Como um grande fã do musical original, fico feliz com um resultado que não apenas respeita como homenageia a sua fonte original: é um filme para os fãs, acima de tudo, mas deve agradar quem está em sua primeira visita à jornada de Elphaba.

A crítica política se faz muito mais forte no filme, felizmente. Alguns momentos na tela ficaram mais impactantes do que no palco, como a dança de Elphaba e Glinda, e mesmo The Wizard and I engrandece e com a interpretação de Erivo. Por fim, One Short Day como uma grandiosa homenagem aos palcos mereceu todos os aplausos. Porém, alguns momentos pecaram pelo excesso, e Defying Gravity em si resume minha sensação geral do filme: às vezes, menos é mais. 

Tudo o que envolve a infância de Elphaba é arrebatador, especialmente uma de suas aparições que nos pega de surpresa, mas sobra ação em momentos que o impacto emocional poderia ter sido maior e mais direto.

De qualquer forma, é interessante ver o musical se reinventar aos 21 anos de idade e, a partir daqui, é provável que todas as montagens de Wicked, a peça, passem a ter o recorte racial de sua protagonista tal qual esta nova versão (em todos estes anos, apenas uma atriz negra interpretou Elphaba continuamente, e isso foi no Reino Unido). A escalação de Cynthia Erivo não foi apenas certeira, mas definidora de todo o teor do filme.

O que nos leva aos comentários mais óbvios e redundantes que todos fazem: Wicked, o filme, é o que é graças a Cynthia Erivo e - para a grande surpresa de todo mundo, inclusive minha - Ariana Grande que, com personagens tão distintas entre si, estão sensacionais. Erivo nos conduz à sua dor o filme todo enquanto Grande tem uma potência cômica ainda mais impressionante que a vocal - o que não é pouco.

No fim, uma grande adaptação de um musical da Broadway como há muito tempo não se via - talvez a última referência desta qualidade seja Chicago, de 2002. Mas fica a constatação: na dúvida, menos é mais. A sensação de que ficou faltando alguma coisa é fruto de, na realidade, ter sobrado um tanto.