Pavel Durov em evento na Indonésia em 2017 — Foto: Tatan Syuflana/AP
O aplicativo de troca de mensagens Telegram foi bloqueado no Brasil nesta sexta-feira (18) por determinação do ministro Alexandre de Moraes do Supremo Tribunal Federal (STF). Ele atendeu a um pedido da Polícia Federal, que investiga que o Telegram é usado para propagar discursos de ódio, tráfico de drogas, comércio de dinheiro de falso, propaganda nazista e vendas de certificados de vacinação.
No último domingo (13), uma reportagem do Fantástico mostrou que o Telegram é usado para propagar discursos de ódio, tráfico de drogas, comércio de dinheiro de falso, propaganda nazista e vendas de certificados de vacinação (assista no vídeo abaixo).
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O Telegram foi criado em 2013 pelos irmãos russos Pavel e Nikolai Durov. A sede da empresa fica em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, embora seus criadores sejam da Rússia.
O app tem servidores em diferentes partes do mundo e promete encriptar as mensagens -- ou seja, transformar a informação usando um algoritmo para impossibilitar a sua leitura por qualquer pessoa, exceto quem está recebendo a mensagem pelo aplicativo --, chamadas de vídeo e dados dos usuários, mantendo sua privacidade na troca de mensagens, fotos e arquivos.
O Telegram ainda permite ter conversas secretas, que podem ser apagadas automaticamente após um determinado tempo.
Em janeiro de 2021, a companhia anunciou que alcançou 500 milhões de usuários ativos no Telegram mundialmente.
Página de Pavel Durov, fundador do VKontakte, na rede social — Foto: Divulgação/VKontakte
O app começou a ficar popular, principalmente no Brasil, em 2014, depois de o Facebook anunciar a aquisição do WhatsApp por US$ 16 bilhões.
Muitos usuários que não queriam ter seus dados compartilhados com a empresa, que hoje se chama Meta, procuraram por alternativas, e o Telegram foi a principal delas. Depois, em 2015, ele chegou a ganhar 1 milhão de novos usuários brasileiros quando a Justiça suspendeu o WhatsApp do país.
Antes do Telegram, em 2006, os irmãos criaram a rede social "VKontakte" ou "VK", a maior da Rússia e um dos sites mais acessados no mundo, sendo chamada de "Facebook russo". O endereço chegou a ser usado na Ucrânia, mas foi banido pelo parlamento do país em 2017.
Pavel Durov é chamado de "Mark Zuckerberg" nascido na Rússia. Ele tem uma fortuna avaliada em US$ 3,4 bilhões.
Nikolai, o irmão mais velho, é matemático e programador, e foi responsável por desenvolver a tecnologia usada no app. Ele é discreto e há poucas informações sobre sua vida pessoal. Um dos recursos criados por ele para o Telegram é o disparo de mensagens em massa com criptografia.
Em entrevistas, Pavel disse que a ideia do Telegram surgiu em 2011, quando as forças especiais russas tentaram invadir sua casa. Ele percebeu que não havia uma maneira segura de se comunicar com o irmão e, por isso, decidiu criar o aplicativo.
Aplicativo Telegram — Foto: Carlos Henrique Dias/g1
Entenda o caso
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A decisão de bloquear o Telegram atende a um pedido da Polícia Federal e foi motivada pelo descumprimento de ordens judiciais pela companhia.
Recentemente, atendendo a determinação do Supremo, o Telegram bloqueou três perfis apontados como disseminadores de informações falsas, entre eles do blogueiro Allan dos Santos, um dos aliados mais próximos da família Bolsonaro.
Santos é investigado no Supremo em dois inquéritos: um que apura divulgação de "fake news" e ataques a integrantes da Corte; e outro que identificou a atuação de uma milícia digital. No ano passado, Moraes determinou a prisão do blogueiro, que está foragido.
Apesar do bloqueio dos perfis, o Telegram descumpriu outros pontos do decisão, entre os quais o de entregar à Justiça informações cadastrais e bloquear o repasse de recursos. Foi isso que levou à determinação desta sexta para suspender o aplicativo no país.
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No pedido encaminhado ao Supremo, a Polícia Federal diz que o aplicativo "é notoriamente conhecido por sua postura de não cooperar com autoridades judiciais e policiais de diversos países."
Ainda de acordo com a PF, o Telegram usa a "atitude não colaborativa" com autoridades "como uma vantagem em relação a outros aplicativos de comunicação, o que o torna um terreno livre para proliferação de diversos conteúdos, inclusive com repercussão na área criminal”.