Campo e negócios

Por Anaísa Catucci, G1 SC

Criação de abelha sem ferrão em Santa Catarina começa a se popularizar — Foto: Tiago Ghizoni/ NSC

Mandaçaia, jataí e as mirins. Três espécies de abelhas nativas sem ferrão que cada vez mais catarinenses têm adquirido o hábito de criar em casa como um "eco pet". Apesar da prática começar a se popularizar, a criação de espécies nativas exige cuidados e uma consciência ecológica para evitar problemas a longo prazo.

Santa Catarina tem a ocorrência de pelo menos 35 espécies, que possuem tamanhos, cores, formas, hábitos e produção de quantidade de mel distintos. Em levantamento feito pela equipe de apicultura e meliponicultura da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural (Epagri), em 2011, foram encontradas 27 destas espécies, porém nem todas ocorrem em toda a extensão do estado.

Na reportagem conheça cinco pontos sobre a abelha sem ferrão com os seguintes temas:

  1. Primeiros passos e cuidados
  2. Leis de proteção
  3. O que é abelha sem ferrão e características
  4. Ameaças e regeneração dos ecossistemas
  5. Quintais, jardins e negócios criativos

Abelha sem ferrão são criadas em casa por moradores de Santa Catarina — Foto: Stefânia Hofmann/ Arquivo pessoal

Muitas delas acabaram se adaptando a áreas urbanas sem esforço do homem, principalmente as abelhas sem ferrão menores, utilizando além de árvores ocas, frestas em telhados, caixas de luz, batentes de porta e buracos em muros.

"Naturalmente essas abelhas entram em enxameação e multiplicam seus enxames todo ano e procuram novos lugares. Na ausência de árvores grossas o suficiente, que tenham ocos propícios para colher um ninho de abelha, elas vão procurar outros buracos, e acabam se alojando em lugares nem sempre adequados", afirma engenheira ambiental e meliponicultora Stefânia Hofmann.

Engenheira ambiental e meliponicultora Stefânia Hofmann e os filhos com uma caixa de abelhas sem ferrão — Foto: Tiago Ghizoni/ NSC

Uma prática que tem se tornado muito comum é a criação desses insetos em caixas nos quintais e varandas, a chamada meliponicultura. Essa ação ajuda na preservação das espécies, colabora com o equilíbrio do meio ambiente e também fomenta a economia dos pequenos produtores preocupados com negócios de impacto socioambientais.

No entanto, para quem tem interesse é preciso estar de acordo com a regulamentação, acompanhar os estudos sobre a área, ter ambientes adequados para a criação e ter conhecimento para realizar o manejo de forma correta.

Caixa com abelha sem ferrão — Foto: Tiago Ghizoni/ NSC

Seja como passatempo ou para ajudar a salvar a espécie, a criação e o trabalho das operárias podem trazer muitos benefícios para quem as cultiva por conta da produção de mel, um quintal mais florido ou com mais frutas e, é claro, poder observar de pertinho a rotina desses insetos tão importantes para a natureza por conta da polinização (leia abaixo o relato de pessoas que cuidam de abelhas sem ferrão).

Lembre-se que por ser uma espécie nativa também é importante incentivar ações que preservem a espécie no habitat natural. Afinal, manter as espécies na natureza garante benefícios para o criador por conta do melhoramento genético e também proteção dos ecossistemas.

1. Primeiros passos e cuidados

  • Estude sobre as espécies e normas;
  • Conheça as práticas dos fornecedores;
  • Microclima adequado: Não colocar em local onde tenha vento, muito sol ou calor; a temperatura pode chegar até 32°C, mais do que isso não favorece os insetos;
  • Fazer prevenções contra predadores como formigas e aranhas;
  • Observar constantemente o andamento da colmeia e alimentar em época de escassez.

A atividade até pode parecer simples, mas requer atenção às normas da legislação e conhecimento sobre as abelhas, segundo o meliponicultor e engenheiro agrônomo da Epagri Rodrigo Durieux da Cunha (veja normas abaixo).

“A recomendação é que sempre a pessoa busque inicialmente por informação. Nós temos bastante literatura sobre abelhas nativas, por isso antes de ter, é preciso estudar. Além disso, é necessário saber quem são os fornecedores, para isso é possível pegar indicações com a equipe técnica da Epagri ou um meliponicultor [nome dado ao criador de abelhas nativas sem ferrão] experiente”.

2. Leis de proteção

Para Rodrigo, criar abelhas sem ferrão é uma grande responsabilidade, para se ter sucesso na criação e não colocar em risco este insetos que são essenciais para o equilíbrio dos ecossistemas — Foto: Arquivo pessoal/ Rodrigo Durieux da Cunha

Sobre a legislação há uma resolução n° 496 de 2020, do Conselho Nacional do meio Ambiente (Conama) sobre o uso e o manejo sustentável das abelhas nativas sem ferrão, que permite a troca de colônias ou a permuta para o melhoramento genético ou diversificação da espécie para atividade de manutenção de colônias sem finalidade comercial ou econômica, para produtores dentro de um mesmo bioma de até 49 colônias.

Também há regras em âmbito estadual com a lei nº 16.171/2013 e a 17.099/2017, que envolvem a criação, o comércio e o transporte de abelhas sem ferrão. As atividades também devem respeitar as disposições previstas no plano diretor municipal.

Em Florianópolis, por exemplo, a lei municipal n° 10.757 de 2020, estabelece meios de proteção e conservação das abelhas nativas sem ferrão com estações polinizadoras pedagógicas chamadas de Jardins de Polinização Urbana em Parque Ecológico do Córrego Grande, o Jardim Botânico, hortas comunitárias, praças públicas, unidades de conservação, escolas e creches, centros de saúde e os centros de apoio e referência social.

Abelha sem ferrão em casa de Florianópolis — Foto: Stefânia Hofmann/ Arquivo pessoal

Caso ocorra muita movimentação das caixas de locais, o ideal é que seja feito o registro na Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc), que se preocupa com a questão sanitária, porque em caso de doença ou pragas pode ser rastreado e evitar danos.

Entre as leis que protegem as abelhas sem ferrão em Santa Catarina, está a proibição da produção de mudas e o plantio da árvore espatódea (Spathodea campanulata), também conhecida bisnagueira. A planta de origem africana, que foi introduzida no Brasil como árvore ornamental e integra o paisagismo de muitas cidades catarinense, tem uma substância nas flores com ação inseticida que pode ser tóxica para abelhas sem ferrão.

3. O que é abelha sem ferrão

Caixa com abelhas sem ferrão criada em casa de moradora de Florianópolis — Foto: Tiago Ghizoni/ NSC

Os meliponídeos, que chamamos popularmente as abelhas sem ferrão, abelhas nativas ou abelhas indígenas, são abelhas sociais que vivem em colônias e caracterizam-se por apresentar o aparelho ferroador atrofiado. Existem no mundo aproximadamente 400 espécies dessas abelhas, no Brasil aproximadamente 300 espécies.

Segundo a Epagri, em Santa Catarina ocorrem naturalmente pelo menos 35 espécies, porém por ter exigências específicas em relação às condições climáticas, muitas espécies são encontradas somente em determinadas regiões.

Diretor de meliponicultura da Federação das Associações de Apicultores e Meliponicultores de Santa Catarina (Faasc), Sigfrid Fromming — Foto: Sigfrid Fromming/ Arquivo pessoal

O diretor de meliponicultura da Federação das Associações de Apicultores e Meliponicultores de Santa Catarina (Faasc), Sigfrid Fromming, orienta que a escolha pela espécie para ter em casa deve levar em consideração a opção por abelhas nativas catarinenses.

"Escolha as que já existem na região. Em termos gerais tem as opções das mandaçaia, as mirins e a jataí para apartamento. Em casa, com um quintal maior, é possível ter tubunas e se tiver lugar mais úmido, teria as guaraipos. Para a parte mais Oeste do estado tem a iraí, a borá para espaços amplos.

As práticas são tanto para as pessoas que querem criar os insetos no conforto do lar ou pequenos produtores comprometidos com a sustentabilidade e se comprometem com o impacto que geram.

Fromming também detalha que há espécies que se defendem quando são ameaçadas e podem incomodar como enroscar em cabelos.

"Qualquer pessoa pode criar abelhas sem ferrão em casa. Sabemos que muitas pessoas têm pânico ou pavor pelo simples fato de chamar abelha por associar a abelha com ferrão. Para essas pessoas a criação é contraindicada".

Abelhas sem ferrão criadas pelo meliponicultor Sigfrid Fromming — Foto: Sigfrid Fromming/ Arquivo pessoal

O técnico em agropecuária Ivanir Cella, que é extensionista rural na Epagri e presidente da Faasc, reforça a atenção em escolher espécies que estejam adaptadas ao microclima de onde elas vão ser colocadas.

"Já que vai ser um lugar artificial, não é um lugar que a abelha faz a escolha, é necessário ter uma caixa adequada com uma espessura suficiente para ter um conforto térmico e espaço suficiente. Agora para quem pensa em fazer o manejo, reproduzir e formar novas colônias para aumentar o plantel, precisa ter uma melhor capacitação, porque as abelhas que vivem em colônias têm uma sociedade bastante complexa e qualquer intervenção que seja inadequada vai ter problemas".

Ivanir Cella, que é extensionista rural na Epagri e presidente da Faasc — Foto: Faasc/ Divulgação

Veja abaixo algumas características das abelhas nativas:

  • Recebem esse nome por terem o ferrão atrofiado, são incapazes de ferroar; no entanto é preciso ter cuidado, pois algumas espécies são mais defensivas e acabam dando pequenas mordiscadas, enrolando no cabelo, grudando própolis e isso pode causar incômodos;
  • Fácil manejo e hábito social;
  • Podem ser criadas em áreas rurais e urbanas;
  • Conhecida por ser polinizadora mais eficiente do que a exótica Apis mellifera (com ferrão);
  • Em torno de 90% das espécies da Mata Atlântica dependem das abelhas em ferrão para se reproduzirem, segundo a Epagri;
  • Estão divididas em duas grandes tribos: a Trigonini e a Meliponini. Cada tribo possui uma estrutura que a identifica na entrada do ninho. A Trigonini constrói um pito com cerume na entrada e a Meliponini faz raios salientes de barro ou geoprópolis ao redor da entrada que, por sinal, permanece sempre protegida pelas sentinelas.

4. Ameaças e regeneração dos ecossistemas

A maior causa de perda de biodiversidade em geral é a destruição do habitat natural das espécies. As abelhas sem ferrão estão ameaçadas com a derrubada de florestas, com as queimadas, com o aumento das áreas de monocultura e pastagens, o avanço das cidades e o uso abusivo de agrotóxicos.

"O uso de pesticidas é uma das principais causas do sumiço das abelhas no mundo inteiro. Além dessas a ação predatória de remoção de ninhos naturais também é uma grande ameaça à população das espécies nativas", disse Stefânia.

Para a engenheira ambiental, quando ocorre a criação de abelhas sem ferrão em cidades pode-se reinserir as espécies em locais que antes elas existiam em abundância.

"Criando abelhas nas cidades a gente ajuda na regeneração dos ecossistemas do meio urbano através da polinização, a gente torna o processo de polinização mais efetivo com a presença dessas abelhas, isso faz com que as matas no meio urbano também contenham uma resiliência maior, uma autorregeneração mais eficiente, mais potencializada".

5. Quintais, jardins e negócios socioambientais

Milena, Renan e os filhos Joaquim e Benjamim tem em casa uma criação de abelhas sem ferrão — Foto: Milene Priscila Lima de Oliveira/ Arquivo pessoal

Desde criança, a analista ambiental Milene Priscila Lima de Oliveira, de 34 anos, gosta de observar a natureza e lembra que ficava encantada com as abelhas jataí que encontrava em árvores. Antes de começar a criação de abelhas em casa, ela precisou se familiarizar e aprimorar os conhecimentos sobre as abelhas. Ela buscou orientações por meio de consultorias para cuidar dos insetos em diferentes épocas do ano.

"Moro em um apartamento no térreo e não precisei fazer nenhuma alteração, só coloquei a caixinha na sacada. Eu também fiz um curso para ter os cuidados, onde colocar, como fazer a transferência, que me deu muita base para começar", explica.

Milene conta que o marido Renan Alcamin de Freitas, de 36 anos, e os filhos Joaquim e Benjamim, de 7 e 4 anos, aprenderam muito com a observação do comportamento das abelhas e estudam a proposta de ampliar as colmeias no condomínio, já que moram próximo de uma área verde em Florianópolis.

"Ficamos com esse olhar mais apurado para observar a ocorrência de abelhas. Será uma oportunidade para as outras pessoas também aprenderem com as abelhas. De modo geral, ter uma colônia de abelhas sem ferrão em casa nos ajuda a compreender de forma prática que tudo tem seu tempo e que todos têm sua função, diferentes mas nenhuma menos importante. Exemplificando com as abelhas, tem a rainha, as princesas, os zangões, as operárias, e a função de todas elas é essencial e isso a gente vai propagando em toda a natureza, na nossa vida e é muito gratificante ver o trabalho delas de polinização, eu fico encantada".

Joaquim observa caixa com abelhas sem ferrão que ajuda a cuidar em casa — Foto: Milene Priscila Lima de Oliveira/ Arquivo pessoal

O filho mais velho dela ajudou a fazer um jardim com plantas aromáticas e também afirmou que fica de olho na colmeia para evitar ataques de outras abelhas.

"O melhor é deixar elas em ambientes do lado de fora e perto de jardins. Se cuidarmos muito bem delas, elas podem produzir mel pra gente como alimento", disse Joaquim. O caçula também já conhece a espécie que tem no quintal e elogiou o mel produzido. "É muito gostoso", aprova Benjamim.

Caixa de abelha sem ferrão da família da Milena em Florianópolis — Foto: Milene Priscila Lima de Oliveira/ Arquivo pessoal

Milena afirma que o mel é apenas um "bônus" do que as abelhas promovem e que faz poucas intervenções e raras retiradas do alimento das abelhas da caixa.

"Elas são muito importantes na nossa alimentação por mais que a gente não consuma o mel diretamente, indiretamente a gente consome muito do que elas produzem porque elas estão lá diariamente polinizando cada florzinha e para poder ter o fruto, primeiro precisa ter a polinização".

Ramon, Daiane, Benjamin e Jair — Foto: Ramon Viana de Souza/ Arquivo pessoal

O meliponicultor Ramon Viana de Souza, de 39 anos, de São Francisco do Sul, no Litoral Norte, conheceu as abelhas sem ferrão por acaso, na entrada de um galpão da propriedade do seu pai, Jair Medeiros de Souza, de 62 anos, no Iperoba. Ele foi pesquisando mais sobre o inseto que se mantinha em um lugar nada propício, em um trono que era utilizado como passagem para o carro na entrada da garagem, e descobriu que se tratava da espécie jataí.

Ramon conta que inicialmente para salvar os insetos buscou informações na Associação de Meliponicultores (AME) de Joinville e na internet. Depois fez cursos, participou de palestras e chegou até mesmo a fazer um curso profissionalizante em meliponicultura pelo Instituto Federal Catarinense (IFC). Assim que foi aprendendo mais sobre as abelhas sem ferrão, ele também acabou ampliando a quantidade de colmeias e também resolveu empreender na área.

Atualmente, são 22 espécies de abelhas nativas e um total de 300 colônias, que formam o meliponário "Airetama", que vem do tupi-guarani e quer dizer "casa das abelhas".

"Instalamos as colmeias pela varanda da casa, pelo jardim, em vários locais. Poder criar abelhas sem o risco de ser ferroado já que as espécies nativas não possuem ferrão é encantador e contagia todo mundo, a maior atração é tomar mel de canudinho direto na caixa das abelhas".

Ele indica para os iniciantes na criação de abelhas sem ferrão que tenham uma boa diversidade de plantas que florescem em épocas diferentes do ano para garantir a alimentação. "No inverno tem pouca oferta de alimento, então ajudamos as abelhas com uma alimentação de água e açúcar".

Benjamin de 3 anos tomando mel de canudinho na colmeia de abelhas mandaçaia — Foto: Ramon Viana de Souza/ Arquivo pessoal

Ele explica que as abelhas não só mudaram as relações dentro de casa, como também de parentes e vizinhos. Além disso, disse que reforçou o valor da consciência para a preservação, que acabou incentivando o surgimento de ideias inovadoras.

"O amor pelas abelhas virou fonte de renda para nós, hoje comercializamos a Caixa 'Airetama' fabricada em fibra de coco e bioplástico e colmeias para quem está iniciando na criação. Lembrando que retirar abelhas de ninhos naturais é crime ambiental, portanto é preciso adquirir as primeiras com criadores autorizados. Mas a criação é fácil muitos têm criado como 'pet' com a praticidade como poder sair de casa e saber que elas estão livres para se alimentar e ajudar a natureza".

A criação de espécies compatíveis com o bioma da região está inserida no projeto "Caminhos de São Chico", em que crianças da rede municipal de ensino fazem visitas e conhecem as abelhas e seus benefícios. cria espécies compatíveis com o bioma da região.

Caixa 'Airetama' feita em fibra de coco e bioplástico — Foto: Ramon Viana de Souza/ Arquivo pessoal

A engenheira ambiental e meliponicultora Stefânia Hofmann também resolveu investir em reconectar as pessoas com a natureza por meio da criação de abelhas nativas sem ferrão.

""Gosto de olhar para as abelhas como uma ferramenta de educação ambiental e também como grande fonte de inspiração, de trabalho, de organização social, as abelhas são animais muito simbólicos em muitas culturas".

Criação de abelhas sem ferrão propicia experiências para a família e também para promovem "ganhos sistêmicos" para o meio ambiente — Foto: Tiago Ghizoni/ NSC

A ideia do projeto da startup URBEES surgiu quando Stefânia conheceu as abelhas nativas sem ferrão em 2019 e percebeu que poucas pessoas sabiam da possibilidade de criá-las em casa com facilidade. Além de informações na área, ela contou com o auxílio do Programa Sebrae Delas Mulher de Negócios.

"É uma caixa pequena, que tem 30 centímetros de lado e de altura, que você pode colocar na sacada do apartamento, no quintal de casa, o espaço não precisa ser grande. Uma abelha dessa voa em busca de alimento e consequentemente polinizando as plantas de um raio de 500 metros a 2 quilômetros no entorno da sua casa".

Abelhas sem ferrão são criadas no quintal da casa da família — Foto: Tiago Ghizoni/ NSC

Ela conta que no quintal atualmente tem 40 colmeias que propiciam experiências para a família e também para promovem "ganhos sistêmicos" para o meio ambiente.

"A gente passa a plantar mais, a cuidar mais do ambiente, a mudar a nossa forma até de consumo. A gente cria uma rede de regeneração dos ambientes urbanos. O projeto tem o propósito de trazer essas abelhas de volta para o convívio das pessoas, regenerar os ecossistemas locais, e regenerar a conexão das pessoas com a natureza".

Por conta da pandemia, o negócio contou com o apoio das redes sociais para divulgar as informações sobre a criação e também manejo das colmeias. Desde a fundação, já são mais de 130 famílias praticando a meliponicultura em Florianópolis e outras cidades do estado, regenerando cerca de 70 mil hectares urbanos graças à ação das abelhas.

Eduardo Dellangelo Silveira, do Meliponário Biguaçu — Foto: Eduardo Dellangelo Silveira/ Arquivo pessoal

Na Grande Florianópolis, em Biguaçu, Eduardo Dellangelo Silveira tem mais de 400 colmeias e mais de 20 espécies de abelhas sem ferrão em casa, que tem uma área verde. Há cerca de dez anos, ele lembra que começou a criar abelhas nativas ao se deparar com uma colmeia durante obras que estava realizando no terreno.

"Estava fazendo uma vala e estava utilizando bambu para fazer um dreno, quando vi que tinha uma colmeia que acabou caindo no chão. Antes que elas morressem eu coloquei elas dentro de uma caixa, que tenho até hoje. Depois tive duas mais comuns na região e fui conseguindo outras espécies. Sempre a intenção é a preservação de espécie, multiplicação para não se perder, não se acabar, por conta do risco de extinção".

Eduardo tem mais de 400 colmeias e mais de 20 espécies de abelhas sem ferrão na propriedade — Foto: Eduardo Dellangelo Silveira/ Arquivo pessoal

Com o passar dos anos, ele foi tomando gosto pela meliponicultura e hoje a criação de abelhas complementa a renda familiar com o Meliponário Biguaçu. Além da venda dos enxames, ele recebe escolas, universidades e visitantes que querem conhecer sobre as abelhas nativas ou comprar uma caixa para ter em casa. Ele não comercializa o mel das abelhas.

“A abelha não respeita cerca, por isso que dá para ter em apartamento, elas não param pois trabalham o tempo todo e dormem muito pouco por dia. Hoje muitas pessoas buscam esse tipo de abelha por conta do incentivo da polinização em culturas como morango, laranja, tomate”.

Silveira explica que as abelhas operárias, por exemplo, têm uma média de vida de 28 a 42 dias. Já as rainhas podem viver até 5 anos e são substituídas ao longo do tempo. "Então elas [colmeias] podem viver durante anos, há relatos de mais de 50 anos", afirma.

Eduardo mostra criação de abelha sem ferrão em Biguaçu — Foto: Eduardo Silveira/ Arquivo pessoal

Por conta disso, Silveira disse que ajuda as pessoas que adquirem os enxames com ele por meio de grupos no WhatsApp e também acaba ensinando sobre as principais práticas de manejo.

"Tem crescido muito a procura por abelhas sem ferrão em Santa Catarina, principalmente de pessoas que estão preocupadas com a natureza. Não tenho percebido uma desistência das pessoas ao adquirir uma caixa e sim que acabam buscando outras para aumentar".

Espécies nativas e sociais: criação de abelhas sem ferrão em casa ganha adeptos em SC — Foto: Reprodução

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