• Disco Afrika: A Malagasy Story

    Disco Afrika: A Malagasy Story

    ★★★

    Como um impulso do destino, a morte do amigo de Kwame o tira da vida nas minas clandestinas e o empurra até suas origens. Na casa, as mãos operam como nas buscas na lama por pedras preciosas, encontrando vestígios do pai falecido. É esse vínculo de sangue com uma revolta política que leva o protagonista até o verdadeiro objetivo de Disco Afrika: Uma História de Madagascar, observar por meio dessa jornada pessoal ficcional, uma abordagem quase documental que para e…

  • After the Long Rains

    After the Long Rains

    ★★★

    Não é surpresa que Depois das Longas Chuvas seja uma coprodução entre Quênia e Suíça, já que muitos filmes africanos contam com diretores baseados na europa ou produções de fora, mas é, de alguma forma, engraçado descobrir que Damien Hauser é o criador desse longa que parece tão próprio de sua protagonista. Aisha, uma menina de 11 anos, enxerga o mundo exatamente como ele é retratado no filme. Hauser, um cineasta que nasceu em Zurique, é capaz de usar a…

  • All the Colours of the World Are Between Black and White

    All the Colours of the World Are Between Black and White

    ★★½

    O mundo ao redor de Bambino é formado por pessoas sem rosto, fora de campo ou filmadas de costas, seus posicionamentos na encenação causam algum desconforto e, ao mesmo tempo, revelam a falta de intimidade que o homem adulto tem com a socialização. Apegado a uma certa rotina, comendo sempre no mesmo lugar, evitando trocar mais palavras do que o necessário com qualquer um que seja, só enxerga o rosto de duas pessoas, da amiga que frequentemente está em sua…

  • Goodbye Julia

    Goodbye Julia

    ★★★½

    Em 2023, Adeus, Julia (Goodbye Julia) foi o primeiro filme do Sudão a ser exibido em Cannes e, ao que parece, a produção do país ainda é bem baixa nesse setor. Mas o trabalho de Mohamed Kordofani ou de suas atrizes está longe de soar amador, mostrando habilidade na encenação e contando com o apoio de uma equipe diversa e da produção executiva de Lupita Nyong’o, o que certamente ajudou essa história a chegar a mais lugares. Ao tratar corajosamente…

  • The Empty Grave

    The Empty Grave

    ★★

    Depois de alguns documentários dividindo temáticas similares nesse ano, confesso que estou bastante cansada desse cinema que visa retratar os males do colonialismo se colocando de forma tão condescendente. Ficar ao lado do europeu e o permitir se redimir fazendo praticamente nada é lamentável, uma forma de linguagem nada combativa que usa a dor de algumas pessoas em busca de respostas e as reduz a coitados levando tapinhas nas costas dos descendentes que mataram suas famílias e destruíram seus espaços.…

  • Banel & Adama

    Banel & Adama

    ★★★½

    O cinema tem suas ironias, funciona com uma mística própria que ri do tempo. Banel e Adama fez sua estreia há mais de um ano em Cannes e hoje chega a uma São Paulo em caos climático, quando esperamos tanto por uma chuva que purifique o ar e amenize as temperaturas quanto os moradores do vilarejo no filme. O amor vivido em cumplicidade se choca con esse mundo desabando, Banel e Adama nasceram para uma liberdade mas são fadados às restrições das tradições. Mas se Adama é movido pelo medo, Banel é pela coragem de criar seu próprio destino.

    Crítica completa.

  • Banned

    Banned

    ★★★

    Parte importante da programação da Mostra de Cinemas Africanos deste ano é uma seleção de filmes que destacam os 30 anos do fim do apartheid, um deles é Banido (Banned), da cineasta Naledi Bogacwi, que faz sua estreia na direção de longas com este documentário. É notável que este é o ínicio de sua jornada, por como o ritmo é instável e a encenação é simples, mas é sua vontade de realmente contar essa história que ultrapassa as dificuldades e…

  • Black Tea

    Black Tea

    ★½

    Na Costa do Marfim, iluminada pelo sol, uma mulher aguarda o momento de seu casamento com inquietação e pouca sintonia com o noivo, enquanto observa outro casal, uma mulher jovem como ela, com um homem mais velho e claramente de outra origem, totalmente conectados. Após recusar o matrimônio no altar, Aya (Nina Mélo) aparece com outras vestes em um outro lugar, quase sempre vista pela noite na cidade. O salto que indica sua mudança drástica, agora na China, revela uma…

  • The Cemetery of Cinema

    The Cemetery of Cinema

    ★★★½

    A era dos streamings e as múltiplas possibilidades de consumir cinema fora da sala escura coletivamente causaram uma leva de reflexões no que podemos considerar uma das muitas mortes dessa arte ainda tão jovem. É como já falei em meu texto sobre Retratos Fantasmas (Kleber Mendonça Filho, 2023) que conversa muito com Adeus, Dragon Inn (Tsai Ming-Liang, 2003), e essa relação aparece mais uma vez, agora na Guiné. Mas, se Kleber fez um retrato extremamente pessoal e Tsai Ming-Liang um…

  • Sira

    Sira

    ★★★

    Sira foi meu primeiro filme de Burkina Faso, mais uma grande descoberta graças à Mostra de Cinemas Africanos, além disso, o filme conta com uma mulher na direção. Não é que a força feminina seja novidade no cinema dos países africanos, seja exaltando suas presenças históricas nas narrativas, ou jogando luz nas opressões que sofrem. Em Sira, os dois pontos existem, já que Apolline Traoré faz uma obra política, acima de tudo, retratando problemáticas que acontecem atualmente na região do…

  • The Blue Caftan

    The Blue Caftan

    ★★★

    O belo tecido azul petróleo, destacado pelos fios dourados e brilhantes, manejado com tanto carinho em planos muito próximos, são detalhes que pontuam como a cineasta Maryam Touzani pretende olhar para a relação entre Mina (Lubna Azabal) e Halim (Saleh Bakri). O melodrama aqui é muito efetivo ao aproximar gradualmente o espectador desse casamento, que à primeira vista pode parecer um incômodo entre uma mulher amargurada e difícil de lidar e um homem mais sensível que esconde seus verdadeiros desejos.…

  • Xalé

    Xalé

    ★★★★

    As temáticas femininas não são novidade no trabalho de Moussa Sène Absa, na verdade, Xalé é o terceiro filme de sua trilogia sobre mulheres, que passa por Tableau Ferraille (1997) e Madame Brouette (2002). O longa que fecha essa série foi o escolhido para representar o Senegal no Oscar de 2023, ainda que poucas pessoas pareçam conhecer a obra do diretor, e também foi seu primeiro trabalho com uma equipe totalmente local, sem usar pessoas de outros países como a…