Handling the Undead

Handling the Undead

Longe da charmosa e falante protagonista que lhe garantiu grande destaque na temporada de premiações em 2022, Renate Reinsve divide a trama em Lidando Com os Mortos (Handling the Undead) com personagens tão silenciosos quanto ela. O clima quente de Oslo só pode ser sentido pelas roupas que Anna usa, sua pele suada e o ventilador de teto ligado, já que a grande maioria das cenas passa uma frieza densa e palpável. A atmosfera que Thea Hvistendahl propõe é a do luto em uma forma aumentada, dividida coletivamente, como se toda a cidade vivesse paralisada pela dor da perda. Tanto quanto explora em planos abertos os contornos urbanos, também os observa do lado de dentro, sempre posicionando a câmera longe de seus personagens e encontrando barreiras, paredes, janelas e portas, pela profundidade, até encontrar o ponto de interesse. A sensação é de que precisamos apertar os olhos para enxergar mais de perto aquelas pessoas, embora a frieza e a densidade da atmosfera taciturna, aliada ao distanciamento da encenação, deixem gritantes os sentimentos que mal conseguimos ver estampados em seus rostos. Os vivos se arrastam nas cenas, consumidos pelo luto, separados em três núcleos familiares que jamais se encontram ou se relacionam, a não ser pelo fato de todos serem afetados por um mesmo fenômeno. Quando os mortos voltam à vida, o filme os retrata mais próximos aos zumbis tradicionais do cinema, lentos, caminhando de forma morosa até seus destinos, porém suas ações vão explorar um lado psicológico, retornam ao mundo para se aproximarem daqueles que os perderam, a princípio sem as respostas violentas e famintas comuns a esses seres. Ainda que Oslo siga extremamente pesarosa, é como se os mortos-vivos estivessem lá para preencher o buraco que deixaram, alguns bastante recentes, a ponto de nem terem sido digeridos ainda, outros já com parentes totalmente traumatizados. O que faz isso mudar para uma lógica mais comum, de zumbis comedores de seres humanos, irracionais, é um desenvolvimento quase invisível, um longa que caminha como seus próprios personagens, lentamente, sem muita energia e sem grandes feitos.

Crítica completa.

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