Bruce LaBruce não conhece limites para o deboche e não seria o sua refilmagem - pois é disso que se trata - de Teorema, filme mais sacro de Pasolini, que seria diferente.

Quem não conhece a obra de LaBruce ou o filme do Pasolini, recomendo ficar longe, imagino que O Visitante fique completamente sem sentido. Quem conhece e gosta de ambos, vá por sua conta e risco, pois as chances de gostar ou odiar parecem 50% cada. 

Gosto de como o diretor manteve seu humor e, mesmo reproduzindo cada parte de Teorema, ele também parece retomar suas obras de origem, especialmente Raspberry Reich. O humor escrachado, as atuações ruins, a construção política caótica… Está tudo lá.

Não é um filme-tratado e a militância de LaBruce é bastante sui generis, mas as alfinetadas políticas sobre xenofobia e racismo estão lá. Tive dúvidas se uma determinada personagem interpretada por uma pessoa transmasculina era um misgender agressivo por parte de LaBruce, mas entendendo que ele está falando da hipocrisia da família burguesa, o personagem volta a fazer sentido.

Com doses altas de sexo explícito, o filme abre mão do erotismo quase sufocante e maravilhoso de Teorema, perdendo seu apelo neste sentido. Mas algumas atualizações nas narrativas de dois personagens - o pai e a filha - foram muito bem-vindas. Outras atualizações, evidentemente, são de profundo mau gosto, como seria de esperar do diretor, com destaque para as mais edípicas. Aqueles que não muito se atualizaram, seguiram interessantes e/ou engraçados, especialmente o filho e a governanta. 

A referência a Macunaíma foi quase um acidente de percurso do diretor, uma sugestão de um produtor brasileiro, mas ficou engraçada e a antropofagia pelo seu caminho reverso é interessante.

Ainda não encontrei o abaixo-assinado para que LaBruce coloque Kurtis Lincoln - o filho - em todos os seus filmes daqui em diante, mas tem meu voto.