MaXXXine

MaXXXine

Goste ou não, a trilogia X de Ti West finaliza com alguns conceitos preestabelecidos bem definidos, aproximando estes projetos mesmo que distintos em suas abordagens. 

A perseguição pela fama, a centralização na figura feminina, o horror, o slasher, o conservadorismo no papel de vilão e, principalmente, a variação de formatos que carregam consigo diferentes estéticas retrô. 

Cada filme tem a ânsia de se situar no seus contextos históricos e, ao mesmo tempo, fora deles, uma alusão aos tempos atuais que conversa com muitas tendências populares. O que sempre traz um novo desafio que instiga a curiosidade. Uma reformulação estilística muito bem-vinda.

Pearl (2022) parte do technicolor à la O Mágico de Oz (1939) para explorar um mundo fantasioso e distante através da psicanálise de sua protagonista. X (2022) adota a boa forma clássica do slasher operando nos limites do digital, rejeitando parcialmente uma pós-produção pesada e aproveitando a natureza realista, tal qual as películas. E, desta vez, temos MaXXXine (2024), que... bom, traz o quê exatamente?

Ok, um filme não é sua campanha publicitária, porque muita coisa que vemos naquele recorte ainda não está finalizado ou é alterado para vender uma ideia que apenas se aproxima da finalidade do projeto, sem entregar demais quando conveniente. 

Analisando, por sua vez, o deste, é notório a retratação que recorre a clássicos oitentistas, indo de encontro ao VHS e ao synthwave. Fica na intenção, pois o filme nada incorpora de modo inventivo, tudo parece processado. Há até flertes maneiristas sobre o mistério da identidade do serial killer que rende algumas sequências mais inspiradas, mas nunca alcançam muita efetividade (afinal, o filme nega o potencial da sua presença).

MaXXXine é o projeto de maior escala que vai parao mainstream como O Homem do Norte (2022) de Eggers, Não, Não Olhe! (2022) de Peele e Beau Tem Medo (2023) de Aster foram. Obras que chegam ao público vendendo a rubrica artística de seus autores como selo de um cinema cult a gosto popular, um senso ambicioso latente provocado pelo estúdio obviamente.

Eggers preserva suas origens e a audiência estranha, Peele traz uma bagunça temática e a audiência se confunde, e quanto ao Aster, não vou me ater, pois ainda não vi, mas ele também acabou participando dessa panelinha de altas expectativas e altas decepções com os fãs. Quanto a MaXXXine, o resultado é o esvaziamento dos seus princípios criativos, suprindo a necessidade de fácil digestão dessa audiência e sendo o novo ingressante deste grupo em particular.

Se os filmes anteriores debatiam o caminho caótico da fama, partindo da sanidade questionada frente às submissões dos métodos escolhidos, este perpetua por meio de uma provocação de Bette Davis que abre o longa: “Neste ramo, enquanto você não for reconhecida como um monstro, você não é uma estrela.” 

Mais do que em X, temos Maxine Minx à frente dos eventos e definitivamente no papel de protagonista, assim como a temática e o confronto dela indireto com o conservadorismo cristão predominante no cotidiano e cenário hollywoodiano dos anos 80.

Falar de fama é falar das fases perturbadoras para alcançar Hollywood, rumo ao estrelato. É falar sobre a morte literal ou metafórica, as vezes até simultânea, do sujeito antes do sucesso. E nisso o terror e a pornografia, considerados categorias B, têm algo em comum: em dado momento, um dos personagens comenta que, antes da fama, muitas famosas passaram por ambos e cita nomes reais.

A desumanização para a incorporação, o processo que os transforma nesse monstro. O ator ou atriz, especialmente atrizes, passam a não emprestar mais o corpo ao personagem por um curto período; elas encarnam e vende a si mesmo para atender às formas-pensamentos, compreendidas pelo conglomerado capitalista a partir do inconsciente coletivo, de modo a atender o gosto em voga do público para conseguir êxito.

É nos bastidores que isso acontece, antes de ir para frente das câmeras e, após a finalização, ser notado nas telas dos cinemas. Por esse lado, repara-se como o filme dentro do filme existente aqui, nunca nos deixa acompanhar as filmagens. 

Os inimigos de Maxine são justamente esses meios (os gêneros e o percurso descaracterizante) que ela necessita e utiliza para emplacar. Além dessa ironia, há a que surge da metalinguagem, que, neste caso, funciona para o mal sobre o filme principal, esclarecendo um processo semelhante ao que se entrega.

Quando o filme se apoia nas múltiplas referências aos gêneros que evoca superficialmente, confia-se em uma credibilidade autoral que nunca toma forma original. O momento que exemplifica perfeitamente esse ponto é quando o cenário icônico de Psicose (1960) aparece nas instalações cinematográficas fictícias do filme. 

A personagem de Debicki diz, em frente à casa dos Bates, para a personagem de Goth: “Os EUA eram pudicos para prever isso [um assassino vestido de velha]. Certas coisas nunca mudam. Que protestem o quanto quiserem. Quando se olharem no espelho, verão que sempre há um demônio refletido.

Entende-se um “assassino vestido de velha” como os filmes sadicos (este incluso) que utilizam a imagem dos clássicos de forma vazia (mais à frente, quando dentro, vemos a casa oca), e o “demônio refletido” como o mal das exigências do público sendo atendido. 

Portanto, pergunto: qual seria a diferença entre Deadpool & Wolverine (2024) e MaXXXine? Da A24 para a Marvel?

Assim West finaliza sua trilogia: comportado, observando os novos arredores que optou com tom de confronto, mas sem coragem para confrontar. Vazio, desmotivado, perdido onde a sua própria protagonista vira um canal desses sentimentos ao aparecer já esgotada, mesmo havendo um chamado místico por meio da atriz que desperta possibilidades porém nunca é escutado. 

O jogo seguro da referência pela referência na torcida para que o espectador se sustente com isso em vez de se degustar das probabilidades que levanta conscientemente sempre vai parecer mais fácil e barato de se fazer, infelizmente.

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