Tillandsia uiraretama foi considerada Vulnerável (VU), segundo critérios da IUCN — Foto: Gabriel Marcusso
Descoberta na Ilha dos Alcatrazes, de onde é endêmica, a bromélia Tillandsia uiraretama foi notada como muito diferente das populações continentais. A planta possui flores com pétalas largas, de um tom lilás vivo, que medem até 3,4 cm. Cada inflorescência tem de 8 a 16 flores.
A beleza da espécie condiz com a escolha do nome. Dado pelo povo Tupinambá, o nome "uiraretama" tem origem no tupi e significa "local das aves," em referência às grandes colônias de aves marinhas que habitam o Refúgio de Vida Silvestre do Arquipélago de Alcatrazes, localizado no litoral norte do estado de São Paulo, no município de São Sebastião.
Com origem tupi, nome ""uiraretama" significa "local das aves" — Foto: Gabriel Sabino
A Tillandsia uiraretama é uma planta que cresce principalmente m superfícies rochosas, a cerca de 270 metros de altitude, vivendo sob luz solar intensa e se nutre de micropartículas trazidas pelo ar e pela água. Às vezes, também pode ser vista próxima ao nível do mar ou como epífita (crescendo sobre outras plantas) em fragmentos de floresta da ilha.
A espécie foi analisada e descritas em um estudo publicado na revista Phytotaxa. O trabalho foi conduzido pelos pesquisadores Gabriel Pavan Sabino, Marcio de Melo Leodegario, Gabriel Mendes Marcusso, Nathan Miranda Gazineu David, Ingrid Koch, Danilo Ulbrich Tavares e Fábio Pinheiro, que destacaram a relevância da espécie para a compreensão e preservação de unidades de conservação.
Habitat único
A paisagem da Ilha de Alcatrazes é composta por afloramentos rochosos, vegetação rasteira e trechos de floresta influenciados pela Mata Atlântica costeira. Por conta do isolamento geográfico e da distância do continente, a ilha possui várias espécies únicas de plantas.
Alcatrazes abriga mais de 1.300 espécies, sendo aproximadamente 100 delas ameaçadas de extinção. A área também é conhecida por ser um importante local de alimentação, reprodução e descanso para mais de 10 mil aves marinhas.
"Em ilhas, os organismos ficam isolados do continente, o que favorece o processo evolutivo que diferencia as espécies. Costumamos brincar que a Ilha dos Alcatrazes é uma 'ilha de uma ilha', pois, mesmo durante os períodos glaciais, quando houve conectividade terrestre com o continente, há cerca de 15 mil anos, o ambiente rochoso de Alcatrazes era tão distinto do entorno que, ainda assim, havia isolamento entre as espécies que ali viviam", diz Sabino.
Espécie é o tipo de bromélia mais abundante da ilha — Foto: Gabriel Sabino
Ele acredita que, além da Tillandsia uiraretama, outras espécies desconhecidas pela ciência ainda aguardam para serem estudadas, tendo potencial de contribuir para diversos ramos do conhecimento científico.
A Tillandsia uiraretama é a bromélia mais abundante da ilha, mas sua distribuição limitada à ilha a levou a ser considerada Vulnerável (VU), segundo critérios da IUCN. De acordo com os pesquisadores, seu habitat enfrenta ameaças como a invasão de plantas exóticas e o risco de incêndios, que já foram ocorreram por conta de atividades humanas.
Além disso, o aumento do nível do mar representa um risco adicional para as populações que crescem próximas à linha d’água, como essa bromélia. A partir da publicação do artigo, a equipe espera que a sociedade se mobilize para proteger a Ilha dos Alcatrazes e suas espécies.