O novo reitor da Universidade de São Paulo (USP), Marco Antônio Zago, afirmou ao G1 neste sábado (28) que o principal desafio dos próximos quatro anos frente à universidade é restabelecer a comunicação entre os estudantes e a direção, que, segundo ele, enfraqueceu ao longo dos últimos anos. "Perdemos a aliança com a grande massa dos estudantes que estão interessados na vida da universidade. Houve uma quebra da comunicação entre os diferentes componentes da USP, particularmente entre estudantes e diretores", diz.
Zago tem 66 anos e é professor titular da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (SP). É membro da Academia Brasileira de Ciências e ex-presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Recebeu o título honorífico de comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico. O pesquisador foi nomeado na quinta-feira (26) pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB), após ter sido o mais votado na consulta realizada no dia 19 de dezembro entre representantes de comissões e professores da universidade.
O recém eleito reitor atribui à falta de comunicação entre os componentes da universidade os principais problemas ocorridos em 2013. Zago cita como exemplo a invasão do prédio da reitoria da USP, em São Paulo (SP) - que ficou ocupado por 42 dias por um grupo de alunos que reivindicavam eleições diretas para reitor. Segundo o pesquisador, o movimento ocorreu justamente por falta de diálogo entre as partes.
"Isso que nós vimos [ocupação da reitoria], a meu ver, é o extremo de uma doença que vem há vários anos corroendo as relações entre as pessoas. Faltou diálogo. Os jovens são inovadores, inquietos, não conformados. E isto é bom, porque é isto que movimenta a sociedade. Só que isso precisa ser feito dentro de um respeito às ideias contrárias, com civilidade, e principalmente na ausência de violência. Por isso nossa prioridade é restabelecer a convivência entre diretoria e discentes na universidade", afirma.
Zago, no entanto, considera que o movimento de ocupação da reitoria foi comandado por grupos cuja postura é mais radical. "São grupos que não têm compromisso com este tipo de diálogo democrático. Eles querem o problema permanente como instrumento de violência. Foi o que aconteceu nessa última invasão. Qual era o argumento? O Conselho Universitário tinha tomado uma decisão, eles não concordaram e queriam que ela fosse anulada. Não foi uma briga com o reitor propriamente dita. Foi uma briga com o conselho, que tem 130 pessoas que representam a universidade inteira", explica.
Crítica ao policiamento
O pesquisador também falou sobre os problemas de segurança e os constantes casos de roubo, invasões e violência nos campi da USP. Para Zago, a universidade está sujeita aos mesmos problemas enfrentados nas cidades em que está presente. "O que ocorre na cidade acontece no campus também. A gente precisa de policiamento para preservar a vida, a propriedade, para evitar a violência. Quem normalmente faz isso é a polícia. Por que nós haveríamos de ser exceção? Temos que aceitar que convivemos com as mesmas dificuldades que vive o resto da população", diz.
O reitor, no entanto, critica o comportamento da polícia em determinadas ocasiões, e considera que isto pode ser prejudicial ao ambiente universitário. "O dilema é que a gente precisa de algum tipo de policiamento, mas a polícia nem sempre se comporta da melhor maneira possível. Muitas vezes desrespeita os Direitos Humanos. Lá [no campus] e fora [do campus]. Nosso papel deve ser, na medida do possível, educar a polícia, criar programas para que eles melhorem a atenção aos Direitos Humanos", afirma.
Zago destaca que a questão também é algo a ser amplamente discutido em seu mandato como reitor. "Não há como fugir da necessidade que temos do policiamento. Por outro lado, temos que levar em conta que a universidade é um território em que a diversidade de ideias tem que ser respeitada de toda maneira. A defesa da vida, da propriedade, não pode representar algum tipo de ameaça à liberdade de manifestação. Esse equilíbrio precisa ser alcançado, e para isso nada melhor que rediscutir a questão da segurança nos campi da USP. E cada campus deve ter medidas diferentes de acordo com sua necessidade", conclui.