iconografia profana (Jesus wept), atmosfera de constante perversidade no ar e um horror lovecraftiano diabolicamente grotesco e sangrento, que dialoga, ou melhor, grita de dor, sobre os prazeres e o amargor da carne que se chocam incessantemente contra os horrores e as curiosidades da alma: a dor e o prazer caminhando lado a lado, onde um só pode ser obtido unicamente através do outro (matar para reviver) — o amor do seio familiar e o amor romântico, coisas que se antes carregavam uma certa pureza consigo (pai, filha, tio, esposa, madrasta), agora são completamente trucidados, (assim como a pele que é furiosamente rasgada por ganchos) de todas as formas possíveis dentro dessa pequena casa e caixa, inescapáveis e repletas de loucura sadomasoquista. uma jornada sombria que continua até que a moralidade se torne apenas um conceito distante, e o amor, que se para Jesus era salvação, aqui signifique apenas a completa destruição, dos outros, mas principalmente, a sua própria. 

os anos 80 realmente foram grande um marco para o gênero do terror e aqui não poderia ser diferente, o filme todo funciona muito bem, principalmente pela caracterização dos cenobitas (origem de um dos maiores ícones do gênero) e a parte visual em geral, além de também acertar muito quando faz essa "releitura" do conceito de casa assombrada, misturando a frontalidade dos slashers e dos efeitos práticos (incríveis, por sinal) com essa atmosfera densa e misteriosa que quase sempre paira no ar, e só aumenta ainda mais a curiosidade sobre a caixa e o outro "mundo". as vezes o filme dá uns deslizes, narrativamente falando (tipo a cena do petshop), mas nada que realmente atrapalhe a experiência geral. 3/31