Os funcionários do Centro Paula Souza, na região central de São Paulo, deram um "abraço" coletivo no prédio nesta terça-feira (3). Eles foram para o local no início da manhã, mas não conseguiram entrar no prédio e foram dispensados do trabalho.
Estão ocupadas as Etecs: São Paulo, no Bom Retiro, Basilides de Godoy, na Vila Leopoldina, e St. Ifigênia, que funciona junto com a sede. Nas redes sociais, há relatos de ocupação nas Etecs: Paulistano, Pirituba, Jaraguá e Embu.
Os estudantes se reuniram em assembleia para definir os rumos da ocupação durante a manhã e decidiram não liberar a entrada dos funcionários. Em jogral, os jovens afirmaram que a "luta é unificada", mas decidiram não liberar a entrada dos funcionários para "preservar o carater da ocupação até que as reivindicações sejam atendidas".
Estudantes ocupam o local pelo sexto dia. Os jovens protestam contra os esquemas de desvios de verba para a compra da merenda escolar, contra a precarização da educação, os problemas com merendas nas Etecs e Fatecs e os cortes nos repasses para a educação.
Durante a madrugada, os estudantes ficaram circulando pelos três andares do prédio. Alguns deles, enrolados em cobertas e com o rosto tampado, montaram acampamento do lado de fora.
A diretora-superintendente da instituição, Laura Laganá, também esteve no local pela manhã e participou do abraço coletivo. "Nós estamos abraçando a educação profissionalizante de São Paulo", disse. "Eles sao muito autoritários. Só não podem impedir o funcionamento de 300 escolas que prestam um serviço muito bom. Eles danificaram portas, cameras, extintores. É delicado", afirmou.
Laganá afirmou que propõe diálogo com os estudantes, mas eles não querem conversar. Ainda segundo a diretora, o vice- governador gostaria de encontrar os jovens, mas eles também não teriam interesse em conversar. Já os estudantes afirmam que temem sofrer retaliação.
"Ontem, o que a polícia fez foi garantir a entrada dos funcionários, que trabalharam a tarde toda. Caso contrário, não teria folha, bonificação e vale transporte para 20 mil pessoas. É muito sério. Já tem merenda em todas as escolas. Fizemos uma forca tarefa para chegar merenda nas 3 que faltavam. Estamos nos esforçando, mas também não dá para construir 50 cozinhas em 15 dias", disse a diretora.
No prédio ocupado pelos estudantes funciona a administração de 300 escolas técnicas do estado de São Paulo. O Centro Paula Souza é uma autarquia do governo do Estado de São Paulo, vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação (SDECTI). A sede ocupada pelos estudantes reúne a administração central do Centro Paula Souza, a Etec Santa Ifigênia e o Centro de Capacitação.
PM entra no local
Na segunda-feira (2), a Polícia Militar entrou no edifício no fim da manhã para garantir que os funcionários voltassem a trabalhar e permaneceu no local por cerca de dez horas. O secretário da Segurança Pública de São Paulo, Alexandre de Moraes, acompanhou toda a ação.
A PM entrou no local apoiada por uma liminar de domingo (1º), expedida pelo Juiz Fernando Franco, da décima quarta Vara da Fazenda Pública. No texto, o juiz determinou o cumprimento da ordem de reintegração, mas alertou para que a ação fosse efetuada com todo cuidado possível para evitar confrontos desnecessários e qualquer tipo de violência.
No entanto, a entrada da PM aconteceu o antes que o oficial de Justiça cumprisse o mandado e notificasse os alunos. Por conta da entrada da PM antes do cumprimento do mandado, o juiz Luis Manuel Pires, da central de mandados, mandou suspender a reintegração, pois o documento ainda não havia sido expedido e cobrou explicações da SSP. O governo tem até a tarde de quinta-feira (5) para apresentar os esclarecimentos.
No início da noite, a Justiça de São Paulo deu 72 horas para que a Secretaria da Segurança Pública explique a ação da Policia Militar, que entrou na sede do Centro Paula Souza sem mandado judicial.
Alckmin
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), disse que a ocupação do Centro Paula Souza “não tem sentido”. Em evento sobre supermercados no Expo Center Norte, na capital, o tucano acrescentou que os estudantes pretendem ter aula. “O que os alunos querem é estudar”, afirmou. "Não há nenhuma razão para uma escola ser ocupada. Não tem causa, não tem sentido."
Sobre as merendas nas Etecs, o governador disse que o problema foi resolvido. “O curso técnico é médio ou pós-médio, então, quando foi concebido lá atrás, não tinha merenda. Mas nós resolvemos fazer. Das 212 [unidades], faltavam sete. Hoje nós completamos a sétima. Então não há razões para essas ocupações.”
Durante a tarde desta segunda, políticos visitaram os estudantes na ocupação. A primeira a chegar foi a deputada federal Luiza Erundina (PSOL), que prestou solidariedade aos estudantes. Parte dos alunos, porém, criticou a atitude da parlamentar dizendo que o movimento não tem ligações políticas. O deputado estadual Carlos Giannazi, também do PSOL, chegou logo depois, seguido pelo ex-senador Eduardo Suplicy (PT). Assim como aconteceu com Erundina, parte dos ocupantes criticou a ida dos dois até a sede do Centro Paula Souza.
Nota
Em nota divulgada na segunda-feira (2), o Centro Paula Souza informou que 100% das Etecs passariam a oferecem alimentação escolar. Segundo a nota, está sendo criada uma Comissão Intersetorial de Governança da Alimentação Escolar com o objetivo de discutir e implementar propostas de melhorias imediatas na distribuição e oferta de alimentação escolar. A instituição, porém, afirma que o fornecimento de tíquetes ou vales-alimentação reivindicados pelos alunos é inviável.