números 75A, 75B; FERREIRA, Paulo César. Pilares via satélite – Da rádio Nacional à Rede Globo, p.181-4, Rocco; JUNIOR, Carlos Bozzo. “‘Militares regeram festival da Globo em 72’, diz diretor” In: Folha de S. Paulo, 27/05/2000; MELLO, Zuza Homem de. A Era dos Festivais: Uma Parábola, Editora 34, 2003; MOTTA, Nelson. Noites Tropicais, p.174-8, Objetiva, 2000; RIXA. Almanaque da TV, p.98-9, Ediouro, 2007; “No tempo dos festivais quando ainda se protestava” In: Jornal do Brasil, 04/12/1976; “Augusto Marzagão, 20 anos de FIC” In: MAN, 10/05/1986. Sites: http://www.dicionariompb.com.br, www.jornalismocultural.com.br, acessados em 04/2008. |