Wild at Heart

Wild at Heart

acho que muito da magia do Lynch – para além daquilo tido como Lynchiano  – é em como ele conseguia usar daquilo essencialmente tangível, sentimental, carnal e humano como maneiras de potencializar mais ainda aquilo intangível, onírico, surrealista e pictórico – ”I discovered that if one looks a little closer at this beautiful world, there are always red ants underneath” –, seja pela própria paixão irracional e ardente dos protagonistas que reside nesse âmbito de uma fantasia idílica regada a perdição, rock e sexo como essa ideia de uma jornada deturpada vinda diretamente de "O Mágico de Oz" (hedonismo), seja pelo seu caminho tortuoso pela estrada americana exposta à uma violência totalmente normalizada pela TV e pelo rádio como essa ideia fantasiosa do que seriam as suas próprias estradas de tijolos amarelos e os arco-íris (nada de fato importa, a não ser os dois e a estrada), ou até mesmo no poder contido em uma simples jaqueta de pele de cobra que funciona como essa ideia de uma liberdade totalmente desenfreada. o elemento onírico dos extraterrestres com luvas e das bruxas malvados do leste até existem acidentadas na estrada por aí, mas é só a concretude do amor, que como sendo essa pulsão natural de vida, acaba se tornando aquilo que realmente norteia e salva, porque essa é a única força realmente capaz de salvá-los da selvageria de uma cidade onde contos de fada queimam tão rápido quanto cigarros. por isso, é necessário sempre ter um coração selvagem, porque só assim conseguimos lutar por nossos sonhos, e o maior dos sonhos só se alcança quando nunca se foge do amor. Lynch também tinha um coração selvagem.

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