guilherme has written 63 reviews for films during 2025.

  • In a Lonely Place

    In a Lonely Place

    ★★★★½

    cinema de ambiguidade. um fatídico assassinato que acaba desencadeando tanto a ascensão de um grande amor de conto de fadas – carícias, beijos e datilografia – quanto a desilusão derradeira dessa mesma relação, que desde o seu início in(certo), já estava fadada ao seu pungente próprio fim melancólico – já que ambos só se encontram graças ao sangue escorrido de uma inocente –; a persona do Dix que acaba desencadeando tanto esse arquétipo de galã, inocente, famoso, conquistador e charmoso tanto…

  • My Darling Clementine

    My Darling Clementine

    ★★★★★

    Wyatt Earp e seus irmãos, Morgan, Virgil e James, sintetizados como esses cowboys pertencentes ao imaginário coletivo do Velho Oeste – não é por acaso que todos levantem seus olhos com medo ao escutarem o nome de Wyatt –, conduzem inocentemente seu gado pelo deserto árido e cruel rumo à California, são prontamente impedidos ao longo do caminho pela fadiga e pela fome, então acabam decidindo partir para a cidadezinha de Tombstone depois de ouvirem sobre ela por um homem de…

  • Departures

    Departures

    ★★★★½

    depois da defasada companhia de orquestra ao qual Daigo Kobayashi era membro em Tóquio ir à sua falência, ele começa a se questionar se seu sonho de ser um violoncelista ainda carrega consigo a mesma paixão de quando era apenas um singelo sonho de infância, e a sua resposta acaba inevitavelmente vindo logo após essa grande dúvida (e dívida) – "Por algum motivo, senti-me aliviado no momento em que larguei o violino, como se de repente tivesse sido libertado” – desse momento em diante, ele…

  • Pusher II

    Pusher II

    ★★★★

    uma bad trip semelhante a semana entorpecida de Frank em Pusher, mas ao mesmo tempo também é algo completamente diferente. Tonny é tudo o que um criminoso deveria ser – como Frank –, mas estranhamente ele também não é. interessante como o NWF desconstrói inteiramente o gênero unicamente a partir da figura do Tonny (uma overdose de atuação do Mads Mikkelsen); ele é essa ambiguidade ambulante, esse personagem indiscutivelmente perdedor – aquela cena da disfunção erétil –, superficialmente desprezível, evidentemente…

  • Four Nights of a Dreamer

    Four Nights of a Dreamer

    ★★★★

    um sonhador melancólico, o mesmo homem que tanto parece se afogar, logo ele se perde em uma idealização que há pouco estava prestes a saltar da Pont-Neuf, uma sonhadora melancólica, a mesma mulher que tanto parece se afogar, logo ela se perde nessa busca por um amor idealizado que há muito tempo a abandonou, eles então se encontram por quatro noites nesse ambiente tão marcado pela passagem, pelo o que é temporário, a Pont-Neuf. ambos são amantes solitários, ambos são cotidianamente engolidos pelas…

  • Band of Outsiders

    Band of Outsiders

    ★★★★

    Band of Outsiders é a pura manifestação da rebeldia dessa geração francesa pós-guerra – a juventude influenciada pela globalização da propaganda americana –, mas principalmente, de um diretor mais rebelde ainda – classique = moderne, o clássico filme de gênero que com a irreverência juvenil do Godard se reinventa e vira cinema moderno, a dita Nouvelle Vagueou então "tudo que é novo é portanto, automaticamente, tradicional". Odile, Franz e Arthur são jovens; tomam coca-cola, jogam basquete, frequentam aulas de inglês, sonham com…

  • Pitfall

    Pitfall

    ★★★½

    trabalhar e morrer, morrer e trabalhar. as armadilhas (Pitfall) da rivalidade e da violência concebidas pelo mais novo sistema capitalista do Japão industrial pós-guerra para manter os seus trabalhadores perpetuamente em conflito (se afundando lentamente no pântano). a repressão sindical e a crueldade de um poder (não tão)oculto são inteiramente sintetizadas nessa relação de impasse existencial e predatório entre o homem vestido de branco (classe alta, patrão) e o mineiro desempregado (classe baixa, funcionário), relação essa que leva inevitavelmente apenas…

  • Wild at Heart

    Wild at Heart

    ★★★½

    acho que muito da magia do Lynch – para além daquilo tido como Lynchiano  – é em como ele conseguia usar daquilo essencialmente tangível, sentimental, carnal e humano como maneiras de potencializar mais ainda aquilo intangível, onírico, surrealista e pictórico – ”I discovered that if one looks a little closer at this beautiful world, there are always red ants underneath” –, seja pela própria paixão irracional e ardente dos protagonistas que reside nesse âmbito de uma fantasia idílica regada a perdição,…

  • Raining in the Mountain

    Raining in the Mountain

    ★★★★½

    é impressionante como o King Hu consegue conciliar de uma forma bastante homogênea e dinâmica todas as propriedades espaciais que revestem o monastério – seus diferentes níveis e camadas, seus compartimentos ocultos, seus corredores apertados, suas inúmeras escadarias, portas e todo esse seu ambiente natural esparso e vazio – com essa disputa diegética para saber quem será o sucessor do abade (também o guardião de um pergaminho inestimável que algumas pessoas desejam tomar posse ilegalmente), justamente porque ambos esses elementos…

  • Mr. Thank You

    Mr. Thank You

    ★★★★½

    sempre em constante movimento. é exatamente assim que um simples ônibus segue seu trajeto pelo espaço aberto, mas mais importante do que se movimentar por ele é se lembrar de olhar para os lados, para frente e sempre para trás. além desse olhar externo, o interno é importante também, da ponta frontal do veículo, onde o gentil "Mr. Thank You” está, ao último assento, onde uma mãe e uma filha se sentam ao lado do seu drama cultural. é novamente tudo…

  • Himiko

    Himiko

    ★★★★

    Masahiro Shinoda utiliza do cinema como o lúdico dispositivo contador de estórias que parcialmente também pode ser, fazendo com que essa sua fábula historicamente anacrônica sobre a mitologia xintoísta – com o mito da deusa do sol que fundou a sociedade japonesa – seja inteiramente contextualizada através de uma lógica mais teatral, menos culturalmente Jidaigeki e muito mais abstrata na sua abordagem textual, empregando diversos elementos essencialmente pertencentes aos teatros tradicionais japoneses que não só conectam diretamente a mise-en-scène do seu filme ao…

  • Shall We Dance?

    Shall We Dance?

    ★★★★

    é realmente difícil fugir do ritmo galopante do capitalismo, de toda essa monotonia angustiante que acompanha a cíclica rotina de um Sísifo contemporâneo – viver para acordar, trabalhar e dormir –, dessa solidão vinda do âmago que também preenche por inteiro a sua viagem soturna de volta para casa, dessa sensação desesperadora de que algo está faltando na sua vida, até chegar um certo dia onde você subitamente observa pela pequena janela do trem justo aquilo que te parecia tanto faltar, uma nova…