Juror #2

Juror #2

Confesso que não conheço tanto do cinema de Clint Eastwood, e isso se deve ao fato de eu não ter visto tantos filmes dirigidos por ele (assisti A Mula, Gran Torino e O Estranho sem Nome e Os Imperdoáveis). Mas, uma coisa que eu ouço críticos que eu acompanho dizerem é que o Clint costuma usar seus filmes como forma de desconstrução dos princípios americanos. 

Seus enredos são focados nesses arquétipos americanos (o american way of life e o preconceito são alguns exemplos desses arquétipos) e, no decorrer dos filmes, eles vão sendo substituídos por outra visão de mundo. É só pensarmos em Walt Kowalski, de Gran Torino. Um ex combatente da guerra que tem uma visão racista, xenofóbica e misógina sobre o mundo. Mas, na medida em que ele entra em contato com outras pessoas de sua comunidade - pessoas que se enquadram em seus preconceitos - sua visão sobre elas é mudada, o que culmina no final, com ele preferindo morrer para salvar Sue Lor. 

Entretanto, acho que ele não toma esse caminho em Juror #2. Aqui pode até ter alguma crítica à instituição americana, mas o foco não é esse. Clint parece mais interessado na figura do ser humano e em suas ambiguidades. 

Justin é uma boa pessoa, mas cometeu um crime terrível em seu passado. O réu do caso parece ser uma má pessoa, mas ele é na verdade, inocente do crime pelo qual está sendo julgado. 

E essa ambiguidade não fica só nas características dos personagens, elas são expostas através do tema e do modo como é filmado. Justin não quer que uma pessoa inocente vá para a cadeia e faz de tudo para que ela não seja presa, mas ao mesmo tempo ele foge de qualquer tipo de ação que mostre que ele é o verdadeiro culpado do crime. Os ambientes são iluminados e aparentemente alegres, mas tudo discutido é triste, sombrio, mórbido. 

Aqui, não é necessário atacar um tipo de pensamento ou um arquétipo ideológico, mas sim se debruçar sobre a bagunça moral que é o ser humano. Clint, em momento algum, toma algum partido na hora de refletir sobre esses temas. Ele não parece se ligar com isso. Tudo o que ele quer fazer é nos fazer refletir sobre a nossa sociedade e a moral dos indivíduos, não importa de que lado. 

Fico feliz que ele continue fazendo filmes. Apesar de não conhecer tanto, reconheço sua importância para o cinema como um todo, tanto antigamente como atualmente. Este homem é um gênio, e tenho certeza que deixará muitas marcas quando se for. Tomara que demore para isso acontecer.

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