Flow

Flow

Gints Zilbalodis retorna com Flow, uma animação sem diálogos que mistura beleza visual e ousadia narrativa, mas que, no final das contas, parece não atingir todo o seu potencial. Acompanhamos um grupo de animais navegando por um mundo pós-apocalíptico inundado, onde a ausência de humanos e a fidelidade no comportamento das criaturas conferem uma autenticidade admirável. O problema é que, mesmo com essas qualidades, falta algo para amarrar a experiência de forma mais impactante.

Visualmente, Flow é impecável. A estética criada no Blender é hipnotizante, e cada frame parece feito para ser admirado como uma obra de arte. No entanto, essa beleza quase impecável acaba sendo uma faca de dois gumes: em alguns momentos, senti que estava vendo mais uma tech demo do que uma narrativa. É lindo, mas vazio — e talvez seja essa falta de densidade que enfraquece o filme como um todo.

Admiro o esforço minimalista na ausência de diálogos, onde os sons reais dos animais carregam boa parte da história. Essa escolha funciona em algumas cenas, especialmente nas interações mais tensas ou emotivas. Mas é difícil não sentir que a narrativa perde força em um formato tão contido. A mensagem ecológica e a fábula sobre cooperação interespécies são claras, mas tratadas de maneira superficial, como se o filme quisesse tocar em grandes temas sem realmente explorá-los.

No fim, Flow é uma obra de transição — bela e tecnicamente impressionante, mas que deixa a sensação de que Zilbalodis está tentando encontrar sua voz definitiva no cinema de animação. Vale pela experiência visual, mas não sei se é algo que vou carregar comigo por muito tempo.

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