Tiago Marin’s review published on Letterboxd:
48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
Indo direto ao ponto, Parque de Diversões é um filme muito bom, mas estou um pouco ressentido por ele ser um filme excelente que perde o fôlego em sua segunda metade. Ou não perde o fôlego, mas volta a ser literal e direto, abrindo mão de sua força anterior.
Sua divulgação está como um filme sobre o mundo cruising, prática de sexo em lugares públicos de forma sigilosa majoritariamente pelo público gay. Mas há algo a ser considerado: em sua apresentação na Mostra, foi dito que o filme é uma dança, e por diversos momentos ele mereceu este posto.
Com uma fotografia lindíssima e difícil de ser construída, para manter o clima de desejo, penumbra e secreto, Parque se inicia em uma brincadeira: e se o desejo fosse um lugar a ser visitado livremente? Nesta primeira parte, outros corpos fora do padrão cisnormativo muitas vezes existente nesta prática sexual aparecem em cena para brincar. O jogo de sedução silenciosa, adrenalina, tesao e mistério é de tirar o fôlego em inúmeros momentos quando desenvolve o jogo erótico com cheiros, luzes, pelos, roupas íntimas e algumas surpresas mais fetichistas, como uma curiosa raspagem. Além disso, vai ampliando as existências: corpos trans e com deficiência entram em cena numa grande coreografia eletrizante - sua ótima trilha sonora reproduz um sentido de adrenalina.
Deste ponto de partida que naturaliza o desejo, o prazer e fetiches, o filme toma um rumo em sua segunda metade de reproduzir nele mesmo as dinâmicas de uma relação sexual um tanto óbvia: por onde ela começa, seus pontos de desenvolvimento e seu ápice final. E nisso o filme perde o fôlego, retorna para o óbvio e pouco inspirado e termina sem mais, assim, flácido.
Ainda assim, o filme representa um respiro de alívio em uma produção contemporânea audiovisual que aparentemente está saindo de um total pavor de narrar a sexualidade humana, o que, considerando o número de críticas reclamando sobre o conteúdo sexual do filme, é muito bom… Mas seria bom que o sexo pudesse ser mais que o óbvio.