Historiadora, filha mais velha e, sobretudo, mulher, a professora universitária de Roraima Carla Monteiro, de 57 anos, relembra com orgulho o dia em que em que apresentou a tese de doutorado. Foi num 8 de março, Dia Internaci onal da Mulher, celebrado nesta quarta-feira (8). A apresentação, além de ter lhe garantido o título de doutora, a marcou pelo resto da vida. "Ser mulher hoje é melhor do que era há 100 anos, mas ainda é um desafio", diz.
"Foi em 8 de março de 2004 que apresentei minha tese de doutorado. Não fui em eu que escolhi a data da apresentação, foi totalmente coincidência e, apesar de minha pesquisa não estar relacionada com o tema, foi um momento de conquista, de consagração da minha carreira e por isso me marcou bastante", conta.
Nascida em 1959, a professora que pesquisa migrações e a história de Roraima, se considera feminista desde os tempos em que cursou o nível superior na terra natal, o Rio de Janeiro. Antes de ingressar no magistério foi recepcionista e bancária, mas diz que se encontrou na profissão. "Ser professora é o que me completa", diz. A historiadora decidiu abrir mão da maternidade. Ela diz que a escolha não teve relação com a vida profissional.
Com o tempo, adentrou num meio ainda considerado muito masculino: a docência na universidade. "A profissão de professora ainda tem uma carga muito feminina. No meio universitário, porém, não é bem assim, porque ele ainda está muito relacionado ao meio da ciência, que ainda é tido como muito masculino", explica.
Com título de doutora em história e professora da Universidade Federal de Roraima, ela acredita que ser mulher hoje é melhor do que era há 100 anos, quando as mulheres precisavam estar constantemente sob a tutela de um homem.
"As mulheres há 100 anos eram consideradas pessoas que deveriam ser tuteladas, protegidas. Aquela velha história, a mulher tinha que sair da tutela do pai para ficar sob a tutela do marido e, ao longo desses 100 anos, essa situação foi mudando. Hoje, a mulher tem um papel garantido na sociedade, tem autonomia e tem direitos garantidos, o que ainda falta é a igualdade de direitos", explica.
A professora considera que nos últimos anos a mulher conquistou espaços e direitos que antes lhe eram inacessíveis. No entanto, ela defende que muito precisa ser mudado para que a tão almejada igualdade de direitos seja atingida.
"Homens e mulheres não são iguais, mas é possível atingir uma plena igualdade de direitos. Acredito que nos últimos anos houve avanços como a Lei Maria da Penha. Porém, assim como outras medidas, ela esbarra na aplicabilidade, que ainda precisa melhorar bastante".
No entendimento dela, ainda há muitas barreiras a serem superadas pelas mulheres. Uma delas é a dificuldade que muitas ainda enfrentam para entrar e se manter no mercado de trabalho.
"Há muitos patrões que não querem contratar mulheres porque acreditam que elas, por terem filhos, por exemplo, possam render menos no trabalho. Também temos que superar a barreira do salário, porque ainda existem muitas mulheres ganhando menos que homens. Há pesquisas e estatísticas que comprovam isso. Além disso, muitas vezes as mulheres se autoboicotam quando dão uma educação machista para os filhos. Isto precisa ser revisto por cada uma de nós para que possamos atingir a igualdade de direitos".
Por fim, Carla Monteiro também defende que as mulheres precisam sempre e, sobretudo, acreditar na própria capacidade para então mudar a realidade e conquistar cada vez mais espaço na vida pública.
"Ser mulher hoje em dia é um desafio. De um papel de esposa, mãe, a mulher que tinha todas as suas atribuições no espaço doméstico, privado, foi progressivamente saindo, rompendo essas barreiras e ganhando espaço no mercado de trabalho e na vida pública. E isso significa um desafio, porque ao mesmo tempo que a mulher mudou, em muitos casos ela ainda é responsável pelo lar. Nós ainda temos todas aquelas pressões da vida doméstica, que é a dupla ou tripla jornada. Eu acho que isso é um verdadeiro desafio".