Raissa Ferreira’s review published on Letterboxd:
Operando, primeiramente, como uma espécie de documentário found footage, Elizabeth Sankey monta sua narrativa a partir das representações de bruxas no cinema e na televisão, dos mais recentes aos mais antigos, de referências óbvias a outras menos recorrentes nas memórias de um histórico audiovisual representando a bruxaria. A diretora caminha em uma introdução que finalmente chega a seu ponto central: a saúde mental pós-parto. Tema recorrente de obras em diversos períodos do tempo e por inúmeras perspectivas, curiosamente parece se relacionar à abordagem de um filme de terror deste mesmo ano, Salve Maria, de Mar Coll, que também usa a história conhecida de uma mãe que afogou os filhos na banheira como pontapé inicial de um debate acerca da mente da protagonista que acabara de se tornar mãe. Em Bruxas, no entanto, há um viés muito mais pessoal, é a própria história e experiência de Elizabeth que será retratada e, para isso, a diretora se insere além da narração que já abre o longa, colocando seu rosto em cena para partilhar o que vive e viveu e, também, para encenar sua representação de uma bruxa a partir do imaginário comum. Assim, elementos de florestas se tornam parte dos cenários, embora o filme seja no estilo talking heads, bem protocolar em como filma suas entrevistas, insere essas pequenas pistas de um visual que brinca com a ideia de que todas ali também são bruxas. Costura-se, então, entre depoimentos de mulheres e imagens emprestadas de outras obras, um paralelo entre a bruxaria histórica que condenou e matou tantas, com a vivência da saúde mental pós-parto atual, relacionando os demônios escondidos nas mentes com relatos antigos, confissões e condenações. O que chama a atenção é que, com esse trabalho, Elizabeth acaba por mostrar toda a estrutura do sistema de saúde britânico, que mesmo assim se mostra insuficiente para acolher as demandas das bruxas contemporâneas.