Raissa Ferreira’s review published on Letterboxd:
O cartaz afetuoso e o título brasileiro de Como Ganhar Milhões Antes Que a Avó Morra podem enganar um pouco. Não que o filme de Pat Boonnitipat não seja, de fato, uma história bem amorosa e familiar, mas por conta da motivação financeira que inicia o vínculo entre o neto M (Putthipong Assaratanakul) e sua avó (Usha Seamkhum) nessa fase específica de suas vidas. A primeira indicação de que o milhão é necessário para comprar o lote em que Amah será enterrada, serve como um MacGuffin inevitável, embora M não passe toda a narrativa em busca do dinheiro para essa finalidade, é o que acaba acontecendo de qualquer forma. O afeto é construído no desenrolar, mas o que motiva o neto a se envolver com a avó é uma ganância nada bem intencionada. Um longa tailandês extremamente popular, próximo ao que conhecemos aqui no Brasil como “filme da sessão da tarde”, Como Ganhar Milhões Antes Que a Avó Morra faz proveito de uma observação do momento presente em relação ao capital, que se mistura a tradições familiares muito próprias de sua origem. A jovem que inspira o quase golpe de M ganha a vida com sua conta no OnlyFans e se aproximando de parentes idosos doentes para conquistar suas heranças. O neto em questão é um jovem que vive jogando online e transmitindo suas partidas, sem muita perspectiva de futuro, sempre de olho nessas oportunidades mais fáceis de ganhar dinheiro e se valendo do meio digital como intermediário. Ao redor deles, abismos de classes sociais. A família protagonista é composta pela mãe de M, uma trabalhadora, o tio cheio de dívidas e problemas, e o outro com melhores condições financeiras, com uma casa distante e totalmente diferente da do restante, muito mais moderna e americanizada, assim como o inglês que é presente na criação e educação de sua filha. Amah já vive em uma condição mais próxima a uma simplicidade interiorana, com árvores na porta da casa, amizade com os vizinhos e uma ocupação vendendo produtos em sua banquinha. Existe todo um panorama cultural, de idiomas, tradições, legados e crenças que parece se perder entre a avó e M, e que também não é dado didaticamente à pessoa espectadora, se encaixam naturalmente na narrativa mesmo que não possam ser totalmente compreendidos sem algum conhecimento prévio.