• Far from Manhattan

    Far from Manhattan

    Longe de Manhattan
    por Adriano Aprà

    Cristina Piccino telefonou-me: Bernard Eisenschitz ligara para ela de Paris para lhe dizer que Jean-Claude Biette morrera (na última terça-feira), repentinamente. Espanto, dor, angústia. Ele estava doente? Telefono para meus amigos parisienses, Bernard e aqueles que compartilharam com ele a aventura da Trafic, a austera e apaixonada revista trimestral de cinema fundada com Serge Daney (nº 1, inverno de 1991). Raymond Bellour encontra-se desanimado com o choque, Sylvie Pierre está em lágrimas. Não, ele…

  • Michelangelo Eye to Eye

    Michelangelo Eye to Eye

    Antonioni Overground
    por Adriano Aprà

    Il silenzio a colori é o título da última obra de Michelangelo Antonioni: uma exposição de pinturas, realizadas a partir de 2002, vista no Templo de Adriano, em Roma, de 28 de setembro a 22 de outubro de 2006. Centenas de imagens, em sua maioria abstratas, que impressionam pela profusão das cores e das formas: o completo oposto, alguém diria, do rigor monotemático das precedentes Montanhas encantadas, muito mais facilmente comparáveis a seus filmes. Desta…

  • 100 Horsemen

    100 Horsemen

    Roma
    por Adriano Aprà

    1965 será o ano de Rossellini. Durante seus primeiros meses, teremos na televisão as cinco partes de uma hora de seu último filme, L'Età del Ferro. O filme tem uma forma não apenas nova (como usualmente) para ele, mas também para o cinema em geral. Não se trata apenas de um documentário didático sobre a evolução do ferro ao longo dos séculos, porém de um filme que consiste em: (1) seções em que Rossellini explica pessoalmente,…

  • Tramas

    Tramas

    Tramas Digitais
    por Adriano Aprà

    “Estamos fartos de ficção”, disse eu há algum tempo, defendendo a causa do documentário. Hoje, eu acrescentaria que a moda do documentário, que tem se afirmado de maneira rasteira, mais em palavras que em atos, pelo menos em nosso país, parece estar se fixando em uma ideia de realidade que corre o risco de levá-la de volta às glórias do cinema direto. Excedendo a ideia de documentação, a não-ficção, em vez disso, embarcou com proveito…

  • Weekend

    Weekend

    Godard Crítico
    por Adriano Aprà

    A intenção com essa coleção era apresentar aos leitores (e espectadores) italianos apenas uma seleção de artigos e entrevistas de Godard. Com que critérios (e, digamos agora, com que penosas renúncias)? Excluídos, em princípio, estavam os textos que já eram de importância secundária na edição original, pois apareciam em colunas colaterais ou em publicações de natureza mais popular. Um critério externo, portanto, que acreditamos refletir o compromisso com o qual Godard abordou a redação dos…

  • Don Giovanni

    Don Giovanni

    Flores de Gelo: Don Giovanni
    por Adriano Aprà

    Eu diria que o barroco é aquele estilo que deliberadamente esgota (ou quer esgotar) suas possibilidades e beira a própria caricatura” (Borges)

    Don Giovanni começa com uma decepção e uma recusa: decepção do espectador (de um certo espectador) daqueles dois filmes anteriores de Carmelo Bene, frustrado diante do preto e branco que cobre, degradando, as formas luxuosas; recusa desse mesmo espectador, incapaz de ver não além, senão dentro das próprias aparências de…

  • Wavelength

    Wavelength

    Flash-Back e Além: O Cinema Americano Independente dos Anos Sessenta
    Por Adriano Aprà

    É possível nos sentirmos um pouco velhos ao relembrar a aventura de um cinema que era "novo" e que testemunhamos, mas que agora data de quase trinta anos. Ainda mais se aquele novo também estiver com rugas, desgastado pelo que veio depois. No entanto, a sensação imediata ao rever alguns desses filmes e reler o que foi escrito sobre eles é que ainda possuem muito a ensinar…

  • Rosa de Areia

    Rosa de Areia

    Pequenas Lembranças Portuguesas
    por Adriano Aprà

    Em 1972, vi na Quinzena dos Realizadores em Cannes O Passado e o Presente de Manoel de Oliveira. Este realizador, que então era semi-desconhecido fora de Portugal, aguçou a minha curiosidade porque eu me lembrava dos entusiásticos (e pioneiros) textos de Jean-Claude Biette no "Petit Journal" dos Cahiers du Cinéma por ocasião de uma homenagem em Locarno (nº 173, Dezembro de 1965 e n° 175, Fevereiro de 1966). Eu fazia então parte do comité…

  • The Spider's Stratagem

    The Spider's Stratagem

    Panorâmica de Bertolucci
    por Adriano Aprà

    Nouvelle vague, mon amour

    Começamos sob um teto, com dois curtas-metragens, hoje perdidos, que tive a oportunidade de ver em 1957, na casa de Cesare Zavattini, quando conheci Bernardo Bertolucci. O primeiro, La teleferica (1956), filmado nos bosques de castanheiras de Parma, me pareceu manjado, com um excesso de planos em cima e embaixo, exibições de habilidade técnica; o segundo, La morte del maiale (1956), filmado no pátio de uma casa de fazenda perto…

  • 7 Women

    7 Women

    Seven Women
    por Adriano Aprà

    Um filme estranho para John Ford seria Seven Women (Sete Mulheres, 1965), cujo título já reflete a atenção dada aos personagens e não ao ambiente, às relações humanas e não às mensagens abstratas. É um filme estranho pela ausência do cenário usual de faroeste ou, de modo mais geral, de aventura; pela falta do rico mundo familiar e de figuras menores que tecem todos os filmes de Ford com anotações coloridas; pelo cenário histórico, livre…

  • Viva l'Italia!

    Viva l'Italia!

    Rossellini Documentarista?
    por Adriano Aprà

    Pode-se dizer que Rossellini nunca foi, ou talvez apenas ocasionalmente, um documentarista. Pode-se dizer com a mesma legitimidade que ele sempre foi. Precisamos entender os termos.

    Os primeiros curtas-metragens são filmes de animais, mas não podem ser chamados de “filmes animais”. São fábulas - à la Esopo ou à la La Fontaine - em que os eventos que ocorrem debaixo d'água (Fantasia sottomarina, 1940), à beira d'água (Il ruscello di Ripasottile, 1941) ou em terra…

  • Attesa di un'Estate

    Attesa di un'Estate

    Fora da Norma: A Via Neoexperimental do Cinema Italiano
    por Adriano Aprà

    Contracorrente.

    Houve Roberto Rossellini. Houve (overground) Michelangelo Antonioni. Houve Federico Fellini (ele também overground, mas nem sempre nos meus gostos). A partir dos anos 1960 houve Pier Paolo Pasolini (também documentarista), Marco Bellocchio (também documentarista), Ermanno Olmi (também documentarista), Bernardo Bertolucci, Marco Ferreri, Vittorio De Seta (também documentarista). E houve, muito marginalizado, mas hoje reavaliado, um underground italiano (Massimo Bacigalupo, Piero Bargellini, Gianfranco Brebbia, Paolo Brunatto, Tonino De…