Pacientes de uma clínica clandestina para dependentes químicos descoberta pela Polícia Militar de Araraquara (SP) nesta quinta-feira (20) revelaram casos de maus-tratos no local. “Isso não é recuperação. Agressão não é recuperação", revelou um deles, que não quis se identificar. Aberto há seis meses, o local não tinha alvará de funcionamento e foi interditado pela Vigilância Sanitária. O dono do local negou as acusações.
Com marcas pelo corpo, o rapaz contou que apanhou dos funcionários. “Eu queria me comunicar com meus pais para falar que estavam acontecendo coisas erradas ali dentro. Fui impedido, então comecei a gritas. Fui pego pelo pescoço jogado no sofá e mais dois da equipe me seguraram, aí me machucaram”, disse.
clandestina em Araraquara (Foto: Paulo Chiari/EPTV)
Denúncia
A polícia foi chamada pelos vizinhos que estranhavam a movimentação na clínica, localizada na Chácara Flora. Quando chegaram, os PMs encontraram uma mala cheia de remédios, além de faixas e um pedaço de pau. A suspeita é que os materiais eram usados para amarrar e agredir os internos.
“Entramos e verificamos essa situação, de pessoas que estavam dizendo ser maltratadas, agredidas, que não queriam ficar lá, pessoas que estavam sendo medicadas sem ter um médico", relatou o capitão da PM Alan Gouvêa.
Desespero
Pelo menos 30 homens estavam internados porque queriam tratamento. Segundo eles, o tempo que passaram no local foi de desespero. "Vi senhor ser dopado, ontem mesmo aconteceu uma agressão, pegar uma pessoa pelo pescoço", revelou um paciente de Monte Alto que estava internado há pouco mais de um mês.
Ele também disse que não tinha acompanhamento médico. "Psicólogo e psiquiatra não tinha. Minha família paga para eu ficar lá, como a maioria das famílias. Então eu acho que poderia condições melhores", relatou.
houve agressões no local (Foto: Paulo Chiari/EPTV)
Acusações
O dono da clínica, Daniel Boschi Ribeiro, foi levado para a delegacia e negou as acusações. Ele alegou que tem as receitas de todos os medicamentos encontrados, afirmou que o local não estava superlotado e que não houve agressão.
Em relação ao alvará, ele disse que foi pedido. "Foi uma demora por causa de protocolos. A solução foi arrumar outra chácara e regulamentar ela mais rápido porque causa dessa tinha problemas de planta, essas coisas. Mesmo assim não deu tempo de fazer isso. Mas a gente tem tudo documentado”, disse.
Segundo a Vigilância Sanitária, ele não poderia abrir o estabelecimento sem documentação. A Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social informou que os familiares dos pacientes têm até 10h30 desta sexta-feira (21) para buscá-los.