Viktor D. Saint’s review published on Letterboxd:
Homenageia quem exatamente? A Disney?
Abrir o filme tirando sarro da aquisição da Fox pela Disney esclarece bastante o que vem depois. É um produto sobre outros produtos em que cada ação, recoberta por um tom de superioridade, alavanca ainda mais o status quo do estúdio diante de seu processo monopolista vigente.
Por essa visão mercadológica sadista, que o próprio filme implica, torna-se inviável enxergá-lo como um tributo de respeito a uma era marcada por grandes baixas. Mas a quem eles querem enganar ao colocar nos créditos finais um compilado de filmagens dos sets de gravação e lembranças de outras obras?
É num grupo de heróis B, que ninguém lembra ou sequer existiu, que está o sustento de seus set pieces. Para aqueles que tiveram o mínimo de importância, basta uma citação ou imagem reduzida em algum momento oportuno.
Não há por que venerar uma companhia ridicularizada, mas deve-se preservar a falsa aparência de boa samaritana enquanto se segura o riso com uma mão afastada da boca ao zombar quando pode. Fazendo-nos sentir inclusos nessas zombarias, ao passo que ri de nós também.
Afinal, no final do dia, são isso: truques baratos para vender e agradar a quem necessita, sem qualquer valor artístico ou criativo por trás. A banalização de outros artistas e de si na tentativa contraditória de se reafirmar como modelo basilar que deu certo e continua dando. A ela tudo pertence e, caso ainda não pertença, um dia há de pertencer.
Uma ideia boba por origem: sério que ninguém pensou no quanto seria ardiloso fazer uma homenagem a um estúdio que ela mesma fechou, desconsiderando tudo o que eles construíram? É tipo o assassino ir para o enterro da vítima com proposta de fazer uma festa.
Para não dizer que não gostei de nada, a vantagem auto consciente que se tira desses eventos, ao partir do ponto de um universo em decadência para matá-lo (figurativa e literalmente) de fato, me parece proveitosa. Da simplicidade das subtramas que entendem a falta óbvia de substância dramática dos personagens-título, até as cenas mais gráficas, o humor corporal cartunesco de outras e de uma ou outra referência plastificada aos gibis.
O problema é que até essas poucas qualidades funcionam isolados e não conversa com o resto. Viram recursos fáceis para sustentar uma má estruturação narrativa que remedia o inevitável. O filme clama por certo nível emocional para sustentar muitas dessas ideias (a cena final é um ótimo exemplo).
É mais um projeto com objetivos financeiros do que artísticos (fala a novidade, Viktor!) da Marvel/Disney. Uma enorme justificativa de mais de duas horas para preservar escalações e universos que deram certo enquanto definha os que não tiveram a mesma sorte.