Por Eduardo Velozo Fuccia, G1 Santos


Pedro Melo Junior, Fabíola Freire e Tiago Siqueira serão processados por estelionato — Foto: Divulgação

O Ministério Público (MP) denunciou um casal residente em Santos e mais um homem morador em São Paulo sob a acusação de lesarem um artista plástico e uma paisagista em R$ 1,4 milhão. As informações foram obtidas pelo G1 nesta quinta-feira (2).

As vítimas entregaram a quantia em três ocasiões, entre julho e outubro de 2017, na Capital. Segundo apurado pelo G1, eles Imaginavam que faziam uma segura e rentável operação de investimento e remessa de valores ao exterior. Os aportes foram de R$ 800 mil, R$ 400 mil e R$ 200 mil.

Para angariar a confiança das vítimas, o casal denunciado as levou por duas vezes para a Áustria. Um dos suspeitos alegou que inauguraria em Viena uma galeria de artes e nela o artista plástico poderia expor as suas obras. Porém, isso nunca aconteceu.

Segundo a promotora Daniela Moysés da Silveira Favaro, Tiago Carvalho Siqueira, Fabíola de Almeida Freire e Pedro Rodrigues de Melo Junior devem ser processados por estelionato e, ao final da ação, condenados.

A acusação formal do MP narra que os três denunciados são sócios da empresa TF2P e, “previamente ajustados e com unidade de desígnios (vontades)”, induziram as vítimas em erro, mediante fraude, para a obtenção de vantagem ilícita.

“Nossos planos foram destruídos. Perdemos oportunidades. Eles lesaram uma família em R$ 1,4 milhão há três anos”, desabafa a paisagista Viviane Werdine Bogari. Ela é mulher do artista plástico Sami Hassan Akl.

Vítima do golpe é o artista plástico Sami Hassan Akl — Foto: Arquivo Pessoal

Morar na Europa

Viviane e Sami Akl conheceram os acusados por intermédio de um advogado, que soube da intenção das vítimas, naquela época, de morar na Europa. Além de apresentar o casal aos denunciados, este advogado participou de conversas sobre o investimento.

Segundo a paisagista, o advogado afirmou que Portugal, país onde as vítimas pretendiam se radicar, tem “economia muito volátil”. Em seguida, sugeriu aplicar recursos na Áustria, por também integrar a União Europeia e ser mais seguro para investir.

Outra justificativa do advogado foi a de que os donos da empresa de investimentos teriam um escritório em Viena e poderiam prestar toda a assistência necessária. A sucessão de diálogos fez Sami Akl e Viviane acreditarem na idoneidade da operação financeira.

Ele alegou que inauguraria em Viena uma galeria de artes e nela o artista plástico poderia expor as suas obras — Foto: Reprodução

Em certa ocasião, o casal Fabíola e Tiago, que mora em Santos, foi à residência das vítimas, em São Paulo. O objetivo era tratar dos investimentos, mas a denunciada demonstrou interesse pelos quadros expostos no imóvel, perguntando quem os pintou.

Viviane respondeu que o marido era o autor das obras. Fabíola contou que inauguraria uma galeria de artes em Viena e queria que Sami Akl expusesse os seus quadros lá. A conversa evoluiu e as vítimas, por duas vezes, viajaram para a capital austríaca.

Sempre vestida com roupas de grife e fazendo questão de afirmar ser sobrinha de um renomado cirurgião de Santos, Fabíola pediu para Sami Akl destinar várias obras para a exposição. Mas o resultado só foi frustração. “Não aconteceu nada”, resume Viviane.

Mais prejuízos

As vítimas perceberam que foram ludibriadas com o suposto investimento, devidamente documentado em contrato, quando estavam na Áustria pela segunda vez. Somando os períodos das duas viagens, elas permaneceram naquele país 34 dias.

A prometida inauguração da galeria de artes de Fabíola que não aconteceu só fez acender um sinal de alerta para a paisagista e o artista plástico. Eles pediram a devolução dos recursos investidos, mas até hoje não foram ressarcidos.

Sobre os 30 quadros levados a Viena, Viviane conta que 25 foram recuperados depois de grande logística e gastos para buscá-los. Cinco ainda continuam na Áustria como garantia, porque os acusados não pagaram o profissional contratado para emoldurá-los.

Obras de Sami Akl — Foto: Reprodução

Inquérito policial

O golpe foi apurado em inquérito policial. Nesta fase, Pedro negou a prática do estelionato, mas admitiu que recebeu valores das vítimas, repassando-os para Tiago. Fabíola sequer compareceu à delegacia para ser ouvida.

Tiago confirmou o recebimento dos valores mencionados pelo artista plástico e pela paisagista, mas argumentou que os perdeu em um investimento. Ele também tentou isentar de responsabilidade os demais denunciados.

Além de Fabíola, Tiago e Pedro, mais três homens e uma mulher também foram investigados como envolvidos no golpe. A promotora requereu o arquivamento do inquérito em relação aos quatro últimos por falta de provas.

Entre os que não foram denunciados está o advogado que apresentou as vítimas a Pedro e ao casal de Santos. Para a representante do MP, não há provas de que ele teve intenção de obter ou tenha recebido vantagem indevida.

No entanto, em aparente contradição, a promotora mencionou na denúncia que o próprio advogado declarou ter recebido R$ 7 mil por ter indicado as vítimas aos denunciados, embora ele tenha negado participação no estelionato.

Rede internacional

A advogada Luiza Nagib Eluf representa as vítimas e disse que as investigações devem continuar com rigor para desbaratar a quadrilha, rotulada por ela de “rede de estelionatários internacional”.

De acordo com Luiza Eluf, o avanço das investigações deve trazer à tona mais crimes, como o de lavagem de dinheiro, e identificar outras vítimas. “O delito é de extrema gravidade, porque envolve organização criminosa internacional”.

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