I’m Still Here

I’m Still Here

Com uma história tão dura para contar, chega a ser impressionante a delicadeza encontrada por Walter Salles para Ainda Estou Aqui, um filme que nos convida a mergulharmos nas sensações de estarmos com aquela família ao invés de mergulhar na narrativa de fatos e eventos. Sem perder o contexto histórico, todos os acontecimentos são deixados no plano íntimo do cotidiano familiar, o que aumenta a potência e impacto do filme.

Faltam adjetivos para Fernanda Torres. A sua grandeza em silêncios e olhares, uma interpretação capaz de colocar tantas camadas em diálogos que são tidos com voz baixa e afetiva enquanto seu mundo interno está devastado. Deslumbrante, quase sobre-humana. Fernanda Montenegro tem poucos minutos em tela, mas no auge de seus 95 anos também entrega uma atuação sensacional apenas com seu olhar. Por fim, Antônio Sabóia me surpreendeu como Marcelo Rubens Paiva e Selton Mello traz doçura muito sensível ao Rubens Paiva, aqui um pai e marido que desaparece de uma hora para outra, e não um político ou um signo da luta pela verdade histórica. 

Vi muitos comentários sobre Walter Salles ter feito um filme para exportação, visando prêmios internacionais, e acho injusto este ser o recorte de análise. Parece-me mais relevante este filme como uma resposta ao Brasil no seu momento histórico que monstros que debocham da ditadura, da tortura e seus mortos são eleitos ao legislativo e como presidentes. 

Por fim, li o livro do Marcelo quando a minha própria avó começava a desenvolver o Alzheimer, e talvez por isso eu torcesse para uma presença um pouco maior do tema. Mas a potência da memória e a existência que ainda está ali quando ela se esvai ainda são as grandes forças do filme.

Cena de Eunice olhando Rubens ir embora prestar depoimento é a mais bela do ano.

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