Nascido em 1991 para ser o mascote oficial da produtora Sega, o ouriço azul Sonic foi criado com o intuito de divulgar o poder do processador do console Mega Drive. Com mais poder que o hardware da concorrente Nintendo, os gráficos "rodavam" mais rápido, fazendo com que os desenvolvedores tivessem a ideia de construir um personagem rápido, que andava em alta velocidade para completar as fases. Mas a falta de cuidado com a história do personagem a exploração pouco inteligente do universo de Sonic fez com que ele vivesse à sombra de Super Mario.
Criado para competir
Após tentar criar personagens para estrelar o game e rivalizar com o mascote da Nintendo, foi o ouriço azul da ilustração de Naoto Ohshima que foi usada no game, que teve o motor gráfico desenvolvido por Yuji Naka, design de Hirokazu Yasuhara e as músicas, clássicas entre os gamers, por Masato Nakamura. Sonic, inicialmente chamado de Mr. Neddlemouse, teve seu primeiro game para o Mega Drive lançado em 1991. Versões para o Master System, console de 8-bit da Sega, e para o portátil Game Gear vieram logo depois.
"Sonic foi um lançamento apropriado para a época, primeiro por ter conseguido uma identidade com o público juvenil. O ar descolado do personagem conseguiu conquistar jogadores na época que a geração de jogava na década de 80 deixava de ser criança", explica Kao Cyber Tokio, professor de design de games. "Em paralelo, ela era ágil, ousado e rápido, usava o grande poder de processamento do Mega Drive. Esse conjunto acabou tornando Sonic em um grande ícone".
"Em meados de 1993, Sonic chegou a ser mais famoso e reconhecido pelas crianças do que Mario e Mickey", conta Steven Poole, autor do livro “Trigger happy” e colunista da revista especializada em games Edge. Produtos diversos como bonecos, histórias em quadrinhos e desenho animado ajudaram a popularizar o Sonic e seus amigos como Tails, a raposa de duas caudas, Knuckles, Amy, sua namorada, entre outros.
fase Green Hill Zone, de 'Sonic the Hedgehog'
(Foto: Divulgação)
O Sonic Team, time de produção responsável pela franquia, perdeu alguns de seus integrantes, fazendo com que os futuros jogos de Sonic perdessem sua identidade na criação. Assim, ao contrário de Super Mario, que teve seu mundo muito bem explorado pela Nintendo e por seu criador, Shigeru Miyamoto, a Sega não soube aproveitar sua maior criação.
"Ambiente do Mario é muito rico em termos de vilões e possibilidades de ação. Mas "Sonic" foi centrado no personagem e nos seus parceiros, mas o ambiente, o seu mundo nunca foi devidamente explorado", explica Cyber. "Um dos exemplos é a conversão de animais em robôs pelo vilão da franquia, Dr. Eggman (ou Robotnik), isso nunca foi devidamente explicado nos games. Faltou enriquecer este ambiente".
Para o diretor-criativo do Alopra Estúdios, empresa de ilustração e animação para agências de publicidade, Elton Bandeira, Sonic como marca é até superior a Mario. "Mario cai na formula básica do bonequinho gordinho e fofinho, O Sonic, por ser um ouriço, com ares de porco-espinho, é repulsivo. Transformar isso em algo simpático e carismático é difícil". Ele afirma que faltou a preocupação da Sega de desenvolver a marca ao longo dos anos.
Série de erros
Após Mario ter entrado no mundo dos jogos em 3D, com "Super Mario 64", de 1996, a Sega precisava que Sonic seguisse a tendência da época. Após cancelar o primeiro game em 3D do herói para o Sega Saturn, a empresa lançou em 1999 nos Estados Unidos "Sonic Adventure". Embora muitos fãs considerem um bom game, o título não agradou a crítica da mesma forma que o jogo do rival.
"À medida que a Sega começou a fazer jogos do Sonic em 3D, eles perderam a mão", diz Cyber, "Mario conseguiu aproveitar bem a mecânica, mas Sonic não foi tão feliz". O professor de design de game conta como exemplo o game "Super Mario Bros. 2". "O jogo é péssimo porque ele é apenas uma conversão do primeiro título. Após o fracasso, Miyamoto e o time da Nintendo soube dar a volta por cima com 'Super Mario Bros. 3'. Mesmo com muitas tentativas, a Sega não conseguiu levar a série para um bom patamar".
Nessa mesma época, a Sega abandonou o visual do herói mais baixinho e gordinho e o transformou em algo mais atual e adolescente: magro, alto e com olhos verdes.
convenceu com um Sonic que virava
lobisomem (Foto: Divulgação)
Para Bandeira, a Sega ainda tem a chance de resgatar a marca. "Tentar trazer o Sonic para algo mais próximo do nosso mundo, interagir por aqui e voltar, seria uma alternativa. Embora os últimos títulos do herói tenham até vendido bem, a empresa [a Sega] perde credibilidade pois os gamers compram o conceito e não o jogo em si. Quando um novo título é anunciado, os jogadores ficam com o pé atrás".
Um dos jogos mais criticados de Sonic é "Sonic Unleashed", de 2008. No título com ação em 3D, o personagem alterna sua versão "normal" com uma de "lobisomem", chamada de "Sonic the Werehog". O professor de design de games considera esta transformação, que altera até a mecânica do game, uma piada sem graça.
'Mario Kart' (Foto: Divulgação)
Sonic, assim como Mario, teve jogos de corrida como "Sonic All-Stars Racing", bastante similar ao famoso "Mario Kart" e de tênis, com "Sega Superstars Tennis", parecido com "Mario Tennis". Após anos de rivalidade, os dois rivais estrelaram o mesmo game em "Mario & Sonic at the Olympic Games", de 2007, e "Mario & Sonic at the Olympic Winter Games", de 2009.
"Desde sua criação, Sonic foi um ícone que foi mais feliz pelo hardware que ele representava do que necessariamente com sua estrutura narrativa. Shigeru Miyamoto, por vir das artes, soube criar um mundo rico para Mario, que em todos os jogos possui mesma estrutura. 'Sonic Unleashed' é uma bobagem, uma tentativa de inovação que estragou o game. 'Sonic 4' foi uma perda de oportunidade. A impressão que tenho é que falta à Sega uma estrutura de design melhor, pois ela está esfacelada, sem um ícone como Hideo Kojima [de "Metal Gear Solid"] da Konami ou um próprio Miyamoto".
Nova 'última' chance
Para comemorar os 20 anos de Sonic, a Sega trabalha em um game que promete agradar tanto quem era fã do personagem na década de 1990 quanto quem gosta dos títulos atuais.
"Sonic Generations" une no mesmo game as duas versões do azulão, a antiga, mais gordinha, e a nova, mais magra e com olhos esverdeados. Ao escolher cada estilo do herói, a mecânica de jogo também será diferente: o Sonic "antigo" traz um esquema de fase em 2D, no estilo do Mega Drive, equanto o "novo" traz fases em 3D, com a visão em terceira pessoa.
Outro foco da Sega está em resgatar cenários clássicos e mais conhecidos pelos fãs, como a Green Hill Zone, de "Sonic the Hedgehog". Os estágios do modo clássico, embora seja possível terminá-los em poucos minutos, apresentam segredos e rotas alternativas, do mesmo modo que o game original.
Usando o Sonic atual, o game apresenta uma jogabilidade similar aos títulos da série "Sonic Adventure", com efeitos de câmera e alta velocidade, o que exige reflexos do jogador.
Além de celebrar duas décadas do ouriço azul, "Sonic Generations" pode ser a última vez que os fãs verão o personagem em sua forma clássica. O produtor do game, Takashi Izuka, diz que o herói voltou apenas para o seu aniversário e que não irá aparecer mais jogos. Mas se depender da Sega, o novo Sonic continuará estrelando novos games.