A Universidade de São Paulo (USP) foi a instituição brasileira que mais recebeu bolsas do programa Ciência sem Fronteiras (CsF). Segundo representantes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), foram 6,5 mil auxílios desde o início do programa. O balanço foi apresentado durante a 67ª reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em São Carlos (SP).
Na mesa-redonda, realizada na tarde desta quinta-feira (16), Geraldo Nunes Sobrinho (CNPq) e Adalberto Luís Val (Capes) comentaram problemas enfrentados na primeira fase do programa e apresentaram dados. Eles afirmaram que, mesmo com os cortes no orçamento, todas as bolsas previstas serão honradas e contaram o que deve mudar na segunda fase, anunciada com 100 mil bolsas. Veja aqui as alterações em discussão.
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“Na primeira fase, as agências sofreram para implantar o programa, não tínhamos experiência de lidar com bolsista de graduação no exterior, aprendemos a lidar com as mães dos bolsistas, são verdadeiras 'leoas'”, exemplificou Nunes, diretor adjunto da Diretoria de Cooperação Institucional.
“Esse programa foi feito na marretada”, afirmou, referindo-se à meta de 101 mil bolsas, incluindo 26 mil financiadas pela iniciativa privada, e à velocidade requerida pelo governo federal.
Nunes explicou que, com o início do CsF em 2011, as agências tiveram de aprender a trabalhar juntas, refazer estruturas, alinhar questões normativas e estabelecer parcerias internacionais “a toque de caixa”.
“Hoje se critica muito, mas naquele momento a gente não tinha espaço de tempo para trabalhar. As agências tiveram que se lançar no mundo em busca de parcerias e tínhamos uma determinação de que isso fosse feito com qualidade”, afirmou Nunes.
Ele mencionou que, em pouco tempo, as agências tiveram de avaliar a qualidade daqueles que iriam ser contemplados e das instituições que iriam recebê-los, aprender a lidar com decisões judiciais questionando a concessão das bolsas e com a prestação de contas às empresas parceiras, e ressaltou que não havia uma política de incentivo ao aprendizado de idiomas. “Notem a dificuldade”, disse. “Foi imposto e de certa forma foi conduzido de forma muito atropelada”.
Ainda assim, elogiou a iniciativa. “A presidente foi visionária nesse programa”, afirmou.
“Deve haver planejamento, mas isso não é o mais importante, o mais importante é ter consciência e vontade”, opinou Nunes, contando que o programa ajudou a aumentar o número de brasileiros capazes de se comunicar em mandarim.
Também resultou na ampliação do número de artigos em conjunto com pesquisadores estrangeiros, na vinda de cientistas de alto nível para o Brasil e no aumento do interesse pelo estudo de línguas. “Após o CsF, houve um aumento de 21% na busca por cursos de idiomas no Brasil”, afirmaram os representantes, que veem no programa um instrumento da política externa. “Ele deu uma visibilidade ao ensino superior, à ciência e tecnologia, e à inovação que não tínhamos”.
Números
De acordo com os dados apresentados, foram concedidas 3.621 bolsas em 2011, 16.420 em 2012, 39.196 em 2013 e 42.209 em 2014 para estudantes, professores e pesquisadores de mais de 1,2 mil instituições de ensino.
A princípio, as metas previam 64 mil bolsas para a graduação sanduíche (um ano no exterior), 15 mil para doutorado sanduíche, 4,5 mil para doutorado pleno, 6.440 para pós-doutorado, 7.060 para o treinamento de especialistas no exterior, 2 mil para jovens pesquisadores (expatriados e estrangeiros) e outras 2 mil para cientistas visitantes (expatriados e estrangeiros)
avaliação do programa (Foto: Stefhanie Piovezan/G1)
Mas o que se concretizou foi diferente. Foram 78.980 (78%) para graduação, 9.288 (9%) para doutorado, 6.243 (6%) para pós-doutorado, 3.365 (3%) para doutorado pleno, 2.025 (2%) para professores visitantes, 946 (1%) para jovens talentos e 599 (1%) para o mestrado profissional.
“Não tinha como meta 64 mil? E teve 78 mil? Essa diferença basicamente ocorreu pela ausência de processos ou de demanda, até por conta de pareceres equivocados, e a gente tinha que cumprir o programa. Investimos no que tinha demanda qualificada”, disse Val.
Segundo o levantamento apresentado pela Capes e pelo CNPq, 45,1 mil bolsas foram concedidas para engenharia e áreas técnicas; 18,3 mil foram oferecidas para biologia, ciências biomédicas e da saúde; 8,4 mil foram para indústria criativa e 8,3 mil ficaram com pessoas relacionadas às ciências exatas e da terra. Em seguida, vêm computação e tecnologias da informação (6,2 mil), produção agrícola sustentável (3,5 mil), biotecnologia (2,4 mil), fármacos (2,1 mil), biodiversidade e bioprospecção (1,5 mil) e energias renováveis (1,1 mil). Somadas, as outras áreas do programa ficaram com 4,4 mil bolsas.
programa (Foto: Marcos Santos/USP Imagens)
Estados Unidos (32,7 mil), Reino Unido (11,4 mil), Canadá (8 mil), França (7,7 mil), Austrália (7,5 mil), Alemanha (6,9 mil), Espanha (5,3 mil), Itália (4,1 mil), Irlanda (3,5 mil) e Hungria (2,6 mil) foram os dez destinos que mais receberam brasileiros e a USP foi a instituição mais contemplada com auxílios: foram 6,5 mil.
Na sequência aparecem UFMG (4,9 mil), UFRJ (3,6 mil), UnB (3,2 mil), UFSC (3,2 mil), Unicamp (2,8 mil), UFRGS (2,7 mil), UFPE (2,5 mil), Unesp (2,4 mil) e UTFPR (2,3 mil). Mas, considerando o número de estudantes contemplados em relação ao total de matriculados, o ITA fica com o primeiro lugar: 35,08% dos iteanos receberam bolsas do CsF.