eu não queria comparar a versão do Herzog com essa do Eggers mas é algo quase impossível porque uma é basicamente apenas uma versão muito mais desinteressante da outra. Eggers faz um filme morto; sem paixão (literalmente), incolor, insensível e completamente reducionista, uma versão que, em contrapartida aos seus grandes antecessores, não tem mais interesse nenhum em trazer para luz as trevas internas que assolam os seus indivíduos – seja a melancolia do Nosferatu fadado a viver eternamente sem amor…

Tomoyo Harada dançando por aí; sonhando em city pop, ensaiando junto com a globalização – Dancing in the Night ao lado do ocidente –, calçando o misterioso sapato vermelho do passado, treinando para a vida – respostas e perfomance –, viajando à bordo de trens e navios inquietantes em direção as respostas de um futuro totalmente incerto enquanto vive junto do seu pai através dessa pequena jornada familiar – ele não é o pai dela e ela também não é a…

é impressionante como o King Hu consegue conciliar de uma forma bastante homogênea e dinâmica todas as propriedades espaciais que revestem o monastério – seus diferentes níveis e camadas, seus compartimentos ocultos, seus corredores apertados, suas inúmeras escadarias, portas e todo esse seu ambiente natural esparso e vazio – com essa disputa diegética para saber quem será o sucessor do abade (também o guardião de um pergaminho inestimável que algumas pessoas desejam tomar posse ilegalmente), justamente porque ambos esses elementos…

Japão pós-guerra, estresse pós-traumático. os inescapáveis horrores da guerra vistos não através de uma espetacularização do mesmo, mas sim de uma frontalidade extremamente dolorosa que acaba afetando a vida doméstica – guerra é aquilo que faz um professor (que mesmo mais faminto do que uma criança, ainda oferece seu prato de comida a ela) atacá-lo brutalmente; guerra é aquilo que faz uma mãe que perdeu o marido e o filho (que também dá abrigo e um pouco de amor a…

um filme que começa sendo esse terror sombrio e essencialmente atmosférico pautado principalmente pela relação apreensiva/opressiva do indivíduo com o espaço ao seu redor – coisa essa que é lentamente construída pelos cômodos da casa, especialmente quando o fantasma da Sayuri acaba se materializando no fundo ocasionalmente, algo bem similar aos J-Horror da virada do milênio consequentemente ao Kiyoshi Kurosawa –, sua narrativa se baseia primeiramente no clichê (aqui inclusive, de forma bastante comercial) da casa assombrada e então usa dessa assombração…

dos Westerns que assisti do Budd Boetticher até agora é impressionante como todos são articulados de uma maneira essencialmente similar – uma relação íntima e épica das micro relações dos indivíduos com todo o espaço geográfico (as montanhas rochosas e áridas do Western) e também humano (ecos do passado, presente e futuro) ao redor sendo potencializados pelo CinemaScope; o cowboy heróico e solitário de Randolph Scott em uma missão específica, algo que é tão objetivamente formal e frontal quanto a própria…

uma bad trip semelhante a semana entorpecida de Frank em Pusher, mas ao mesmo tempo também é algo completamente diferente. Tonny é tudo o que um criminoso deveria ser – como Frank –, mas estranhamente ele também não é. interessante como o NWF desconstrói inteiramente o gênero unicamente a partir da figura do Tonny (uma overdose de atuação do Mads Mikkelsen); ele é essa ambiguidade ambulante, esse personagem indiscutivelmente perdedor – aquela cena da disfunção erétil –, superficialmente desprezível, evidentemente…

um campeão peso leve sofrendo pelo melancólico peso pesado que carrega dentro de si. o sangue do novato estampado no espelho, apenas um reflexo do passado. um treinamento intensivo e inebriante. é sobre arte e pugilismo. o Boxe aqui não é necessariamente como uma resposta para o underdog e muito menos é só sobre alcançar uma idílica redenção através de muito trabalho árduo e dedicação – como foi em Rocky apenas um ano antes –, mas sim em como as vezes…

acho que muito da magia do Lynch – para além daquilo tido como Lynchiano  – é em como ele conseguia usar daquilo essencialmente tangível, sentimental, carnal e humano como maneiras de potencializar mais ainda aquilo intangível, onírico, surrealista e pictórico – ”I discovered that if one looks a little closer at this beautiful world, there are always red ants underneath” –, seja pela própria paixão irracional e ardente dos protagonistas que reside nesse âmbito de uma fantasia idílica regada a perdição,…

amar é realmente nadar contra a corrente, é aquele movimento ilógico, intenso e com um grande risco de afogamento, mas que também acaba fazendo com que você apenas continue nadando. amar é ir desajeitadamente de uma borda à outra da piscina enquanto tenta entender seus sentimentos em relação a um alguém por quem você é loucamente apaixonado, ou então enquanto tenta apenas impressioná-la na esperança de ser finalmente notado, mesmo que isso signifique que você vai constantemente falhar no processo. amar é…

trabalhar e morrer, morrer e trabalhar. as armadilhas (Pitfall) da rivalidade e da violência concebidas pelo mais novo sistema capitalista do Japão industrial pós-guerra para manter os seus trabalhadores perpetuamente em conflito (se afundando lentamente no pântano). a repressão sindical e a crueldade de um poder (não tão)oculto são inteiramente sintetizadas nessa relação de impasse existencial e predatório entre o homem vestido de branco (classe alta, patrão) e o mineiro desempregado (classe baixa, funcionário), relação essa que leva inevitavelmente apenas…

logo na cena de abertura são apresentados dois cavaleiros duelando, tudo o que se pode escutar são apenas seus grunhidos e os ruídos das suas espadas mortais e das suas armaduras pesadas, até que abruptamente um deles é degolado pelo outro e então todo seu sangue jorra indiferentemente pelo chão – o fantástico é constantemente reconfigurado por toda essa austeridade brutal presente na mise-en-scène –, sem corte, sem importância, sem heroísmo, sem romantismo e sem fé, tudo o que se…